Portugal vive
tempos excecionais devido à crise de saúde pública da Covid-19, enfrentando
atualmente o estado de calamidade, que implica diversas restrições e limites à
liberdade individual e coletiva de cada um, necessários para conter a
propagação do vírus.
Muito se tem
falado sobre as festividades que se aproximam a passos largos, o Natal e a
Passagem de Ano, com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a
referir a possibilidade, ainda que remota, de podermos ter de «repensar o
Natal», dividindo os elementos da família, para evitar ajuntamentos que podem
pôr em risco a saúde de todos.
Perante este
cenário, a ‘Executive Digest’ contactou dois especialistas em epidemiologia e
saúde pública, no sentido de perceber a sua visão sobre o contexto vivido
atualmente, bem como sobre as expectativas ou conselhos para as épocas festivas
que se avizinham. Será mesmo necessário repensar as celebrações? Serão as
medidas impostas suficientes para controlar a pandemia? Conheça as respostas.
Natal ou Passagem de Ano: Qual o mais arriscado? Há condições para decorrerem normalmente?
Elisabete Ramos,
professora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP),
considera que devido à «natureza dinâmica» da doença «não é possível prever qual
a evolução da situação nos próximos dois meses». Contudo, explica que «não é
expectável que as festividades decorram como habitualmente», o que faz com que
as famílias tenham de «identificar
atempadamente as medidas para minimizar o risco de transmissão de doença».
Já, Manuel Carmo
Gomes, professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa (FCUL), é mais taxativo nesta matéria, indicando que «se prolongarmos a
tendência atual, seguramente não estarão reunidas condições para festividades
de qualquer natureza a partir já do fim de Outubro».
«Estamos a
duplicar o número de novos casos em cada 15 dias (há poucos dias apenas
estávamos a duplicar a cada 20). As nossas estimativas à data de hoje são de
uma média de 3500 novos casos por dia no fim de Outubro e não estamos ainda a
conseguir ver o pico da segunda vaga porque o valor do Rt não para de aumentar
desde 23 de Setembro. Todos os dias temos revisto as previsões para valores
mais altos», afirma.
Tendo em conta os
números, Manuel Carmo Gomes defende que as restrições implementadas em Portugal
«muito provavelmente já não serão suficientes». Elisabete Ramos aponta a
necessidade de «avaliar a evolução dos números, nas próximas semanas, para
perceber o impacto das medidas e compreender se são necessárias novas
estratégias».
Quando
questionados sobre qual das duas datas, Natal ou Passagem de Ano, poderia
representar mais risco, ambos consideram que ambas as datas terão as suas
consequências. «Todas as festividades ou eventos de convívio entre pessoas não
co-habitantes aumentam a probabilidade de contágio e são desaconselháveis»,
defende Manuel Carmo Gomes.
Contudo, a
professora do ISPUP, considera que «o Natal, provavelmente, terá como maior
risco o facto de as pessoas estarem em contexto familiar e por isso poderem
reduzir as precauções necessárias para evitar a transmissão de doença».
«Por outro lado,
na Passagem de Ano pode haver o risco de promover o contacto entre pessoas que
habitualmente não estão juntas e assim haver mais dispersão dos contactos e dos
potenciais infetados», acrescenta a responsável.
O pior e o melhor
cenário e o que a população pode fazer para evitar uma situação mais grave
Para o professor
da FCUL «o pior cenário» neste contexto de pandemia e festividades «é uma incidência
de milhares de novos casos por dia». Já Elisabete Ramos refere que na pior das
situações, «o número de novas infeções vai continuar a aumentar, refletindo-se
num aumento do número de doentes com necessidade de cuidados diferenciados».
«Isto é», acrescenta,
«se houver também um aumento de internamentos que coloque em risco a resposta
adequada dos cuidados de saúde. Neste cenário, será necessário recorrer a
medidas muito restritivas para tentar conter a transmissão de doença, de modo a
reduzir a pressão sobre os hospitais», defende.
O melhor cenário
«será se conseguirmos inverter a tendência atual e reduzir a pressão sobre os
cuidados de saúde que permita com segurança manter a resposta às necessidades
de doentes com COVID-19, mas também promover a resposta às outras necessidades
em saúde que tiveram de ser adiadas para assegurar a resposta à pandemia»,
afirma a especialista.
Para Manuel Carmo
Gomes, a melhor das situações passa por «um cenário de poucas centenas por
dia», sendo que para isso, as pessoas devem adotar «comportamentos» básicos,
que segundo o especialista passam por: «Usar máscara em recintos fechados e
abertos onde não se possa respeitar a distância mínima; Evitar agrupamentos de pessoas que não são
nossos co-habitantes».
Para além disso o
responsável defende a preferência por «atividades fora de portas com outras
pessoas», sendo «sempre melhor do que em recintos fechados». Adicionalmente é
muito importante a «lavagem frequente de mãos e higienização de superfícies
(mesas, balcões, maçanetas, teclados, etc.)».
Da mesma opinião é
Elisabete Ramos, que defende a aplicação «nas suas práticas diárias de medidas
individuais que permitem minimizar a transmissão de doença,» enumerando
comportamentos semelhantes, nomeadamente «a etiqueta respiratória, o
distanciamento físico necessário para evitar a transmissão ou, quando isso não
é possível, o uso de máscara».
«É também
fundamental evitar situações com elevada concentração de pessoas», bem como
«não ir trabalhar e evitar o contacto físico com outras pessoas sempre que
tiver sintomas ou suspeita de poder estar infetado», conclui (Executive Digest,
texto da jornalista Simone Silva)
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