Em 1978, o jornalista Luís Jardim liderou uma comissão organizadora que levou a cabo no Funchal o I Seminário de Jornalismo da Madeira, uma oportunidade para um debate sobre todos os desafios e problemas que então se colocavam ao jornalismo madeirense. Vários especialistas estiveram na Madeira e algumas orientações foram aprovadas. Falou-se de tudo, particularmente da formação profissional e da mudança empresarial. Poucos anos depois, o jornalista Catanho Fernandes foi o responsável pela presença em massa da Madeira num encontro de jornalismo realizado em Ponta Delgada, onde se passou a uma abordagem dos problemas do jornalismo ilhéu e não especificamente da Madeira e se deram os primeiros passos com vista ao reforço dos contactos entre os profissionais das duas regiões. Passados estes anos todos, nunca mais – salvo um encontro que viria a acontecer há uns anos no Funchal, segundo creio – iniciativas do género tiveram lugar. Mas a verdade é que as mudanças foram enormes no sector da comunicação social, as novas tecnologias avançaram e ocuparam um espaço que todos os dias cresce, nalgumas situações ameaçando a continuidade de alguns sectores das estruturas organizativas das empresas, a licenciatura em comunicação social generalizou-se a praticamente todas as universidades – há mesmo licenciados sem colocação profissional e a realidade parece tender a agravar-se - e os desafios hoje são de tal modo que passou-se a um patamar muito mais perigoso, o da discussão da sobrevivência que começa a adquirir contornos urgentes. A crise económica tem repercussões no mercado publicitário, reduzindo as receitas, a falta de poder de compra das pessoas regra geral sacrifica as assinaturas, a Internet, os blogs e as novas redes de comunicação, representam um desafio à imprensa de proporções imprevisíveis, enfim, existem motivos mais do que suficientes para que em meu entender os jornalistas voltem a reunir-se e a debater. O Sindicato dos Jornalistas perdeu espaço e influência, limitando-se regra geral a ir a reboque dos factos á medida que eles ocorrem, mas sem grande sucesso na sua luta em defesa da classe e dos postos de trabalho, a Caixa de Previdência dos Jornalistas, uma das maiores conquistas, foi extinta, o perfil profissional do jornalismo mudou radicalmente, há mais competição, há guerras diárias pelas audiências, há disputas entre jornais, há espaços comuns disputados palmo-a-palmo pela imprensa, rádio e televisão, há despedimentos que se concretizam, há ameaças de encerramento de empresas, há sobrevivências cada vez mais em causa, enfim, há uma nova realidade que mais tarde ou mais cedo, por exemplo, poderá reintroduzir a questão do envolvimento do sector publico na comunicação social. Porque motivo o Estado só tem que estar numa rádio, numa televisão e numa agência de notícias públicas? Hoje na Madeira, por exemplo, discute-se o envolvimento do Governo Regional no Jornal da Madeira, e os efeitos daí resultantes na concorrência (leia-se no DN, já que o Diário Cidade, gratuito, é de edição mais recente), não por razões novas mas por muito do que acabo de referir. À medida que aumentam as dificuldades empresariais num lado, as atenções desviam-se para outro, neste caso para a questão do JM que eu admito deve ser resolvida, a tempo, sem pressões, sem imposições de modelos por via legislativa, sem que atribuam um período de transição para que sejam tomadas medidas. Por outro lado, desconfio da legalidade de uma lei que, podem crer, que ainda não terminou a respectiva “novela”… Apesar de tudo o JM despediu este ano mais de 20 pessoas, na sequência de uma recomendação constante de um estudo de viabilidade económica que eu sei se realizou também noutras empresas mas que terá ocultado devido ao impacto ameaçador das conclusões obtidas. Outras empresas não estão solidamente implantadas. A situação da rádio é complexa pois salvo a RDP – que em breve disporá de mais meios – ninguém pode falar no sucesso empresarial e editorial de qualquer dos projectos ainda vigentes. Pelo contrário, sei que 2008 foi um mau ano para as rádios locais e que 2009 poderá ser, nalguns casos, catastrófico. O Noticias da Madeira fechou apesar de parecer inicialmente ser um projecto com possibilidades de vincar. O Desporto Madeira, depois de anos de resistência, suspendeu a sua publicação. O Garajau, jornal específico, como é sabido e com uma componente contestaria que o diferencia dos demais títulos, passou de quinzenário a mensal e pode nem sequer ficar por aqui. O Governo central reduziu em cerca de 2 a 2,5 milhões de contos – repito, de contos – o volume de publicidade na comunicação social – com a criação de uma espécie de central de anúncio de decisões que priva a comunicação social de receitas importantes. Julgo que as novas tecnologias representam uma nova aposta, com potencialidades, uma aposta que parece não estar a ser devidamente valorizada, quer tecnicamente, quer sobretudo na canalização de recursos humanos e no aproveitamento dos sites.
Julgo, portanto, e finalmente, que poderá ter chegado o tempo para que o jornalismo madeirense esqueça, de novo, tal como em 1976 – embora então de uma forma menos ténue – divergências e concorrência, e encontre condições para se reunir a uma mesa, discutindo abertamente, olhos-nos-olhos, a realidade do sector, sem tabus, sem condicionalismos, propondo recomendações ou soluções, antecedidas de uma análise a todas as suas potencialidades e fragilidades. É isso que eu penso, porque admito que poderia ser útil. Mas não me compete a mim adiantar mais seja o que for. Em 1976 estive na organização desse Seminário. Hoje por razões éticas e pessoais, isso seria impensável e intolerável.
Julgo, portanto, e finalmente, que poderá ter chegado o tempo para que o jornalismo madeirense esqueça, de novo, tal como em 1976 – embora então de uma forma menos ténue – divergências e concorrência, e encontre condições para se reunir a uma mesa, discutindo abertamente, olhos-nos-olhos, a realidade do sector, sem tabus, sem condicionalismos, propondo recomendações ou soluções, antecedidas de uma análise a todas as suas potencialidades e fragilidades. É isso que eu penso, porque admito que poderia ser útil. Mas não me compete a mim adiantar mais seja o que for. Em 1976 estive na organização desse Seminário. Hoje por razões éticas e pessoais, isso seria impensável e intolerável.
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