terça-feira, agosto 06, 2019

Nota: página virada

Para o líder de um partido - e eu sei bem do que falo, depois de mais de 20 anos envolvido nesses ambientes... - sobretudo quando precisa de negociar algumas opções e escolhas com outros, no seio do seu partido, o escalonamento de candidatos, a escolha de nomes, de uma maneira geral todo o processo de elaboração de uma lista única de candidatos para eleições parlamentares como as regionais de 22 de Setembro, é um dos piores momentos.
É um tempo de quase solidão que se caracteriza por muita pressão e gera instabilidade emocional complicada, por muito forte que sejam as lideranças. Há sempre pessoas que recusam envolver-se e não aceitam os convites, outras que reagem mal porque acabam afastadas (o que não pode acontecer é que não sejam dadas explicações plausíveis), outras com expectativas que acabam por sair goradas, outras ainda que ficarão agastadas com  o posicionamento na lista, diferente do esperado, outras que recusam ser ultrapassados por independentes sem militância partidária e sem actividade política conhecida que normalmente chegam aos partidos – quando há ofertas aliciantes... -  quais paraquedistas apontando a posições de elegibilidade alegadamente garantida, etc.

Há situações bem piores, aquelas que estão associadas a fragilidades pessoais e políticas, a um défice de afirmação decorrente de uma óbvia falta de capacidade de liderança e a uma inegável ausência de determinação, fragilidades estas que obrigam a uma inevitável partilha com outras pessoas da sua confiança, de decisões relacionadas com as escolhas de candidatos, sobretudo nos casos mais polémicos. Ora é sabido que essa partilha do processo de decisão nos partidos, se não for bem conduzida, abre portas à institucionalização do amiguismo e quem sabe se de coisas bem mais perigosas do que isso e que ultrapassam os limites do tolerável em política.
Portanto, quero com isto basicamente dizer que, sabendo como tudo isso se processa, sabendo que em política o primado do "rei morto, rei posto" está generalizado e banalizado, recuso analisar qualitativamente listas de candidatos, independentemente de poder naturalmente discordar de várias tretas.
Falo, nomeadamente do recurso patético a "independentes" pintados de salvadores da política e dos partidos, quando na realidade nem um voto rendem - em política ser "independente" é chique e virou um chavão sem validade, que, repito, não dá votos a ninguém e revela, mais do que as carências dos partidos que assim procedem e a falta de sua confiança nos militantes que dão a cara pelo combate político, o recurso a quem demonstra uma lamentável falta de coragem para assumirem as suas convicções e delas darem pública demonstração. Acresce que esta conversa da treta pode esconder ainda muito oportunismo, aliás cabalmente demonstrado em exemplos anteriores que eleitoralmente se revelaram um "flop" político.
E digo isto porque os partidos existem para terem militantes e simpatizantes, não são feitos de "independentes" cinzentos que se tornam perigosos quando são pessoas passíveis de negociar com  qualquer um, refugiados na demagogia de estatutos de "independência" que mais não são do que uma desonestidade intelectual.
Não vou alimentar também a polémica em torno – apesar das minhas fortes reservas, e são muitas, de um fenómeno novo na política regional, que é o de valorizar excessivamente a pretensa "representação" de emigrantes sem que se saiba se o universo desses emigrantes se revê nessas pessoas escolhidas pelos partidos, e que entretanto verão resolvida a sua vida pelo menos nos próximos 4 anos de mandato (caso sejam eleitos).
Digo isto sabendo - e reconheço que em nome do politicamente correcto há coisas que não se dizem, mas eu digo-as porque estou liberto de tudo e estou-me nas tintas para o que pensam ou digam - que basta que Maduro caia na Venezuela para que 80% ou mais dos emigrantes madeirenses que hoje se encontram na Madeira regressem imediatamente à Venezuela. E compreendo que assim seja, aliás, acho-o inevitável. Eu faria o mesmo e estava-me nas tintas para a política e os políticos regionais que nada me dizem.
Acresce que a Madeira, que durante anos viveu muito também à custa das remessas dos nossos emigrantes que permitiam, por exemplo, o endividamento da RAM junto da banca - muito graças aos movimentos financeiros oriundos do estrangeiro que eram olhados como uma espécie de “garantia” - infelizmente quando se viu confrontada com a crise na Venezuela, e com todos os dramas sociais que motivaram a fuga de milhares de pessoas, nunca demonstrou, no caso dos madeirenses que se instalaram na Madeira uma solidariedade sem limites, nem uma disponibilidade para facilitar a sua integração. Estamos a falar de segundas e terceiras gerações, de jovens que acompanharam os seus pais nessa fuga da ditadura, da fome, da pobreza e da carência generalizada, mas que se sentem deslocados, que sabem que por razões várias são olhados com distanciamento, que dificilmente se integrarão plenamente na sociedade madeirense, que já perceberam as limitações económicas da Madeira e que rapidamente entenderam a amplitude da fofoqueira, da inveja e da má-lingua desta terra que em tudo o que é sítio, particularmente nas redes sociais, evidenciava tristes e abjectos sinais de aversão aos regressados, à sua capacidade de trabalho, à sua disponibilidade, à sua dinâmica, etc sobretudo quando lhes são dadas oportunidades para uma mais rápida e eficaz integração na sociedade madeirense pelo menos enquanto cá estiverem.
Portanto quando se escolhem estes alegados "representantes" de emigrantes, que vivem na Madeira nestas circunstâncias, estamos a falar de oportunismo político e de demagogia que tem que ser desmistificada já que tudo se resume a uma caça ao voto generalizada. Menos pelos partidos da esquerda mais fundamentalista que são apoiantes de Maduro e da ditadura venezuelana. O problema é que os emigrantes madeirenses residentes no estrangeiro, tal como os demais compatriotas residentes no exterior, praticamente não votam e quando o fazem atingem valores insignificantes. Os números demonstram isso mesmo, comprovam esse distanciamento que devemos entender e que continuará assim, independentemente de transitoriamente estarem a viver na Madeira até que a realidade se altere no país de naturalidade ou de acolhimento.
Repito, a esmagadora maioria das pessoas, sobretudo as segundas e terceiras gerações, que foram forçadas a abandonar a Venezuela - lembro que não tivemos esse fenómeno no caso a África do Sul, apesar das enormes mudanças sociais, económicas e políticas ali registadas, porque não tivemos o fenómeno de uma ditadura como em Caracas - pensam na mudança na Venezuela, sonham com o regresso, pensam no retomar da sua vida no país onde nasceram e não querem nada com a política e os políticos locais que apenas por interesses eleitorais de caça ao voto manipulam uma realidade que não se compadece com os tais candidatos pomposamente pintados de alegados "representantes" de emigrantes mas que na realidade não mobilizam nada, não propiciam votos nem representam coisa nenhuma.
Tal como no futebol discordamos dos treinadores ou dos jogadores contratados em relação aos quais muitas vezes nos manifestamos contra - muitos deles catalogados de velhos, cambados, pés-de-chumbo, jogadores de sofá, etc - mas apoiamos sempre o nosso clube e queremos que ele conquiste todos os sucessos, também na política podemos ter opiniões diferentes, discordâncias mais ou menos radicalmente antagônicas, até desconfianças - e sim, tenho muitas reservas e muitas dúvidas que porventura alimentariam despropositadas especulações nesta altura absolutamente irrelevantes - considero que este processo da lista está encerrado e que os candidatos escolhidos para a lista do PSD-M globalmente darão (terão que dar) garantias de combate, competência, empenho e sobretudo de respeito e ligação com o povo, não tendo medo de ouvir as pessoas, não se refugiando nas esquinas ou escondendo-se na própria sombra para que não deem por eles, etc.
De uma maneira geral os candidatos cumprem os requisitos que o PSD-M sempre fez questão de honrar e de cumprir (nomeadamente a liderança da JSD e a inclusão destacada de candidatos associados aos concelhos, não seus representantes porque não foram eleitos por ninguém nem mandatados para tal).
Agora há que mobilizar a máquina, organizá-la, colocá-la no terreno, definir prioridades, elaborar dossiers, antecipar quais as matérias que serão colocadas na agenda mediática eleitoral pelas diferentes formações políticas, etc. Porventura fazendo uma espécie de análise swot à campanha eleitoral, uma antecipação da postura dos partidos da oposição durante a campanha, do tipo de discurso político, das propostas – se é que todos o farão -  dos principais temas que serão usados por cada um deles como bandeiras fundamentais nesta desesperada caça aos votos, estando atento a divergências que podem fragilizar a oposição, etc. Há um manual de procedimentos essenciais para cada acto eleitoral.
Estas regionais de 22 de Setembro nada têm a ver com as anteriores, nomeadamente as europeias de Maio cuja porta foi encerrada no dia seguinte. Tenho receio que pessoas que nas autárquicas foram derrotadas (não vou discutir o tema agora), que não deram votos ao PSD - nalguns casos até os tiraram - sejam de repente pretensas mais-valias eleitorais nas regionais, mesmo sabendo-se que se tratam de eleições diferentes. Melhor seria que se tivessem resguardado porque nestes momentos em que os combates serão disputados quase "corpo-a-corpo", palmo-a-­palmo, não há lugar nem para tolerância com ambições pessoais nem com exemplos de fome de projecção mediática, gangrenas que em circunstância alguma podem condicionar escolhas e ser causa de afastamentos de terceiros.
É isto que me oferece dizer sobre um tema que para mim é assunto encerrado. Globalmente,insisto, a lista de candidatos equilibrou-se e neutralizou as histerias desafinadas de algumas personagens da oposição que usaram a questão da mulher-candidata não numa perspectiva da protagonista essencial e competente na vida política, mas tão-somente como uma bandeira de ataque de uns contra outros. Vamos a isso porque vai dar. E sabem porquê? Porque o povo não é estúpido. (LFM)

Nota: Uma palavra de saudação e de estímulo aos que participam pela primeira vez nestas lides e se candidatam pelo PSD, desejando-lhe a melhor sorte do mundo, sobretudo aos que serão eleitos e um abraço muito especial pelo regresso à primeira linha do Valter Correia, do Gualberto Fernandes, do Savino Correia, do Rui  Coelho, do Nuno Maciel, militantes de base, históricos e que conhecem bem a política, o partido e o meio parlamentar. 

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