sexta-feira, maio 02, 2008

Madeira, os pobres, o PCP e o Bloco de Esquerda (II)

Já agora, e a "reboque" da clarificação da posição do Bloco de Esquerda-Madeira sobre este tema, o que dizem os autores do tal estudo?
"Padrões de Territorialização
O fenómeno da pobreza encontra-se disseminado pelo território nacional. Contudo podemos verificar a existência de espaços de maior concentração de grupos pobres, onde se aglomeram as categorias mais vulneráveis: trabalhadores de baixos salários, famílias monoparentais, isolados, idosos pensionistas, pessoas de menores qualificações, grupos com orientações culturais mais ou menos marginais. Desta forma, devido à escassez de recursos e a um sentimento de afinidade das opções tomadas face a oportunidades de residência efectivas, estas populações acabam por ocupar áreas desfavorecidas. Estas áreas são particularmente visíveis quando têm a forma de bairros degradados que contrastam com o meio urbano e semi-urbano, ao contrário do que se passa com as áreas rurais deprimidas do interior mais “diluídas na paisagem”. O meio rural apresenta uma incidência da pobreza de 29,4%, estando este valor acima da média nacional em 9 pontos percentuais e significando mais do dobro do mesmo valor para o meio urbano. As zonas semi-urbanas encontram-se mais perto da média, com 18,8% daquela taxa. Contudo, é necessário olhar a importância deste fenómeno nos diferentes territórios, pois nas zonas urbanas residem cerca de 40% das pessoas e famílias pobres, contra 35% em zonas semi-urbanas e 25% em meio rural. Ao analisar os contornos da pobreza em Portugal devemos ter em atenção o facto de nem sempre as regiões onde se regista uma maior intensidade do fenómeno serem aquelas onde se encontra um maior número absoluto de pessoas nesta situação. O caso das Regiões Autónomas é disso prova evidente. Sendo as mais afectadas pelo risco de pobreza, o peso dessas regiões no conjunto dos pobres em Portugal não ultrapassa os 4%. Em situação semelhante se encontra o Algarve, Alentejo e Centro, com 25%, 22,5% e 24% de risco de pobreza, todos superiores à média. Nos dois primeiros casos a contribuição para o número de pobres nacionais é de apenas 4,8% e 8,8% respectivamente. Já a região Centro abarca um quarto dos pobres em Portugal. Por sua vez, com o maior número de pobres, 36,4% do total do país, está a região Norte, onde a taxa de pobreza monetária se encontra próxima da média. Por fim, Lisboa ocupa a terceira posição relativamente ao número de pobres do total nacional, chegando a mais de 319 mil pessoas pobres, muito embora a taxa de pobreza se situe nos 12%, inferior à média nacional.
Depois, na pagina 109 aparece o tal quadro 18, "Risco de pobreza e população pobre nas regiões em Portugal" - elaborado tendo por "Fonte: INE, Inquérito aos Orçamentos Familiares, 2000" - que somando vários itens aponta para os seguinte valores de pessoas pobres:
TOTAL, 1.853.745 pobres (numa população residente de 10.356.117)
NORTE, 663.712 (3.687.293)
CENTRO, 434.453 (2.348.397)
LISBOA, 332.731 (2.661.850)
ALENTEJO, 170.849 (776.585)
ALGARVE, 92.876 (395.218)
AÇORES, 84.617 (241.763)
MADEIRA, 80.854 (245.011)
E acrescentam os autores do estudo: "Medindo a pobreza tendo por base o total dos rendimentos e não apenas os rendimentos monetários, mantém-se a estrutura apresentada. O risco de pobreza total desce 1,3 pontos percentuais, o que mostra o impacto dos rendimentos não monetários sobretudo nas regiões Centro, Norte e Algarve. O risco de pobreza apenas é agravado, tendo em conta os rendimentos totais, na região dos Açores.
Como cada um como o que entender, nem adianto mais nada...
Recordo: tal como em Lisboa nem esperou pelos resultados de negociações sobre o Código de Trabalho, e avançou com uma Moção de Censura ao Governo socialista (mas esse problema não me diz respeito...), na Madeira, o PCP também avançou com idêntica iniciativa contra o Governo Regional, não se percebe bem com que intenção: se a de apresentar soluções (!) para resolver o problema, porventura usando o mesmo modelo da ex-URSS e países da antiga Cortina de Ferro - nos quais não existiam milhões em situação de pobreza e de fome extremas só denunciados quando o Muro felizmente caiu e tudo aquilo caiu de pôdre - se para criticar uma resposta do membro do executivo que o texto da Moção diz não ter sido dada, mas que entretanto foi enviada por escrito antes da da entrega da própria Moção de Censura. Uma baralhada total! Pobres? Existem sim senhor. Lamentavelmente, por esse país fora, Madeira incluída. Enquanto existir um pobre, nenhum político se pode dar por satisfeito e dizer que não existem problemas sociais por resolver. Uma sociedade sem pobres será porventura utópica, mas enquanto existir um pobre que seja, há que tomar medidas para que a riqueza chegue a todos e para que não existiam uns tantos vergonhosamente a encher a pança e que não têm mais lugar para depositar os seus lucros (!...) enquanto outros nem dinheiro têm para alimentar, vestir e dar escola aos filhos. Mas esse drama não preocupa apenas o PCP, essa realidade não é um "quintal" para demagogia rasca de qualquer partido.

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