domingo, setembro 29, 2019

Nota: Sozinhos até caírem?

As regionais de 2019 - opinião pessoal - colocam em cima da mesa a própria sobrevivência política e eleitoral da JPP, salvo se a sua estratégia se alterar e for capaz de identificar claramente, sem se confundir com o PS - os laços afectivos contam sempre... - o seu espaço próprio na política regional e sobretudo uma marca ideológica que não tem.
Não é desajustado, nem sequer especulativo, admitir - mesmo ressalvando que se trata de eleições com natureza diferente - que as autárquicas de 2021 possam ser o mais importante desafio eleitoral e político que se coloca à JPP que em meu entender se colou demasiado ao PS-M, não percebeu as prioridades concretas do eleitorado e terá cometido um erro político quando se coligou-se ao PS-M no Funchal, em 2017, sem nada ganhar com isso.
Pelo contrário. O radicalismo político da JPP, sobretudo nos momentos das decisões, o discurso algo dúbio e ambíguo que navega ao sabor da ondulação mediática, o medo de ser colado à direita (como se a JPP tivesse alguma ideologia em concreto) - como se não nos lembrássemos, ainda nos tempos de Filipe Sousa no PS-M, que este concorreu coligado ao CDS em vários municípios regionais, e nenhum deles terá perdido a identidade por causa disso, embora tenham perdido votos que só duas eleições depois é que recuperaram parcialmente – condicionaram muito a atitude do JPP.
Vamos a factos.
Em 2015, a JPP totalizou 13.114 votos (10,3%) dos quais 6.558 em Santa Cruz (34,1% no concelho), 3.709 votos no Funchal (7%) e 930 votos em Machico (9%). Ou seja, estes três concelhos representaram 11.197 votos, 85,4% da votação total da JPP – só Santa Cruz equivaleu a 50% da votação total regional do partido.
Já nas regionais de 2019, depois de 4 anos de actividade parlamentar - que em 2015 não existia porque nesse ano concorreu pela primeira vez às regionais - o JPP teve 7.830 votos (5,5%), menos 5.284 votos que quatro anos antes. Santa Cruz representou 67% da votação do partido em toda a região - que ficou assim cada vez mais localizado geograficamente em termos eleitorais. Se juntarmos este concelho ao Funchal, 1.531 votos (2,5%) e a Machico, 442 votos (3,9%), estes três municípios totalizaram 7.220 votos, 92,2% pelo que exceptuando estes o JPP revelou-se neste acto eleitoral um partido de insignificância quase generalizada.
O problema é que depois de ter não ter concorrido às europeias em Maio, o JPP perde as regionais em Setembro, incluindo o seu bastião eleitoral (Santa Cruz) - em grande medida graças ao Caniço e Santa Cruz – passando a terceira força política em Santa Cruz deixando que PS (vencedor) e PSD juntos tenham quase três vezes mais os votos do JPP. Enquanto durar a influência eleitoral, em queda, que ainda tem em Santa Cruz o JPP não “desaparece”. Mas duvido que depois dos resultados das regionais o PS não tenha colocado na sua agenda política a reconquista da Câmara de Santa Cruz em 2021. Aliás a denúncia de uma alegada (e potencialmente provável) cambala envolvendo o PS, a agência de comunicação que trabalhou para Cafofo e uma televisão, que pode ter tido efeitos eleitorais negativos nos resultados do JPP – não o posso provar – pela desconfiança suscitada naturalmente pela reportagem foi um primeiro sinal. Não foi obviamente só por isso que o JPP perdeu tanto voto. Admito que em vez das falinhas mansas do costume e do discurso gasto e insonso da “diferença” o JPP tenha encontrado as explicações internas para a hecatombe eleitoral que alguns até estimavam maior do que aconteceu, com a previsão de apenas 2 deputados.
Não estarei a exagerar se admitir que as legislativas de domingo podem colocar em cima da mesa a própria liderança do JPP, eventualmente desgastada e que deixou de propiciar aos eleitores qualquer mais-valia concreta. Um resultado negativo que fique aquém do esperado e que represente nova queda eleitoral comparativamente a 2015, pode forçar o JPP a terá que encontrar nova liderança, repito, por desgaste total da actual. E não me parece que seja recomendável que num cenário desses, de queda eleitoral significativa, o segredo seja a sobrevivência agarrado apenas ao actual Presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz, porque isso acabará por o penalizar ainda mais num combate eleitoral que em 2021 nada terá a ver com o que aconteceu até hoje em termos autárquicos. O PS, naturalmente mais do que o PSD – com uma demorada recuperação a ser paulatinamente feita, desde as questões internas, à reconquista de posições no terreno e a um sucesso eleitoral – vai atacar a CMSC porque internamente os socialistas apenas sustentam que se limitam a recuperar eleitorado que era seu e que o JPP tinha desviado depois da cisão que levou os actuais principais dirigentes do JPP a abandonarem os socialistas por divergências que na tiveram a ver com uma prometida mas falhada rotatividade de deputados no parlamento regional.
Obviamente que isso são assuntos internos do JPP que, repito, deve abandonar um radicalismo fundamentalista assente apenas em motivações pessoais e não numa lógica política que nos tempos actuais exige muito pragmatismo que alguns estão incapacitados de garantir, refugiando-se em tretas do passado absolutamente obsoletas. Arrisco afirmar que uma colagem excessiva do JPP ao PS-M, por causa do seu desespero em perceber o que lhe aconteceu eleitoralmente - mesmo engolindo sapos ou elefantes - depois de tudo o que se passou nas regionais deste ano, será potencialmente um suicídio eleitoral antecipado. A JPP precisa urgentemente de encontrar o seu espaço próprio e de perceber as prioridades do eleitorado regional, por muito que pense que conhece o que o eleitorado de Santa Cruz quer. E encontrar as linhas mestras de um discurso político de âmbito regional  que seja convincente e mobilizador. (LFM)

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