Ainda sem sinais de alerta ou cancelamentos de reservas, as quedas de Governo em dois dos principais emissores de turistas estão a ser acompanhadas “com muita atenção” pela Associação da Hotelaria de Portugal. Os hotéis nacionais estão a "acompanhar com muita atenção" as turbulências políticas em França e na Alemanha, mercados que, no seu conjunto, asseguraram no ano passado quase um quarto das receitas turísticas em Portugal - cerca de 6 mil milhões de euros, num total de 25,1 mil milhões de euros.
"França e Alemanha estão no ‘top 5’ dos nossos principais emissores de turistas, são mercados históricos com um peso importantíssimo para Portugal, e encontram-se confrontados internamente com factos que não abonam em prol da confiança e da disponibilidade financeira dos seus residentes para viajar”, salienta Bernardo Trindade, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). No caso da Alemanha, país que representa a segunda maior origem das dormidas geradas por turistas externos em Portugal (que totalizaram 6,1 milhões em 2023 por parte dos hóspedes alemães), o presidente da associação hoteleira destaca a conjuntura económica com as "quebras no sector industrial, designadamente automóvel, com encerramentos e despedimentos", a que se soma "a instabilidade política com eleições no próximo ano, cujo resultado é ainda imprevisível".
O que é "previsível" para os hotéis nacionais é “o comportamento do turista alemão, que se retrai sempre que há ambientes de incerteza e surtos inflacionistas, tal como aconteceu no passado, é como se fosse uma espécie de karma” - optando estes turistas, em períodos incertos, por “fazer férias dentro da Alemanha em vez de viajar a países como Portugal”, segundo aponta Bernardo Trindade.
Emblemático, é também o caso de França, o quarto maior emissor de turistas externos em Portugal (geradores de 4,6 milhões de dormidas em 2023). O presidente da AHP realça tratar-se de “um mercado muito importante no turismo da saudade, em particular devido à fortíssima comunidade de portugueses emigrantes no país”, e enfatiza a atual “instabilidade política, com o maior protagonimo das esquerdas e direitas radicais”, a par da “situação económica preocupante”.
Apesar do crescimento de 6,2% em dormidas que registaram em 2023, os turistas franceses em Portugal têm estado este ano sucessivamente a recuar nos meses do verão, com uma quebra cifrada em mais de 35 mil hóspedes desde maio a final de outubro, comparativamente com o mesmo período do ano passado.
Turismo continua com boas perspetivas para 2025
Nos hotéis Vila Galé, onde os hóspedes alemães assumem um peso de 8,6% e os franceses de 2,8%, não se sentem ainda “sinais de alerta” traduzidos em cancelamentos de reservas por parte destes mercados, à semelhança do que também se verifica na generalidade do sector hoteleiro.
Mas tratando-se de mercados emissores de turistas para Portugal com um peso tão expressivo, as crises políticas em França e na Alemanha continuam a merecer atenção especial dos hoteleiros. “São tempos incertos e desafiantes que vamos ter de acompanhar”, nota o presidente da AHP. Apesar da turbulência política e económica que agita dois dos principais mercados emissores, as perspetivas para o turismo em Portugal em 2025 mantêm-se positivas, de acordo com a associação hoteleira. “A melhor forma de nos defendermos deste tipo de situações é termos alternativas, e temos hoje novos mercados a vir para Portugal, turistas dos Estados Unidos, do Canadá ou também da Coreia do Sul, em resultado de mais ligações por transporte aéreo. É algo que temos de continuar a garantir”, conclui Bernardo Trindade.
Crise não afasta procura por casas
Os franceses e os alemães continuam a procurar imóveis em Portugal, pois esta crise não afeta tanto quem pode comprar casa cá, segundo os consultores imobiliários ouvidos pelo Expresso. Pedro Soares, líder da Engel & Volkers em Lisboa, considera que o facto de existir incerteza dentro dos países faz com que os investidores levem o capital para o estrangeiro, nomeadamente para Portugal. Patrícia Barão, da Dils, concorda, mas admite que “pode haver uma diminuição [da procura] mas não impactante” (Expresso, texto das jornalistas Conceição Antunes e Rita Robalo Rosa)
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