A crise, outra vez a crise na política
regional madeirense, uma crise previsível, que esteve sempre latente, que tem
estado sempre presente e a condicionar tudo desde Janeiro deste ano, quando
várias centenas de agentes da autoridade de investigação judicial continentais,
desembarcaram em Santa Catarina para a realização de uma mega operação do MP que
abalou a sociedade madeirense e a política regional. Sou dos que acham,
assumindo ter sido um dos que levaram um verdadeiro soco no estômago perante a
sucessão de tais acontecimentos, que tudo mudou desde então - mesmo que alguns
tenham dificuldade em perceber isso, ou não queiram perceber por razões e
motivações pessoais, que nada têm a ver com a política e a governação... Ou que
haja quem, estranhamente, ache que nada mudou, desvalorizando hipocritamente o
impacto de tudo isso - até porque a cena repetiu-se no Verão com nova investida
policial a gerar um novo rasto de suspeição que não poupou o próprio Governo
Regional.
Estamos perante uma crise previsível, ainda
por cima agravada pela inexistência de capacidade de diálogo entre forças
políticas, uma crise agravada pela inexistência de maiorias estáveis e
dialogantes entre si.
Por isso, não entendo a
"surpresa", diria a pretensa "estupefação" com que alguns
reagem quando os episódios, uns mais ridículos que outros, se sucederam de forma
desastrosa, mesmo que alguns até sejam politicamente mais entendíveis que
outros.
A minha percepção - e no passado a
"coisa" não era nada melhor…- é que no PSD-Madeira tem havido falta
de diálogo sério, desprendido, franco, pragmático, sem condicionalismos. Na
certeza de que os órgãos partidários existem, não para dizerem "ámen"
às lideranças - para isso nem eram precisos para coisa nenhuma e nem os
partidos perdiam tempo com congressos e outras fantochadas - mas para
suscitarem, quando necessário, sobretudo em tempos de crise e de incerteza,
debates internos que analisem a realidade, que não vivam num mundo cor-de-rosa,
que abordem e debatam os problemas de forma frontal e realista, que antecipem
os cenários, preparando a gestão difícil de crises políticas, etc. Julgo que
também Miguel Albuquerque, sobretudo desde Janeiro deste ano, tem-se fechado
numa espécie de redoma, ouvindo os seus mais directos colaboradores que
obviamente lhe dirão tudo o que ele quer ouvir, não necessariamente tudo o que
ele precisaria ouvir. Talvez resida aqui, na conjugação destes dois factores apontados,
um dos motivos para o cenário plausível de um potencial impasse político na
Madeira, que em nada abona a favor, nem da política, nem dos políticos nem dos
partidos da governação ou da oposição, nem de ninguém.
Repetidamente tenho afirmado - e não é
fácil dizê-lo porque há a questão humana subjacente a tudo isto, sobretudo se a
reclamada inocência, facilmente comprovada na justiça, for factual, mesmo que
se saiba que só ocorrerá no tempo da justiça e depois de cumpridos os
procedimentos legais sempre demorados - que os secretários regionais que
ficaram mais expostos, após as acções policiais e da investigação do MP,
deveriam ter-se afastado imediatamente dos lugares, gostasse Miguel Albuquerque
ou não, para tratarem da sua defesa, aguardando até ao cabal esclarecimento da
situação e esperando que a justiça lhes faça a justiça que repetidamente
reclamam no âmbito da inocência que reivindicam. O problema não é esse, até
porque ninguém julga ninguém, era o que faltava, e ninguém se atreve a
questionar a sagrada presunção de inocência a que todo o cidadão tem direito
até que os seus processos judiciais sejam concluídos, ou arquivados por falta
de sustentação legal para serem mantidos ou, caso tenham sido julgados, a sentença
do tribunal transite em julgado (LFM, texto publicado no Tribuna da Madeira,
13.12.204)
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