O problema tem muito a ver, tudo a ver, com
os riscos que correram quando a opção foi a de apostar na desvalorização de
tudo o que se passou e na minimização do que devia ter sido feito e não o foi –
e nem falo dos recados (?) que alguns governantes terão divulgado através do
Jornal da Madeira, nomeadamente de que estariam a ponderar a demissão – tudo porque
não perceberam que, goste-se ou não, achemos injusto ou não, a continuidade de
todos os “suspeitos” num governo, nas circunstâncias de todos conhecidas,
fragiliza o próprio executivo, cria problemas complexos ao PSD-Madeira - que
sobrevive graças à fidelidade do seu eleitorado mais genuíno, contudo
insuficiente para ganhar eleições com amplas maiorias - fragiliza a imagem dos
partidos aos olhos da opinião pública e não abona em nada a favor da
legitimidade e da autoridade moral que um governante precisa de ter aos olhos
dos cidadãos que votam e elegem.
Portanto, depois do primeiro episódio desta
crise – a recusa do Orçamento Regional para 2025 em circunstâncias únicas de
uma oposição unida, desde a extrema-direita à esquerda, incluindo a mais
demagógica e populista – seguir-se-á mais um episódio, a discussão de uma moção
de censura do Chega ao Governo Regional, que tem aprovação garantida, perante
as intenções de voto já reveladas.
A estratégia do PS de Cafofo
A estratégia desenvolvida neste processo pelo PS de Cafofo é um enigma de percepção difícil. Desde logo não avança com uma moção própria, como foi sugerido por Carlos Pereira e outras personagens do PS regional – que deste modo liderava o processo - opta por ir a reboque da iniciativa da extrema-direita que os socialistas tanto diabolizam mas que não hesitam em ir agora montados às cavalitas (do Chega) no caso de uma moção de censura que serve os interesses dos socialistas e de Cafofo (o derrube do governo regional e novas eleições regionais), deixando eventuais vantagens dessa iniciativa – que eu duvido que existam seja as favor de quem quer que seja – aos seus autores, não aos aproveitadores.
Mas o que é estranho é que esta cumplicidade,
perceptível face aos propósitos comuns que unem o PS e o Chega, não exclui uma
sucessão de ataques dos socialistas à extrema-direita, sem esquecer o texto
original da moção de censura do Chega que desfere um forte ataque aos socialistas.
Como se isto não bastasse eis que surge, a escassos dias da discussão da moção de
censura uma espécie de cereja no topo do bolo, concretamente as “provocações” políticas do PS
aso Chega, a última das quais consubstanciada num patético cartaz de Cafofo, visando
Albuquerque mas colocando dois “emplastros” na cena – os lideres do Chega e do
CDS - como alvos dessa iniciativa já contestada por sectores ligados ao PS
local, e não só. Perante tudo isto, é óbvio que as pessoas têm dificuldades em
entender esta cumplicidade entre Chega e PS, salvo o derrube do GRM e a exigência
de eleições antecipadas, sem saberem o que lhes pode estar reservado nas urnas.
E se o Chega se passar?
A pergunta que se coloca seria esta: e se o
Chega se passe com as provocações do PS de Cafofo e resolve retirar a sua moção
de censura, desafiando ao mesmo tempo o PS-Madeira a apresentar a sua própria
moção de censura, obrigando deste modo Cafofo a fazer o que ele nunca pretendeu
fazer?
O segundo erro de Cafofo
Não satisfeito com esses erros e deambulações,
Paulo Cafofo comete outro erro, ao propor uma estranha coligação pré-eleitoral
alargada, mas excluindo o PCP por motivos que ninguém entendeu, até porque os comunistas
foram essenciais à geringonça da esquerda em Lisboa, que permitiu a António Costa
assumir o poder em 2015 apesar de não ter ganho as eleições.
Se PAN, Bloco e JPP foram, no passado parceiros
em coligações lideradas pelos socialistas no passado recente, das quais não
resultaram em mais-valias nenhumas – autárquicas no Funchal em 2021 e regionais
de 2015 – a exclusão do PCP de uma lógica de esquerda e sua substituição pela
Iniciativa Liberal, mostra que Cafofo, no desespero, para além do erro de não ter
realizado uma consulta prévia aos seus potenciais “parceiros” da negociata eleitoral,
pretendeu, neste quadro de absurda salada russa política, fazer uma canja usando
apenas ingredientes de um cozido!
Eleições resolverão tudo?
Todos reclamam eleições, mas no caso do
PSD-Madeira, que admito que até as poderá ganhar, porque o seu eleitorado mais
fiel, esmagadoramente, não confundirá a árvore com a floresta, não percebo que
optimismo pode existir, caso não obtenha uma maioria absoluta, sozinho ou com
um outro parceiro. Se percebemos todos, até pelas indicações de amostras de
sondagens divulgadas, que dificilmente haverá mudanças significativas do quadro
parlamentar (mesmo que estejam já a tentar “sanear” PCP e Bloco desses trabalhos
em contraste, estranhamente, com a promoção dada ao PTP numa delas…), se o
OR2025 foi rejeitado por PAN e IL – que repetidamente dizem nada querer com
Albuquerque – pelo Chegas, que reclama a saída de Albuquerque e perlo PS e JPP que se digladiam para ver que chega
primeiro ao topo do pódio dos que mais atacam o PSD-M e o Presidente do
Governo, como é que um cenário, que pouco ou nada muda este puzzle, pode ser
olhado por optimismo sobretudo por quem parece ter sido a causa dessa
conjugação de votos que uniu todas a oposição? Não entendo, mas admito que
sejas defeito meu… Se, ao invés, o PSD-Madeira conseguir uma mais do que
improvável maioria absoluta, sozinho ou com outro parceiro natural (o CDS por
exemplo), então tudo muda de figura
Repito: como é que soluções que caíram de podre
podem ser sequer admitidas como possíveis num cenário pós-eleitoral diferente
do presente? Se PAN e IL repetidamente (agora no caso do PAN) recusam qualquer
entendimento com Miguel Albuquerque, se o Chega mantem-se irredutível e na
mesma linha de exigência do abandono de Albuquerque, se do PCP e do Bloco, caso
regressem ao parlamento, não se esperam atitudes diferentes da restante
oposição, e se PS e JPP, como já referi, se degladiam freneticamente, todos os
dias, para ver quem ataca mais e conquista o pódio dos que mais dizem mal de
Albuquerque e o PSD-Madeira, como é que podem existir ingenuidades patéticas
que acham que, depois das causas da recusa do OR25 e da aprovação quase certa
da Moção de Censura se vão alterar as circunstâncias, só porque a ALRAM foi
dissolvida e a Madeira foi para novas eleições regionais?! Patético e doentio.
Intolerável, incompetente e, mais do que isso, estranha, mesmo muito estranha,
esta atitude de "agarranço" do poder que poderá esconder muita coisa
que pouco ou nada tem a ver com a política e com o PSD-Madeira. Pelo menos é
essa a especulação que corre nos corredores cada vez mais alinhados
identificados com a maioria e o poder regional. Triste e lamentavelmente começo
a acreditar que há situações pouco
claras e por explicar, que estão a condicionar tudo e a fazer lembrar aquela
cena da orquestra a tocar enquanto o Titanic se afundava sem que com isso
resolvesse ou revertesse o fim trágico do navio e dos seus passageiros.
Falhou a pressão e
a dramatização em torno do processo legislativo do OR25 que todos adivinhavam
seria recusado. Foi um processo deastroso, errado. Não se pode dissociar - e
esse foi um erro determinante - a discussão do OR25 do clima já construído em
torno da discussão e votação da Moção de Censura do Chega, um erro de Miguel
Albuquerque e do PSD-Madeira, que insistiram em pintar de cor-de-rosa um
cenário que todos percebiam ser mais negro que o breu. Não quiseram ou não
souberam perceber esta interdependência, em termos de ambiente político-parlamentar,
entre a Moção de Censura e o OR25. Alguém acredita que a oposição alguma vez aprovaria
uma proposta de orçamento de um governo que iria deitar abaixo uma semana ou 10
dias depois? Não me gozem!
Devalorizado
E acresce que até o
processo de negociação com a oposição foi desvalorizado, quando as
circunstâncias determinavam que ele fosse desenvolvido ao mais alto nível e não
com figuras de segundo plano do GRM, sem menosprezo para ninguém. No fundo
repetindo o que Montenegro fez com Pedro Nuno dos Santos, em Lisboa, apesar de
todos os dias estarem à “porrada” um com o outro. Separaram águas,
estabeleceram diferenças, souberam estar à altura dos acontecimentos, sem
belisctrem minimamente
diferenças entre ambos.
João
Jardim e uma realidade substancialmente diferente
Finalmente
apetece-me falar do enquadramento de Alberto João Jardim neste contexto
político regional difícil, e, particularmente no PSD-Madeira, na certeza de que
não podemos esquecer que AJJ geriu a política sempre e apenas com base em
quadros parlamentares de maiorias absolutas confortáveis, algo que só começou a
esbater-se em 2011, nas regionais surgidas depois do tal “buraco” e da
imposição do PAEF à Madeira pelo governo de Passos-Portas-Gaspar. Uma decisão que
acabou por acelerar a saída de AJJ da liderança do PSD e do Governo Regional em
2015, depois de uma derrota do PSD na Câmara Municipal do Funchal em 29013 (que
se repetiu em 2017 com a nova liderança laranja).
Lembro-me que as regionais de 2011 foram um tremendo desafio, já que falamos de um processo eleitoral que, recordo-me bem, ficou marcado por boicotes das acções de campanha, nomeadamente no Funchal e dois outros concelhos decisivos, e algumas outras polémicas internas. Foi uma campanha exigente, desgastante, desmotivadora, que teve um desfecho vitorioso, mas que deixou marcas que desconfio que ainda subsistem. Mas não sou eu que escrevo livros de memórias… Portanto, tenho dúvidas em comentar, até porque não sei como iria AJJ gerir uma realidade partidária e parlamentar fragmentada como a que actualmente existe na Madeira. Uma coisa é certa: duvido que a intervenção de AJJ, pelo menos nos moldes em que tem sido feita, seja uma mais-valia para o PSD-Madeira – que neste momento precisa de tudo menos disso… - aproveitando para lembrar, mesmo sendo desnecessário como é óbvio, que a lei eleitoral regional proíbe, tal como acontece para a Assembleia da República, que concorram às eleições entidades que não os partidos políticos. Por isso, há ”soluções” que não são realizáveis, na medida em que o que conta é o quadro legal vigente (LFM)
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