sexta-feira, dezembro 13, 2024

Opinião: As raízes de uma crise anunciada

A crise, outra vez a crise na política regional madeirense, uma crise previsível, que esteve sempre latente, que tem estado sempre presente e a condicionar tudo desde Janeiro deste ano, quando várias centenas de agentes da autoridade de investigação judicial continentais, desembarcaram em Santa Catarina para a realização de uma mega operação do MP que abalou a sociedade madeirense e a política regional. Sou dos que acham, assumindo ter sido um dos que levaram um verdadeiro soco no estômago perante a sucessão de tais acontecimentos, que tudo mudou desde então - mesmo que alguns tenham dificuldade em perceber isso, ou não queiram perceber por razões e motivações pessoais, que nada têm a ver com a política e a governação... Ou que haja quem, estranhamente, ache que nada mudou, desvalorizando hipocritamente o impacto de tudo isso - até porque a cena repetiu-se no Verão com nova investida policial a gerar um novo rasto de suspeição que não poupou o próprio Governo Regional.

Estamos perante uma crise previsível, ainda por cima agravada pela inexistência de capacidade de diálogo entre forças políticas, uma crise agravada pela inexistência de maiorias estáveis e dialogantes entre si.

Por isso, não entendo a "surpresa", diria a pretensa "estupefação" com que alguns reagem quando os episódios, uns mais ridículos que outros, se sucederam de forma desastrosa, mesmo que alguns até sejam politicamente mais entendíveis que outros.

A minha percepção - e no passado a "coisa" não era nada melhor…- é que no PSD-Madeira tem havido falta de diálogo sério, desprendido, franco, pragmático, sem condicionalismos. Na certeza de que os órgãos partidários existem, não para dizerem "ámen" às lideranças - para isso nem eram precisos para coisa nenhuma e nem os partidos perdiam tempo com congressos e outras fantochadas - mas para suscitarem, quando necessário, sobretudo em tempos de crise e de incerteza, debates internos que analisem a realidade, que não vivam num mundo cor-de-rosa, que abordem e debatam os problemas de forma frontal e realista, que antecipem os cenários, preparando a gestão difícil de crises políticas, etc. Julgo que também Miguel Albuquerque, sobretudo desde Janeiro deste ano, tem-se fechado numa espécie de redoma, ouvindo os seus mais directos colaboradores que obviamente lhe dirão tudo o que ele quer ouvir, não necessariamente tudo o que ele precisaria ouvir. Talvez resida aqui, na conjugação destes dois factores apontados, um dos motivos para o cenário plausível de um potencial impasse político na Madeira, que em nada abona a favor, nem da política, nem dos políticos nem dos partidos da governação ou da oposição, nem de ninguém.

Repetidamente tenho afirmado - e não é fácil dizê-lo porque há a questão humana subjacente a tudo isto, sobretudo se a reclamada inocência, facilmente comprovada na justiça, for factual, mesmo que se saiba que só ocorrerá no tempo da justiça e depois de cumpridos os procedimentos legais sempre demorados - que os secretários regionais que ficaram mais expostos, após as acções policiais e da investigação do MP, deveriam ter-se afastado imediatamente dos lugares, gostasse Miguel Albuquerque ou não, para tratarem da sua defesa, aguardando até ao cabal esclarecimento da situação e esperando que a justiça lhes faça a justiça que repetidamente reclamam no âmbito da inocência que reivindicam. O problema não é esse, até porque ninguém julga ninguém, era o que faltava, e ninguém se atreve a questionar a sagrada presunção de inocência a que todo o cidadão tem direito até que os seus processos judiciais sejam concluídos, ou arquivados por falta de sustentação legal para serem mantidos ou, caso tenham sido julgados, a sentença do tribunal transite em julgado (LFM, texto publicado no Tribuna da Madeira, 13.12.204)

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