Sector da hotelaria considera que “o mal está feito”, aconteça o que acontecer. Algarve prevê um verão “desastroso”, mesmo que o Governo britânico decida incluir Portugal na revisão prevista a 27 de julho. Manutenção do estado de calamidade em 19 freguesias da região de Lisboa acentuou ainda mais as dificuldades. “Não podemos culpar os britânicos de tudo. A culpa é nossa, porque os cuidados nos transportes públicos deixaram muito a desejar e precisamos de melhorar os números”. Os hotéis em Portugal estão com as reservas a serem canceladas e a caírem para mínimos históricos com a decisão do Reino Unido de excluir o país da lista de destinos seguros para os seus cidadãos viajarem sem terem de fazer quarentenas no regresso, devido à situação da pandemia da covid-19. A opção britânica surge num período que apanhou em cheio a época alta do turismo.
"Houve uma quebra de reservas de 70% em julho e agosto será parecido, mesmo que o Governo britânico decida incluir Portugal na revisão a 27 de julho, porque as pessoas reservam férias antes e simplesmente não virão cá", diz Raul Martins, presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP). "Mesmo antes da decisão do Governo britânico, a situação do confinamento das 19 freguesias de Lisboa teve muito impacto, deu muitas notícias negativas no mundo e provocou uma onda de cancelamentos", frisa Raul Martins, defendendo que "não podemos culpar os britânicos de tudo, eles adotaram um critério". "A culpa é nossa, porque os cuidados nos transportes públicos deixaram muito a desejar e precisamos de melhorar os números".
E a exclusão de Portugal para o corredor aéreo com o Reino Unido alastrou-se a outros mercados europeus além dos britânicos, com reflexos diretos nos cancelamentos de reservas nos hotéis. "Esta notícia teve um efeito-ricochete em toda a Europa. Um holandês que ouve dizer que os britânicos não vêm a Portugal nem quer saber porquê - e também não vem", nota o presidente da AHP.
Além dos britânicos, os hotéis sentiram cancelamento de reservas também de outros mercados, como países do Benelux, segundo o responsável da associação hoteleira. "Os espanhóis virão, porque se deslocam mas facilmente, de franceses ainda estamos com alguma procura, tal como de alemães. Mas o resto da Europa teve um retrocesso muito grande em julho, que vai continuar em agosto", prevê. "Agosto vai ser prejudicado, não digo na totalidade, mas terá um revés muito grande."
O chumbo de Portugal por parte do Reino Unido "é mau para o país em geral - e para o Algarve é desastroso". "Em Lisboa os britânicos não são tão relevantes, mas a quebra do turismo em julho foi de 75% em relação ao ano passado devido à situação dos confinamentos", sublinha Raul Martins, também dono da cadeia Altis, lembrando que os hotéis em Lisboa continuam na sua maioria fechados. "Estávamos para reabrir o Altis Belém, mas deixámos de ter reservas em julho nos nossos hotéis. E o Altis Avenida só está com 25% a 30% da ocupação", adianta.
Para os hotéis de Lisboa o panorama está longe de ser animador. "A ANA prevê para Lisboa em agosto uma quebra de 60% em bilhetes vendidos relativamente ao ano passado, mas que pode ser superior", lembra o presidente da AHP. A única esperança é a Champions League em agosto. "Ainda não foram escolhidos os oito hotéis oficiais e falta definir as equipas para os oitavos de final. Há vários hotéis com pré-reservas de equipas, sponsors, staff. Não podemos comparar com o que foi o movimento da Champions League em 2014, é natural que venham menos jornalistas, etc., mas nesta altura já será muito bom", conclui.
ALGARVE DIZ QUE "O MAL ESTÁ FEITO" E ESPERA QUE A IRLANDA LEVANTE AS RESTRIÇÕES
O 'cartão vermelho' do Governo britânico está a prejudicar sobretudo no Algarve. O impacto foi enorme, as pessoas estavam à espera do levantamento das restrições do Reino Unido para marcar férias e, como Portugal ficou de fora, cancelaram as reservas que tinham e optaram por outros destinos", faz notar Elidérico Viegas, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA).
Frisando que os britânicos representam cerca de 50% do movimento no aeroporto de Faro, um terço do total de hóspedes e 6,4 milhões de dormidas anuais no Algarve, o presidente da AHETA refere que, "embora haja alguns ingleses a vir ao Algarve, não é a mesma coisa".
E mesmo que o Reino Unido volte atrás na decisão de ter Portugal fora dos seus corredores aéreos, com a revisão a 27 de julho, "seria um mal menor pois o mal já está feito, as pessoas não decidem viajar ao Algarve de um momento para o outro". "Estamos à espera do levantamento de restrições da Irlanda [é decidido esta quinta-feira] e estamos a falar de um mercado que representa mais de 5% de turistas para a região". "Tínhamos alguma expectativa de fazer receitas em julho e agosto suficientes para estabilizar as quebras de março, abril e maio, que foram terríveis", faz notar o responsável da AHETA, referindo que "a procura internacional no Algarve vai ficar muito longe do que se esperava".
Para o grupo Vila Galé, que tem nove hotéis no Algarve, onde só os britânicos garantiam 25% do negócio em julho e agosto, “o impacto desta decisão do Reino Unido foi significativo", considera Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo hoteleiro. "Até à data não registámos cancelamentos porque também ainda não havia muitas reservas. Sabemos que muitos clientes estavam à espera da decisão para reservar e que, com a obrigatoriedade de fazer quarentena no regresso, estão a adiar a vinda, ou seja, muitas das reservas que podiam ter surgido acabaram por não se verificar", explica o administrador dos hotéis Vila Galé. "Estamos a apostar nos mercados que já estão a começar a mexer, como Espanha, Alemanha, Holanda, Bélgica ou França, além do nacional. E esperamos que esta situação possa ser revertida o mais rapidamente possível." (Expresso, texto da jornalista Conceição Antunes)
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