II Guerra Mundial: o caso do espião madeirense pró-nazi
Foi o Publico, pela mão da jornalista Maria José Oliveira, numa excelente reportagem intitulada "Primeiro Lahneck, depois Gil Eannes" quem nos recordou - em muitos casos divulga pela primeira vez - episódios ligados a um espião madeirense pró-nazi, e às suas peripécias na II Guerra Mundial: "O ficheiro pertence à categoria Agentes secretos alemães e suspeitos, ostenta o código KV 2/2946 - 2947 e foi transferido ontem dos arquivos do MI5, os serviços britânicos de segurança interna, para os Arquivos Nacionais do Reino Unido. Até aqui nada de novo. Até porque a desclassificação de documentos do MI5 contabiliza já mais de quatro mil registos. Contudo, desta vez, ao lado do código surge um nome português - Gastão de Freitas Ferraz, um operador de comunicações da Marinha portuguesa que, notava a imprensa mundial, mudou o rumo da II Guerra Mundial. Ou melhor, a captura e prisão deste homem que fez trabalhos de espionagem ao serviço da Alemanha nazi terão contribuído para apanhar desprevenidas as tropas alemãs e francesas estacionadas no Norte de África. Nos primeiros dias de Novembro de 1942, e uma semana depois de ter sido detido pela Marinha britânica durante uma operação em alto mar, a bordo do navio Gil Eannes, onde trabalhava, as tropas britânicas e norte-americanas desembarcaram em Marrocos e na Argélia, dando início a longos combates que só terminaram em 1943, com a derrota do exército nazi. A agência Associated Press citava o historiador Cristopher Andrew, professor na Universidade de Cambridge e autor convidado para escrever a história do MI5, para sublinhar a importância da detenção de Freitas Ferraz. Apontando que as forças lideradas pelo general alemão Erwin Rommel (recorte) estavam longe de imaginar que o ataque dos Aliados seria feito no Norte de África (julgavam que estes apontavam o alvo para França e Noruega), Andrew salientou que a crença alemã não teria acontecido, "se Freitas Ferraz não tivesse sido capturado": "Ele estava no encalço das tropas do [general George] Patton e teria informado os alemães sobre o rumo dos norte-americanos." Capturado em alto marGastão de Freitas Ferraz entrou ontem na constelação dos espiões mais famosos que operaram durante a II Guerra Mundial. Mas a história deste agente que informava os serviços secretos alemães sobre os movimentos dos navios Aliados no Atlântico, a troco de uns valiosos (para a época) 15 mil escudos, não é nova. Rui Araújo, jornalista e ex--provedor do leitor do PÚBLICO, escreveu abundantemente sobre este caso no livro O Diário Secreto Que Salazar não Leu (Oficina do Livro), publicado em Outubro do ano passado. Nesta obra, Araújo, que vasculhou arquivos nacionais e estrangeiros, conta a história detalhada do Gil Eannes e persegue o trajecto biográfico de Freitas Ferraz. Este, pode ler-se no livro, transmitia as suas informações para uma rádio clandestina localizada na zona do Estoril e mantida por dois operacionais alemães. Estes dados não constam, porém, do documento disponibilizado nos Arquivos Nacionais britânicos, em cujo site se pode ler que os documentos agora abertos ao domínio público não se encontram em bom estado e a sua leitura é difícil. A abertura da ficha do espião permite aceder a um depoimento biográfico escrito na primeira pessoa e a uma confissão sobre os seus trabalhos de espionagem - depois de ter sido detido, foi levado para Gibraltar e depois para o Campo 020, um estabelecimento dos serviços secretos britânicos, situado nos arredores de Londres. Freitas Ferraz ficou ali prisioneiro até Setembro de 1945 e foi deportado no mesmo ano. Só em 1953 o seu nome foi rasurado de uma lista de deportados até então impedidos de viajar para a Grã-Bretanha. E dois anos depois o MI5 arquivou o seu ficheiro". Vale a pena ler
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