O comissário europeu da Economia disse hoje que o agravamento da projeção para a contração da economia portuguesa deve-se sobretudo a uma retoma abaixo do esperado no setor do turismo, e mencionou a reabertura tardia das fronteiras com Espanha. Na conferência de imprensa de apresentação das previsões macroeconómicas intercalares de verão, nas quais Portugal foi o Estado-membro que viu mais agravada a projeção de contração do respetivo Produto Interno Bruto (PIB) – Bruxelas estima agora uma recessão de 9,8%, contra 6,8% em maio –, Paolo Gentiloni admitiu que, “sim, há uma diferença nestas previsões de verão relativamente às da primavera”. “A diferença deve-se a um desempenho pior do que o esperado no primeiro trimestre e a uma recuperação mais lenta do que o previsto no turismo estrangeiro, particularmente no número de voos, e também no atraso da reabertura da fronteira com Espanha, que só aconteceu há alguns dias”, apontou o comissário. Segundo Gentiloni, esta acentuada revisão em baixa das projeções para a evolução do PIB português “confirma como a incerteza em torno de voos e do turismo global podem afetar particularmente economias muito dependentes” do setor turístico.
“Penso que como enfrentar [este problema] é uma das missões da nossa estratégia de recuperação e dos nossos pacotes [de propostas]”, declarou o comissário.
Quando questionado sobre se as previsões hoje atualizadas serão tidas em conta na decisão sobre a alocação dos apoios aos Estados-membros ao abrigo do proposto Fundo de Recuperação, Gentiloni não quis alongar-se, mas disse imaginar “que a chave de alocação será discutida pelos líderes de todos os pontos de vista, incluindo este”, no Conselho Europeu de 17 e 18 de julho, no qual os chefes de Estado e de Governo da UE vão tentar ‘fechar’ um acordo sobre o plano de recuperação (que inclui também o orçamento plurianual para 2021-2027).
A Comissão Europeia agravou hoje as suas previsões económicas para Portugal este ano face aos choques da covid-19, estimando agora uma contração de 9,8% do PIB, muito acima da anterior projeção de 6,8% e da do Governo, de 6,9%.
Nas previsões intercalares de verão hoje divulgadas, o executivo comunitário reviu em baixa as projeções macroeconómicas, já sombrias, da primavera para o conjunto da zona euro e da UE, mas mostra-se particularmente mais pessimista relativamente a Portugal, ao agravar a projeção de recessão em três pontos percentuais, apenas parcialmente compensada em 2021 com um crescimento de 6,0% (neste caso ligeiramente mais otimista do que os 5,8% antecipados na primavera).
O executivo comunitário espera então agora uma contração em Portugal acima da média da zona euro (-8,7%) e da UE (-8,3%), quando há dois meses estimava que ficasse abaixo, ao antecipar uma queda da economia portuguesa de 6,8%, contra 7,7% no espaço da moeda única e 7,6% no conjunto dos 27 Estados-membros.
“Com o confinamento a começar a diminuir em maio, a atividade económica está lentamente a retomar, mas para muitas empresas, tais como companhias aéreas e hotéis, é expectável que a mesma permaneça bem abaixo dos níveis registados antes da pandemia durante um longo período. O PIB deverá assim recuar 9,8% em 2020, antes de recuperar em torno dos 6% em 2021”, aponta a Comissão, que adverte ainda para riscos sobretudo para o lado negativo, “devido ao forte impacto do turismo estrangeiro”, setor “onde as incertezas no médio prazo permanecem significativas”.
Bruxelas nota que “a atividade económica em Portugal inverteu-se acentuadamente em março, uma vez que a pandemia de covid-19 trouxe perturbações significativas, particularmente para a grande indústria hoteleira do país”, o que levou a que, no primeiro trimestre do ano, o PIB caísse 3,8% na comparação em cadeia e 2,3% em termos homólogos, apesar dos dados muito positivos nos primeiros dois meses do ano”. A Comissão estima que, no segundo trimestre do ano, o desempenho económico se deteriore a um ritmo ainda muito mais acentuado, de cerca de 14% na comparação trimestral em cadeia, “refletindo contrações dramáticas na maior parte de indicadores económicos”.
“O turismo tem sido o setor mais dramaticamente afetado, com as visitas a colapsarem quase 100% em abril relativamente a um ano antes”, sublinha (Sapo)
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