sexta-feira, outubro 30, 2020

TAP perdeu €60 milhões por mês. Sangria vai continuar

Há uma catástrofe a pairar sobre a indústria da aviação que se adensa à medida que o inverno avança, as reservas desaparecem a ritmo acelerado e a procura cai a pique. Os números do primeiro semestre da TAP não são animadores, e a perspetiva de uma nova vaga de covid-19 piora a situação. Nos primeiros seis meses do ano, a TAP perdeu, em média, €134 milhões de receitas por mês. Uma quebra acompanhada por uma pequena almofada, já que os custos também encolheram, recuando €76 milhões. Ainda assim, esfumaram-se da TAP quase €60 milhões por mês, em média, na primeira metade do ano face a 2019.

A aproximação do inverno faz temer o pior, e a empresa lamentou esta semana a perspetiva de uma acentuada descida da procura. Os custos fixos da TAP, como de qualquer companhia aérea, são pesados. Só os trabalhadores custaram €221 milhões no primeiro semestre — ainda assim houve um ‘alívio’ de €111 milhões, fruto do lay-off e da menor atividade. Há milhões a evaporar-se, e a própria lucrativa Lufthansa já admitiu ter perdas de €500 milhões por mês.

A administração da TAP, sabe o Expresso, acredita que a companhia irá conseguir aguentar-se com os €1,2 mil milhões até março de 2021. Um montante que conta adicio­nalmente com o conforto de uma garantia de Estado para um empréstimo de mercado no valor de €500 milhões, que fará subir o apoio público para €1,7 mil milhões. As contas da transportadora terão ainda um reforço adicional com a possibilidade de os €1,2 mil milhões de auxílio poderem vir a ser convertidos em capital, reforçando os capitais próprios, o que irá acabar por acontecer, em princípio, na altura em que entrar em vigor o plano de reestruturação, nos primeiros meses de 2021.

€1,7 MIL MILHÕES NÃO CHEGAM

Fontes do sector admitem que dificilmente os €1,7 mil milhões já previstos (os €500 milhões estão inscritos no Orçamento do Estado para 2021) vão chegar para salvar a TAP. Mas avisam: quanto maior for a ajuda, maior será o garrote de Bruxelas. Ninguém arrisca, contudo, dizer até onde poderá ir o ‘buraco’ ou quanto mais dinheiro vai ser preciso. Vai depender da procura e do equilíbrio que se conseguir encontrar entre receitas e custos. E, neste capítulo, o processo de reestruturação será fundamental. Para já, a companhia arrasta atrás de si um prejuízo de €582 milhões só no primeiro semestre.

Se 2021 for idêntico a 2020, o cenário será desolador — a TAP transportou em 2019 mais de 17 milhões de passageiros, e a estimativa para este ano é que venham a ser transportados cerca de 5 milhões de passageiros, sabe o Expresso. Há especialistas a sublinhar que a TAP arrancou para a reestruturação mais tarde do que as congéneres. E se é verdade que poderá aprender com os erros dos outros, também chegará atrasada à retoma e poderá já ter algumas rotas ocupadas.

APOIAR MAIS OU DEIXAR FALIR?

Perante a incerteza, várias perguntas ecoam no ar, e a TAP não é exceção, há todo um sector sob pressão. Será precisa uma nova vaga de ajudas de Estado para salvar as companhias áreas? E que montante terá? Qual é o limite tolerável para continuar a garantir a sobrevivência das transportadoras? Vale a pena continuar a financiá-las, a lançar-lhes dívidas para cima, ou é melhor deixá-las ir à falência ou nacionalizar? Estas são as chamadas perguntas de um milhão de dólares, para as quais ninguém tem ainda respostas certas.

A questão do corte de custos é chave. E na TAP só ficará mais esclarecida quando a companhia tiver fechado o processo de reestruturação. É um vetor que pesa nas contas e que irá depender também do resultado do binómio salvação de empregos versus corte na remuneração dos trabalhadores. A coroar todo este processo estará Bruxelas, e será a Direção-Geral da Concorrência quem vai dizer se acredita no plano de reestruturação. Não é seguro que aceite.

RETRATO

A TAP perdeu €134 milhões de receitas por mês, em média, no primeiro semestre de 2020 face aos valores de 2019, enquanto os custos recuaram €76 milhões. Por mês, perdeu quase €60 milhões, em média

A companhia aérea conseguiu ‘luz verde’ de Bruxelas para ter um auxílio de Estado de €1,2 mil milhões. Já recebeu metade

O OE para 2021 prevê uma garantia para um empréstimo no mercado no valor de €500 milhões (Expresso, texto da jornalista ANABELA CAMPOS)

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