segunda-feira, dezembro 16, 2024

Hotelaria atenta à crise política em França e na Alemanha, mercados que asseguram um quarto das receitas turísticas em Portugal

Ainda sem sinais de alerta ou cancelamentos de reservas, as quedas de Governo em dois dos principais emissores de turistas estão a ser acompanhadas “com muita atenção” pela Associação da Hotelaria de Portugal. Os hotéis nacionais estão a "acompanhar com muita atenção" as turbulências políticas em França e na Alemanha, mercados que, no seu conjunto, asseguraram no ano passado quase um quarto das receitas turísticas em Portugal - cerca de 6 mil milhões de euros, num total de 25,1 mil milhões de euros.

"França e Alemanha estão no ‘top 5’ dos nossos principais emissores de turistas, são mercados históricos com um peso importantíssimo para Portugal, e encontram-se confrontados internamente com factos que não abonam em prol da confiança e da disponibilidade financeira dos seus residentes para viajar”, salienta Bernardo Trindade, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). No caso da Alemanha, país que representa a segunda maior origem das dormidas geradas por turistas externos em Portugal (que totalizaram 6,1 milhões em 2023 por parte dos hóspedes alemães), o presidente da associação hoteleira destaca a conjuntura económica com as "quebras no sector industrial, designadamente automóvel, com encerramentos e despedimentos", a que se soma "a instabilidade política com eleições no próximo ano, cujo resultado é ainda imprevisível".

O que é "previsível" para os hotéis nacionais é “o comportamento do turista alemão, que se retrai sempre que há ambientes de incerteza e surtos inflacionistas, tal como aconteceu no passado, é como se fosse uma espécie de karma” - optando estes turistas, em períodos incertos, por “fazer férias dentro da Alemanha em vez de viajar a países como Portugal”, segundo aponta Bernardo Trindade.

Emblemático, é também o caso de França, o quarto maior emissor de turistas externos em Portugal (geradores de 4,6 milhões de dormidas em 2023). O presidente da AHP realça tratar-se de “um mercado muito importante no turismo da saudade, em particular devido à fortíssima comunidade de portugueses emigrantes no país”, e enfatiza a atual “instabilidade política, com o maior protagonimo das esquerdas e direitas radicais”, a par da “situação económica preocupante”.

Apesar do crescimento de 6,2% em dormidas que registaram em 2023, os turistas franceses em Portugal têm estado este ano sucessivamente a recuar nos meses do verão, com uma quebra cifrada em mais de 35 mil hóspedes desde maio a final de outubro, comparativamente com o mesmo período do ano passado.

Turismo continua com boas perspetivas para 2025

Nos hotéis Vila Galé, onde os hóspedes alemães assumem um peso de 8,6% e os franceses de 2,8%, não se sentem ainda “sinais de alerta” traduzidos em cancelamentos de reservas por parte destes mercados, à semelhança do que também se verifica na generalidade do sector hoteleiro.

Mas tratando-se de mercados emissores de turistas para Portugal com um peso tão expressivo, as crises políticas em França e na Alemanha continuam a merecer atenção especial dos hoteleiros. “São tempos incertos e desafiantes que vamos ter de acompanhar”, nota o presidente da AHP. Apesar da turbulência política e económica que agita dois dos principais mercados emissores, as perspetivas para o turismo em Portugal em 2025 mantêm-se positivas, de acordo com a associação hoteleira. “A melhor forma de nos defendermos deste tipo de situações é termos alternativas, e temos hoje novos mercados a vir para Portugal, turistas dos Estados Unidos, do Canadá ou também da Coreia do Sul, em resultado de mais ligações por transporte aéreo. É algo que temos de continuar a garantir”, conclui Bernardo Trindade.

Crise não afasta procura por casas

Os franceses e os alemães continuam a procurar imóveis em Portugal, pois esta crise não afeta tanto quem pode comprar casa cá, segundo os consultores imobiliários ouvidos pelo Expresso. Pedro Soares, líder da Engel & Volkers em Lisboa, considera que o facto de existir incerteza dentro dos países faz com que os investidores levem o capital para o estrangeiro, nomeadamente para Portugal. Patrícia Barão, da Dils, concorda, mas admite que “pode haver uma diminuição [da procura] mas não impactante” (Expresso, texto das jornalistas Conceição Antunes e Rita Robalo Rosa)

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