quinta-feira, outubro 22, 2020

Nota: Congresso do PSD-M sem sala? Mas afinal o que é que ainda não perceberam?


Li hoje, algo estupefacto, que o Congresso do PSD-M, previsto para Novembro deste ano, pode estar em risco pelo simples facto de que o partido não encontra uma sala para meter 1000 pessoas ou coisa que o valha. Ainda bem que assim é. Pensava eu que o PSD-M já tinha percebido que os tempos são outros, que a política deste novo tempo nada tem a ver com o passado, que a realidade política e eleitoral do PSD-M hoje nada tem a ver com o passado recente, que a pandemia existe e não é ficção, etc. Pensava eu que o PSD-M já tinha percebido que os tempos de pandemia são tempos de pandemia, que há regras sanitárias e sociais que não podem ser apenas recomendadas ou impostas às pessoas e que os partidos, em vez, como devem, de ser os primeiros a seguir e a dar o exemplo, ficam fora de tudo isso. De facto, o PSD-M sempre realizou o seu congresso pela medida grande, 450 delegados, 300 inerências, 500 ou mais convidados, era um festão. Os demais partidos da oposição - todos - realizavam os seus congressos regionais em que o maior deles tinha pouco mais de 150 delegados e o mais pequeno... nem congresso havia, porque só dava trabalho, gastava dinheiro e não tinha nem estatutos nem militantes! Lembro-me bem desse tempo. Alguns especialistas em marketing político sublinhavam que por essa via era dada às pessoas, uma imagem de pujança, de força, de liderança partidária e política, etc. O tempo acabou por diluir tudo isso. Nas urnas... A isso junta-se a incapacidade, que existe também, de pessoas e instituições perceberem a realidade, o novo tempo, o hoje diferente do ontem, o presente que nada tem a ver com o passado. De facto, e bem vistas as coisas, neste tempo de pandemia e de crise social e económica, o que é que este Congresso - ou qualquer outro - pode trazer de novo e de útil para as pessoas, que novidades podem afinal resultar de uma reunião partidária de tão ampla magnitude e cuja dialética e conteúdos discursivos até podemos facilmente antecipar? Salvo a eleição dos demais órgãos dirigentes (exceptuando Comissão Política e Secretariado eleitos em directas), e o cumprimento das disposições estatutárias - no passado quantas vezes isso não foi feito, e alguém morreu por causa disso? - o que é que de tão útil, inadiável e necessário para as pessoas podem elas esperar destas reuniões? O PS-M também realizou o seu congresso há cerca de um mês (nunca teve mais de 200 pessoas ao mesmo tempo na sala). Hoje, passado esse tempo sobre esse evento, o que é que a opinião púbica regional reteve ou retém desse momento partidário? Nada, zero. É sempre assim, com todos os partidos em todo o lado. Os congressos são um momento político, um tempo delimitado no tempo e com validade definida. Houve tempos em que eram a oportunidade para uma catarse interna, para mudanças de pessoas, para (re) ajustamentos do caminho, das propostas e dos discursos. Hoje com a mediatização da agenda política, com os espectáculos televisivos, tudo mudou, e aquilo que tinha uma dimensão curta, interna, caseira, passou a ultrapassar as paredes caseiras, mais reservadas, e a ter uma cobertura mediática que não lhe retirando o impacto efémero, passou a impedir que, qual família, as pessoas falassem umas com as outras, olhos nos olhos, dissessem tudo o que deviam dizer, o que sentiam na alma, as queixas, o apontar de erros, etc. Tudo isso foi atirado para debaixo do tapete porque a mediatização dos congressos partidários retirou essa vertente mais interna, mais pura, mais intrínseca. Os próprios dirigentes partidários chegam aos congressos já eleitos, não querendo sujeitar-se por isso a uma maior exposição crítica. E isso não é uma realidade apenas de hoje. No passado mais recente era também mais do que evidente que assim era, os políticos incomodavam-se com as opiniões internas diferentes ou furtavam-se a discussões internas. Os Congressos dos partidos maiores eram vistos, erradamente, como momentos geradores de apoios ou de votos. Não há partido nenhum que perca ou ganhe votos com essas reuniões. Eu sou um cidadão apologista dos partidos, defendo os partidos, acho que eles se descaracterizaram quando ficaram reféns da treta da demagogia populista de fazerem mudanças internas, estruturais, funcionais e até participativas, para agradar a uma sociedade civil que recusou por um lado recusava a militância partidária em nome da apologia do cinzentismo cobarde de quem quer alimentar o rótulo idiota de uma "independência" que nas urnas tem sempre um sentido, um logotipo, uma cor. A mesma sociedade civil que se afasta, denegride ou desvaloriza os partidos mas por outro reclama deles maior cedência ao porreirismo idiota de quem não quer deles fazer parte mas que pretende manipular o processo interno de decisão. Ou seja, e é isso que quero transmitir, o PSD-M tem que perceber que não ganha nada nem influencia ninguém com congressos, e que, neste tempo de pandemia, das duas, uma: ou adia essa sua reunião magna para 2021 ou opta por uma realização mais comedida, que garanta o cumprimento das regras que são impostas às pessoas. Com 1000 pessoas isso é impossível cumprir tudo o que é imposto, e bem, aios cidadãos em defesa da nossa saúde. E não podemos tolerar que no final de Novembro um partido para gaudio próprio queira um congresso massificado e com uma dimensão participativa como se nada de novo tenha acontecido e depois andar a querer alterar tudo em nome do combate da pandemia, incluindo condicionando ou limitando as tradições natalícias mais genuínas dos madeirenses, impondo-lhes obstáculos até na dimensão das pessoas que se sentarão à volta da mesa na ceia natalícia. Onde ela ainda for possível. Isso seria vergonhoso e irresponsável. 
O que eu acho? 
Opção por um Conselho Regional alargado em Novembro -. mes já marcado pela discussão em torno da proposta de orçamentro regional para 2021 - e habilitado a tomar decisões políticas internas excepcionais, nomeadamente a prorrogação do mandato dos membros dos três órgãos estatutários - Mesa, Conselho Regional e Conselho de Jurisdição - por mais alguns meses (que mal vem ao mundo se isso acontecer? - e admitir que a reunião magna social-democrata se realize em Março ou Maio (Abril é mês de Páscoa) de 2021, caso tudo se normalize Porque no fundo é essa a esperança de todos os cidadãos, hoje claramente com a sua própria liberdade muito condicionada pelo combate que tem que ser travado  ontra a pandemia até termos um tratamento ou uma vacina eficaz e segura. É o que eu penso que devia (exemplarmente) ser feito para que ninguém perca a autoridade moral e a legitimidade, ainda por cima quando começamos todos a perceber que se aproximam, oxalá que não, novos tempos para decisões condicionadoras. Não é por isso que o PSD-M perdertá a sua legitimidade (LFM)

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