domingo, setembro 29, 2019

Nota: nada de equívocos

Li recentemente no DN-Madeira contas feitas acerca das alegadas "perdas" eleitorais do PSD-Madeira, tendo como referência 2007, mas sem enfatizar que foram eleições excepcionais (como as de 2019 serão). Não se pode comparar os resultados do PSD-Madeira em 2007 com qualquer outra eleição regional, nem mesmo a de 22 de Setembro de 2019, pelo que pretender ter como pólos de comparação 2007 e 2019 não é sério, nem tem sustentação nenhuma, salvo a mera análise quantitativa dos actos eleitorais.
Eu explico.
As eleições regionais de 2007 foram excepcionais por dois motivos: a entrada em vigor de uma nova lei eleitoral de círculo único com 47 deputados e o facto delas se terem realizado ano e meio antes do "timing" previsto, devido ao impacto da bronca com Lisboa relacionada com a roubalheira feita à Madeira ao abrigo da Lei das Finanças Regionais pela dupla de bandalhos Sócrates-Teixeira dos Santos (os gajos que faliram em 2011 o país e chamaram a troika, lembram-se disso?).
Contudo, as mudanças na LFR, depois de uma crise política profunda - está tudo registado - que envolveu o Presidente e esteve quase a causar a queda do governo socialista de Lisboa,  seria depois derrotada mais tarde em São Bento quando todos os partidos da oposição - o PS ficou de fora - se uniram e votaram uma alteração legislativa que impediu que a RAM fosse ainda mais penalizada pela sacanice feita por Lisboa e que tinha as regionais de 2008 (que acabaram por não se realizar) como referência temporal.
A verdade é que devido a essa bronca o Governo Regional demitiu-se em protesto - eu na altura, bem por dentro desta guerra, defendi e escrevi que a opção deveria ser a demissão e a exigência de eleições antecipadas - e o PSD-M com uma maioria absoluta folgada recusou viabilizar no parlamento qualquer outra solução, pelo que apareceram as primeiras eleições antecipadas na RAM.
Mais.
O ambiente na Região era de protesto generalizado pela injustiça cometida e o PS-Madeira - na altura de Jacinto Serrão entretanto regressado ao parlamento regional... - totalmente submisso a Lisboa e pressionado por Sócrates e a poderosa máquina que o rodeava no partido no Rato, acabou sofrendo uma das suas piores derrotas eleitorais, senão mesmo a pior derrota eleitoral por causa disso.
O PSD-Madeira, graças a uma campanha eleitoral essencialmente de revolta e de protesto, alcançou mais de 90 mil votos, algo nunca antes conseguido, garantindo para além do seu eleitorado mais fiel uma parcela numerosa do chamado eleitorado flutuante, que vota sem compromissos com os partidos - o mesmo eleitorado que na minha opinião deu a Cafofo (ao "independente" Paulo Cafofo a votação que teve e nunca antes alcançada, e não ao PS-Madeira).
Portanto comparar quantitativamente eleições é natural e possível, mas a análise fica distorcida se aquela realidade a que me referi antes, no caso das regionais de 2007, não for considerada.
Vejamos:
- Regionais de 2004
Votantes - 137.693
PSD - 73.904 (53,7%)
PS - 37.898 (27,5%)
- Regionais de 2007
Votantes - 140.721
PSD - 90.339 (64,2%)
PS - 21.699 (15,4%)
- Regionais de 2011
Votantes - 147.344
PSD - 71.556 (48,6%)
PS - 16.945 (11,5%)
- Regionais de 2015
Votantes - 127.545
PSD - 56.569 (44,4%)
PS - 14.574 (11,4%) - coligação com PTP, PAN e MPT
- Regionais de 2019
Votantes - 143.190
PSD - 56.448 (39,4%)
PS - 51.207 (35,8%)

As regionais de 2011 foram, na minha opinião, as eleições mais difíceis de sempre para o PSD-M, devido ao impacto negativo do chamado "buraco" financeiro e do medo que as pessoas tiveram pela austeridade que chegou através do PAEF, em 2012. Com elas chegou o princípio da descida eleitoral do PSD-M que se viria a confirmar nas autárquicas de 2013 e culminou com as regionais de 2019, depois do negativo ano eleitoral de 2015 e do "mais do mesmo" nas autárquicas de 2017 (LFM)

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