Há uma catástrofe
a pairar sobre a indústria da aviação que se adensa à medida que o inverno
avança, as reservas desaparecem a ritmo acelerado e a procura cai a pique. Os
números do primeiro semestre da TAP não são animadores, e a perspetiva de uma
nova vaga de covid-19 piora a situação. Nos primeiros seis meses do ano, a TAP
perdeu, em média, €134 milhões de receitas por mês. Uma quebra acompanhada por
uma pequena almofada, já que os custos também encolheram, recuando €76 milhões.
Ainda assim, esfumaram-se da TAP quase €60 milhões por mês, em média, na
primeira metade do ano face a 2019.
A aproximação do
inverno faz temer o pior, e a empresa lamentou esta semana a perspetiva de uma
acentuada descida da procura. Os custos fixos da TAP, como de qualquer
companhia aérea, são pesados. Só os trabalhadores custaram €221 milhões no
primeiro semestre — ainda assim houve um ‘alívio’ de €111 milhões, fruto do
lay-off e da menor atividade. Há milhões a evaporar-se, e a própria lucrativa
Lufthansa já admitiu ter perdas de €500 milhões por mês.
A administração da TAP, sabe o Expresso, acredita que a companhia irá conseguir aguentar-se com os €1,2 mil milhões até março de 2021. Um montante que conta adicionalmente com o conforto de uma garantia de Estado para um empréstimo de mercado no valor de €500 milhões, que fará subir o apoio público para €1,7 mil milhões. As contas da transportadora terão ainda um reforço adicional com a possibilidade de os €1,2 mil milhões de auxílio poderem vir a ser convertidos em capital, reforçando os capitais próprios, o que irá acabar por acontecer, em princípio, na altura em que entrar em vigor o plano de reestruturação, nos primeiros meses de 2021.
€1,7 MIL MILHÕES
NÃO CHEGAM
Fontes do sector
admitem que dificilmente os €1,7 mil milhões já previstos (os €500 milhões
estão inscritos no Orçamento do Estado para 2021) vão chegar para salvar a TAP.
Mas avisam: quanto maior for a ajuda, maior será o garrote de Bruxelas. Ninguém
arrisca, contudo, dizer até onde poderá ir o ‘buraco’ ou quanto mais dinheiro
vai ser preciso. Vai depender da procura e do equilíbrio que se conseguir
encontrar entre receitas e custos. E, neste capítulo, o processo de
reestruturação será fundamental. Para já, a companhia arrasta atrás de si um
prejuízo de €582 milhões só no primeiro semestre.
Se 2021 for
idêntico a 2020, o cenário será desolador — a TAP transportou em 2019 mais de
17 milhões de passageiros, e a estimativa para este ano é que venham a ser
transportados cerca de 5 milhões de passageiros, sabe o Expresso. Há
especialistas a sublinhar que a TAP arrancou para a reestruturação mais tarde
do que as congéneres. E se é verdade que poderá aprender com os erros dos
outros, também chegará atrasada à retoma e poderá já ter algumas rotas
ocupadas.
APOIAR MAIS OU
DEIXAR FALIR?
Perante a
incerteza, várias perguntas ecoam no ar, e a TAP não é exceção, há todo um
sector sob pressão. Será precisa uma nova vaga de ajudas de Estado para salvar
as companhias áreas? E que montante terá? Qual é o limite tolerável para
continuar a garantir a sobrevivência das transportadoras? Vale a pena continuar
a financiá-las, a lançar-lhes dívidas para cima, ou é melhor deixá-las ir à
falência ou nacionalizar? Estas são as chamadas perguntas de um milhão de
dólares, para as quais ninguém tem ainda respostas certas.
A questão do corte
de custos é chave. E na TAP só ficará mais esclarecida quando a companhia tiver
fechado o processo de reestruturação. É um vetor que pesa nas contas e que irá
depender também do resultado do binómio salvação de empregos versus corte na
remuneração dos trabalhadores. A coroar todo este processo estará Bruxelas, e
será a Direção-Geral da Concorrência quem vai dizer se acredita no plano de
reestruturação. Não é seguro que aceite.
RETRATO
■ A TAP perdeu €134 milhões de receitas por mês, em
média, no primeiro semestre de 2020 face aos valores de 2019, enquanto os
custos recuaram €76 milhões. Por mês, perdeu quase €60 milhões, em média
■ A companhia aérea conseguiu ‘luz verde’ de Bruxelas
para ter um auxílio de Estado de €1,2 mil milhões. Já recebeu metade
■ O OE para 2021 prevê uma garantia para um empréstimo
no mercado no valor de €500 milhões (Expresso, texto da jornalista ANABELA
CAMPOS)
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