Em 11 de março de 2023, treze militares recusaram-se a embarcar no NRP Mondego alegando falta de segurança. Agora que o navio está em manutenção, o advogado dos marinheiros receia perder as provas. Mais de um ano após o incidente de 11 de março de 2023, em que 13 militares da Marinha (quatro sargentos e nove praças) se recusaram a embarcar no do Navio da República Portuguesa (NRP) Mondego, alegando razões de segurança, tanto os processos contra os marinheiros, como a própria embarcação, continuam parados. Isto apesar de o almirante Gouveia e Melo, que na altura condenou o «ato de insubordinação», ter defendido que o processo deveria ser célere, sem atropelar os direitos de defesa dos envolvidos.
«O NRP Mondego encontra-se em período de manutenção, de acordo com o planeamento previsto, pelo que a gestão do navio é assegurada por um grupo de acompanhamento dos navios em fabricos, não necessitando de ter guarnição completa a bordo», justifica a Marinha, em resposta ao Nascer do Sol. Esclarece também que «não está previsto o seu abate» e que se «prevê que integre o dispositivo naval padrão já no primeiro trimestre de 2025».
Mas o advogado dos militares acusados não vê a situação com bons olhos. «A própria Marinha está a assumir que está a intervir no navio, o que só por si pode levar à destruição dos últimos vestígios do estado calamitoso em que estava o navio», aponta Garcia Pereira. «Pode estar aqui em causa um problema de destruição de prova essencial para o processo», acrescenta o especialista em direito laboral.
Sobre o estado e as condições reais do Navio Mondego ainda pouco se sabe. Entre as várias razões de segurança invocadas pelos militares para se recusarem a embarcar constava o facto de um motor e um gerador de energia elétrica estarem inoperacionais.
Na altura, também a Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) sublinhou que o incidente trouxe a público a «grave situação que se vive nas Forças Armadas, em matéria de pessoal e material».
Questionada se desde o incidente de 11 de março de 2023 foi feito algum exame pericial ao estado do navioMondego e quais as respetivas conclusões, a Marinha apenas respondeu que «a avaliação de condição dos navios da Marinha é assegurada de forma contínua, por equipas da Marinha, em todos os navios da Esquadra».
Sobre este tema, o advogado dos militares critica o facto de «ainda não ter tido acesso à realização de exames periciais independentes, ou seja, não feitos pela própria Marinha ou de alguém da alçada do Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA)». Recorde-se que cinco dias após a recusa dos marinheiros em participar da missão de acompanhamento de um navio russo a norte da ilha do Porto Santo, na Madeira, o chefe da Armada, Gouveia e Melo, fez questão de se deslocar à embarcação e criticar os militares revoltosos.
«A Marinha não pode esquecer, ignorar, ou perdoar atos de indisciplina, estejam os militares cansados, desmotivados ou preocupados com as suas próprias realidades», sublinhou o almirante. «Que interesses os senhores defenderam? Os da Marinha não foram certamente, os vossos muito menos. Só unidos venceremos dificuldades e vocês desuniram-nos».
A reação de Gouveia e Melo valeu-lhe duras críticas por parte de Garcia Pereira, que, na altura, o acusou de «ter uma atitude prepotente, discriminatória, vexatória e humilhante». Uma ‘mancha’ no currículo do almirante Gouveia e Melo, que não parece ter feito ‘mossa’ na sua popularidade, uma vez que se mantém como o favorito e mais bem posicionado para concorrer à presidência da República em 2026 (Sol, texto da jornalista Diana Gomes)
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