sexta-feira, dezembro 13, 2024

Opinião: Não há volta a dar!


O problema tem muito a ver, tudo a ver, com os riscos que correram quando a opção foi a de apostar na desvalorização de tudo o que se passou e na minimização do que devia ter sido feito e não o foi – e nem falo dos recados (?) que alguns governantes terão divulgado através do Jornal da Madeira, nomeadamente de que estariam a ponderar a demissão – tudo porque não perceberam que, goste-se ou não, achemos injusto ou não, a continuidade de todos os “suspeitos” num governo, nas circunstâncias de todos conhecidas, fragiliza o próprio executivo, cria problemas complexos ao PSD-Madeira - que sobrevive graças à fidelidade do seu eleitorado mais genuíno, contudo insuficiente para ganhar eleições com amplas maiorias - fragiliza a imagem dos partidos aos olhos da opinião pública e não abona em nada a favor da legitimidade e da autoridade moral que um governante precisa de ter aos olhos dos cidadãos que votam e elegem.

Portanto, depois do primeiro episódio desta crise – a recusa do Orçamento Regional para 2025 em circunstâncias únicas de uma oposição unida, desde a extrema-direita à esquerda, incluindo a mais demagógica e populista – seguir-se-á mais um episódio, a discussão de uma moção de censura do Chega ao Governo Regional, que tem aprovação garantida, perante as intenções de voto já reveladas.

A estratégia do PS de Cafofo

A estratégia desenvolvida neste processo pelo PS de Cafofo é um enigma de percepção difícil. Desde logo não avança com uma moção própria, como foi sugerido por Carlos Pereira e outras personagens do PS regional – que deste modo liderava o processo - opta por ir a reboque da iniciativa da extrema-direita que os socialistas tanto diabolizam mas que não hesitam em ir agora montados às cavalitas (do Chega) no caso de uma moção de censura que serve os interesses dos socialistas e de Cafofo (o derrube do governo regional e novas eleições regionais), deixando eventuais vantagens dessa iniciativa – que eu duvido que existam seja as favor de quem quer que seja – aos seus autores, não aos aproveitadores.


Mas o que é estranho é que esta cumplicidade, perceptível face aos propósitos comuns que unem o PS e o Chega, não exclui uma sucessão de ataques dos socialistas à extrema-direita, sem esquecer o texto original da moção de censura do Chega que desfere um forte ataque aos socialistas. Como se isto não bastasse eis que surge, a escassos dias da discussão da moção de censura uma espécie de cereja no topo do bolo,  concretamente as “provocações” políticas do PS aso Chega, a última das quais consubstanciada num patético cartaz de Cafofo, visando Albuquerque mas colocando dois “emplastros” na cena – os lideres do Chega e do CDS - como alvos dessa iniciativa já contestada por sectores ligados ao PS local, e não só. Perante tudo isto, é óbvio que as pessoas têm dificuldades em entender esta cumplicidade entre Chega e PS, salvo o derrube do GRM e a exigência de eleições antecipadas, sem saberem o que lhes pode estar reservado nas urnas.

E se o Chega se passar?

A pergunta que se coloca seria esta: e se o Chega se passe com as provocações do PS de Cafofo e resolve retirar a sua moção de censura, desafiando ao mesmo tempo o PS-Madeira a apresentar a sua própria moção de censura, obrigando deste modo Cafofo a fazer o que ele nunca pretendeu fazer?

O segundo erro de Cafofo

Não satisfeito com esses erros e deambulações, Paulo Cafofo comete outro erro, ao propor uma estranha coligação pré-eleitoral alargada, mas excluindo o PCP por motivos que ninguém entendeu, até porque os comunistas foram essenciais à geringonça da esquerda em Lisboa, que permitiu a António Costa assumir o poder em 2015 apesar de não ter ganho as eleições.

Se PAN, Bloco e JPP foram, no passado parceiros em coligações lideradas pelos socialistas no passado recente, das quais não resultaram em mais-valias nenhumas – autárquicas no Funchal em 2021 e regionais de 2015 – a exclusão do PCP de uma lógica de esquerda e sua substituição pela Iniciativa Liberal, mostra que Cafofo, no desespero, para além do erro de não ter realizado uma consulta prévia aos seus potenciais “parceiros” da negociata eleitoral, pretendeu, neste quadro de absurda salada russa política, fazer uma canja usando apenas ingredientes de um cozido!

Eleições resolverão tudo?

Todos reclamam eleições, mas no caso do PSD-Madeira, que admito que até as poderá ganhar, porque o seu eleitorado mais fiel, esmagadoramente, não confundirá a árvore com a floresta, não percebo que optimismo pode existir, caso não obtenha uma maioria absoluta, sozinho ou com um outro parceiro. Se percebemos todos, até pelas indicações de amostras de sondagens divulgadas, que dificilmente haverá mudanças significativas do quadro parlamentar (mesmo que estejam já a tentar “sanear” PCP e Bloco desses trabalhos em contraste, estranhamente, com a promoção dada ao PTP numa delas…), se o OR2025 foi rejeitado por PAN e IL – que repetidamente dizem nada querer com Albuquerque – pelo Chegas, que reclama a saída de Albuquerque e perlo  PS e JPP que se digladiam para ver que chega primeiro ao topo do pódio dos que mais atacam o PSD-M e o Presidente do Governo, como é que um cenário, que pouco ou nada muda este puzzle, pode ser olhado por optimismo sobretudo por quem parece ter sido a causa dessa conjugação de votos que uniu todas a oposição? Não entendo, mas admito que sejas defeito meu… Se, ao invés, o PSD-Madeira conseguir uma mais do que improvável maioria absoluta, sozinho ou com outro parceiro natural (o CDS por exemplo), então tudo muda de figura


Repito: como é que soluções que caíram de podre podem ser sequer admitidas como possíveis num cenário pós-eleitoral diferente do presente? Se PAN e IL repetidamente (agora no caso do PAN) recusam qualquer entendimento com Miguel Albuquerque, se o Chega mantem-se irredutível e na mesma linha de exigência do abandono de Albuquerque, se do PCP e do Bloco, caso regressem ao parlamento, não se esperam atitudes diferentes da restante oposição, e se PS e JPP, como já referi, se degladiam freneticamente, todos os dias, para ver quem ataca mais e conquista o pódio dos que mais dizem mal de Albuquerque e o PSD-Madeira, como é que podem existir ingenuidades patéticas que acham que, depois das causas da recusa do OR25 e da aprovação quase certa da Moção de Censura se vão alterar as circunstâncias, só porque a ALRAM foi dissolvida e a Madeira foi para novas eleições regionais?! Patético e doentio. Intolerável, incompetente e, mais do que isso, estranha, mesmo muito estranha, esta atitude de "agarranço" do poder que poderá esconder muita coisa que pouco ou nada tem a ver com a política e com o PSD-Madeira. Pelo menos é essa a especulação que corre nos corredores cada vez mais alinhados identificados com a maioria e o poder regional. Triste e lamentavelmente começo a acreditar  que há situações pouco claras e por explicar, que estão a condicionar tudo e a fazer lembrar aquela cena da orquestra a tocar enquanto o Titanic se afundava sem que com isso resolvesse ou revertesse o fim trágico do navio e dos seus passageiros.

Falhou a pressão e a dramatização em torno do processo legislativo do OR25 que todos adivinhavam seria recusado. Foi um processo deastroso, errado. Não se pode dissociar - e esse foi um erro determinante - a discussão do OR25 do clima já construído em torno da discussão e votação da Moção de Censura do Chega, um erro de Miguel Albuquerque e do PSD-Madeira, que insistiram em pintar de cor-de-rosa um cenário que todos percebiam ser mais negro que o breu. Não quiseram ou não souberam perceber esta interdependência, em termos de ambiente político-parlamentar, entre a Moção de Censura e o OR25. Alguém acredita que a oposição alguma vez aprovaria uma proposta de orçamento de um governo que iria deitar abaixo uma semana ou 10 dias depois? Não me gozem!

Devalorizado

E acresce que até o processo de negociação com a oposição foi desvalorizado, quando as circunstâncias determinavam que ele fosse desenvolvido ao mais alto nível e não com figuras de segundo plano do GRM, sem menosprezo para ninguém. No fundo repetindo o que Montenegro fez com Pedro Nuno dos Santos, em Lisboa, apesar de todos os dias estarem à “porrada” um com o outro. Separaram águas, estabeleceram diferenças, souberam estar à altura dos acontecimentos, sem belisctrem minimamente diferenças entre ambos.

João Jardim e uma realidade substancialmente diferente

Finalmente apetece-me falar do enquadramento de Alberto João Jardim neste contexto político regional difícil, e, particularmente no PSD-Madeira, na certeza de que não podemos esquecer que AJJ geriu a política sempre e apenas com base em quadros parlamentares de maiorias absolutas confortáveis, algo que só começou a esbater-se em 2011, nas regionais surgidas depois do tal “buraco” e da imposição do PAEF à Madeira pelo governo de Passos-Portas-Gaspar. Uma decisão que acabou por acelerar a saída de AJJ da liderança do PSD e do Governo Regional em 2015, depois de uma derrota do PSD na Câmara Municipal do Funchal em 29013 (que se repetiu em 2017 com a nova liderança laranja).

Lembro-me que as regionais de 2011 foram um tremendo desafio, já que falamos de um processo eleitoral que, recordo-me bem, ficou marcado por boicotes das acções de campanha, nomeadamente no Funchal e dois outros concelhos decisivos, e algumas outras polémicas internas. Foi uma campanha exigente, desgastante, desmotivadora, que teve um desfecho vitorioso, mas que deixou marcas que desconfio que ainda subsistem. Mas não sou eu que escrevo livros de memórias… Portanto, tenho dúvidas em comentar, até porque não sei como iria AJJ gerir uma realidade partidária e parlamentar fragmentada como a que actualmente existe na Madeira. Uma coisa é certa: duvido que a intervenção de AJJ, pelo menos nos moldes em que tem sido feita, seja uma mais-valia para o PSD-Madeira – que neste momento precisa de tudo menos disso… - aproveitando para lembrar, mesmo sendo desnecessário como é óbvio, que a lei eleitoral regional proíbe, tal como acontece para a Assembleia da República, que concorram às eleições entidades que não os partidos políticos. Por isso, há ”soluções” que não são realizáveis, na medida em que o que conta é o quadro legal vigente (LFM)

Sem comentários: