quinta-feira, janeiro 07, 2016

Presidenciais 2016: Marcelo é o alvo a abater nas redes sociais

As campanhas fazem-se cada vez mais no Facebook e nos blogues e as presidenciais não são exceção. Com sondagens que o mostram a ganhar à primeira volta, Marcelo Rebelo de Sousa não tem sido poupado na internet. Marcelo Rebelo de Sousa é o alvo de todos os seus opositores na corrida para as presidenciais. As sondagens mostram-no com resultados acima dos 50% e isso é suficiente para que esteja na mira de todos os seus opositores. A estratégia passa pelas redes sociais, onde o antigo comentador não tem tido descanso e os seus detratores têm dois objetivos: confrontá-lo com o seu passado e associá-lo à imagem de Cavaco Silva.
O Cavaco que ri
Se Marcelo tem feito tudo o que está ao seu alcance para se distanciar de Passos e Portas, nas redes sociais a mensagem mais difundida é a de que o professor é, afinal, apenas uma versão mais sorridente do atual inquilino do Palácio de Belém.
Os níveis baixíssimos de popularidade de Cavaco justificam a colagem do candidato mais popular dos dez que se apresentam às eleições de 24 de janeiro. Como é que se consegue isso com um candidato que está nos antípodas da personalidade Cavaco? Através de imagens. A internet está cheia delas e mostram Cavaco a transformar-se em Marcelo. Partilhadas em blogues e nas redes sociais, trazem uma mensagem subliminar importante, a de que Rebelo de Sousa é, afinal, o candidato do PSD e do CDS e não trará nada a um tempo que a esquerda garante ser “novo”.
O lançamento da candidatura de Marcelo fez-se, curiosamente, com críticas duras a Cavaco Silva, no rescaldo da crise que acabou com o Presidente a “indicar” António Costa para o lugar de primeiro-ministro. “Quanto maior, mais eficaz e mais duradouro o poder de influência do Presidente antes de eleições, mais eficaz é depois de eleições”, lançou na apresentação da sua candidatura na Voz do Operário, em Lisboa, durante a qual quis - como tem feito desde então - sublinhar a importância do “afeto” na sua forma de fazer política. Em tudo, Marcelo quis mostrar-se a anos luz do atual Presidente. “Pela minha própria maneira de ser, que não enjeito, sou naturalmente próximo das pessoas. E não vou mudar um centímetro a minha maneira de ser”, disse na altura.
O lado descontraído de Marcelo que contrasta com a imagem distante de Cavaco é, assim, usada em imagens na internet que apresentam o candidato do centro-direita como “o Cavaco que ri”.
O passado
Com 15 anos de comentário televisivo, não é difícil encontrar contradições no discurso de Marcelo. E elas têm sido exploradas, recuperando os vídeos do comentador para o confrontar nesta campanha. Um dos vídeos mais partilhados é aquele em que Rebelo de Sousa fala sobre o Banif na TVI, assegurando a sua estabilidade financeira e elogiando o papel do governador do Banco de Portugal, Carlos Costa. “Tão importante como saber avaliar a situação, é importante um presidente saber avaliar as pessoas e as suas ações. E Marcelo sabe isso tudo”, escreveu Daniel Oliveira no Facebook, quando partilhou o vídeo, com o qual Henrique Neto confrontou o candidato da direita num debate no domingo. Tentando não se alongar na resposta, Marcelo lembrou apenas as críticas que fez mais tarde a Carlos Costa, defendendo que “ele deveria sair pelo próprio pé”.
O ‘afilhado’ de Marcello
Outra das estratégias de quem quer causar mossa eleitoral a Marcelo é recuperar o seu passado. No domingo, Henrique Neto usou a proximidade do antigo comentador com Marcello Caetano para o atacar no frente-a-frente emitido na SIC Notícias. Foi a primeira vez que as relações do candidato ao homem forte do antigo regime foram usadas por outro candidato de forma aberta, mas há muito que circulam pela internet referências a essa proximidade. Henrique Neto referiu mesmo um episódio histórico que ilustra como os dois estavam em barricadas opostas antes do 25 de abril e que remete para uma carta que tem sido divulgada em blogues e redes sociais. Neto lembrou no debate que foi agredido em Aveiro, depois de ter participado num congresso que reuniu toda as oposições à ditadura em 1973 e sobre o qual Marcelo Rebelo de Sousa passou informações a Marcello Caetano. Apanhado de surpresa, Marcelo justificou-se: “Não podemos ter todos o mesmo percurso”. Mas não se alongou em explicações sobre a carta referida por Henrique Neto e que está no segundo volume do livro ‘Cartas Particulares a Marcello Caetano’ de José Freire Antunes.
Na internet, a missiva aparece como a “carta de um delator” e tem sido difundida até nas caixas de comentários de notícias online sobre Marcelo. O texto mostra que Rebelo de Sousa avisou Marcello sobre a força que os comunistas tinham no seio da oposição ao regime, ao mesmo tempo que elogiava a reação firme do Presidente do Conselho sem fazer qualquer crítica ao uso da força feito pelo regime para conter as cerca de três mil pessoas que se juntaram de 4 a 8 de abril no III Congresso da Oposição Democrática.
O Congresso, no qual Henrique Neto participou, exigia a libertação imediata e incondicional de todos os presos políticos, o fim da censura, o fim imediato da guerra no Ultramar e a liberdade de reunião, de criação de partidos políticos e de associação.
Na altura, Rebelo de Sousa estava já no Expresso, mas, descontente com as cadeiras que lhe tinham sido atribuídas na Faculdade de Direito, procurava falar pessoalmente com Marcello Caetano sobre a sua carreira académica. O problema era que Caetano estava magoado com Marcelo pelas coisas que escrevia nos jornais A Capital e Expresso. Daí que Marcelo Rebelo de Sousa use a carta como uma forma de aproximação.
“Pedindo desculpa do tempo que tomo a Vossa Excelência, vinha solicitar alguns minutos de audiência, para apresentar algumas questões, sobre as quais muito gostaria de ouvir o parecer de Vossa Excelência. (...) Seria possível, Senhor Presidente, conceder-me os escassos minutos que solicito?”, começa o documento que mais de 40 anos depois é usado como arma de arremesso contra o candidato do centro-direita.
No debate de domingo, Marcelo Rebelo de Sousa preferiu chamar a atenção para o trabalho que fazia no Expresso, onde tinha muitos problemas com a censura. Tantos que nesse mesmo ano de 1973 - dois meses depois do Congresso de Aveiro - fez uma primeira página que levaria a medidas drásticas por parte da censura: o jornal passaria depois disso a ser sujeito a prova de página, o que atrasa o fecho e tem consequências financeiras graves para a distribuição do semanário. Marcelo tinha feito uma capa como se o regime já tivesse caído, com notícias chocantes sobre a guerra na Guiné e a “autópsia política do 28 de maio”.
A carta
 “Acompanhei de perto (como Vossa Excelência calcula), as vicissitudes relacionadas com o Congresso de Aveiro, e pude, de facto, tomar conhecimento de caraterísticas de estrutura, funcionamento e ligações, que marcam nitidamente um controle (inesperado antes da efectuação) pelo PCP. Aliás, ao que parece, a atividade iniciada em Aveiro tem-se prolongado com deslocações no país e para fora dele, e com reuniões com meios mais jovens”
“Como Vossa Excelência apontou, Aveiro representou, um pouco mais do que seria legítimo esperar, uma expressão política da posição do PC e o esbatimento das veleidades “soaristas””
“O discurso de Vossa Excelência antecipou-se ao rescaldo de Aveiro e às futuras manobras pré-eleitorais, e penso que caiu muito bem em vários sectores da opinião pública”
Marcelo Rebelo de Sousa
Carta de 14 de abril de 1973 (texto da jornalista do Jornal I, MARGARIDA DAVIM)


 Marcelo desmente Marcelo
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Marcelo e a Constituição

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