Não há volta a dar nem podemos estar com paninhos
quentes.
Os resultados das eleições autárquicas para o PSD
Madeira constituíram mais um aviso, o terceiro consecutivo, de que é preciso
fazer alguma coisa. Ou que, em aditamento a essa constatação, transmitiram a
ideia de que há uma mudança política e eleitoral que pode ter muito a ver com a
própria mudança geracional no universo eleitoral da Região.
Depois dos piores resultados nas regionais de 2015
- maioria absoluta por um deputado e por escassa margem de votos - e nas
legislativas nacionais - perda de um mandato e descida acentuada da votação -
seguem-se agora as autárquicas - pior resultado eleitoral de sempre e apenas 3
camaras municipais - ainda por cima num quadro em que a abstenção registou uma
estabilização, não se agravando como era habitual.
Acho que não precisamos de mais argumentos para
reconhecer que é preciso, o PSD, fazer alguma coisa e rapidamente, pensando em
2019 que será um ano eleitoral exigente.
Os resultados de domingo terão impacto negativo na
base eleitoral do PSD que dificilmente sentirão alguma motivação sobretudo nos
concelhos onde eleitoralmente as coisas correram mal. Ficam sempre mas e para
que esse desencanto não se acentue o PSD tem que ir rapidamente para o terreno.
- ERROS
Acho, pelo que constatei e me testemunharam, que
foram cometidos erros no processo de escolha de alguns dos candidatos, foram
tomadas opções sem ter em consideração o que pensavam as pessoas sobre as diferentes
alternativas em cima da mesa, suspeito que foram tomadas decisões por imposição
- em 2013 também se verificou isso - que acabaram por gerar desagrado, causar
divisões, afastar pessoas. Sei de militantes históricos do PSD que apoiaram
candidaturas que não as social-democratas, mas que continuarão a ser eleitores
do PSD nas regionais.
O PSD é o partido mais votado em termos
individuais, tal como foi em 2013, mas dificilmente pode reclamar vitória
eleitoral. No caso das autárquicas são os votos que elegem mandatos que é o que
realmente conta neste ato eleitoral, as câmaras e as freguesias ganhas ou
perdidas.
Admito que tenha havido influencia, direta ou
indireta, positiva para o PS ou negativa para o PSD, quer da governação atual
liderada por António Costa - o PS obteve o melhor resultado de sempre a nível nacional
- quer do negativismo subjacente e ainda presente associado à governação do
executivo de Passos Coelho (a par do discurso que este tem insistido), e que
acabou por propiciar ao PSD o pior resultado de sempre nas autárquicas em
termos nacionais. Estes factos têm sempre influência, e a Madeira não é exceção.
-
SURPRESA
Mais do que a recuperação do Porto Santo por uma
margem mínima de votos, ou o reforço de Cafofo no Funchal, a principal surpresa
foi sem dúvida a queda da Ponta do Sol - que foi sempre um bastião
social-democrata, embora neste concelho a gestão política tenha assentado nos
últimos tempos num acumular de erros intoleráveis, muitos deles motivados ainda
pelo fato de Miguel Albuquerque não ter ganho as diretas de 2015.
O que se passou na Ribeira Brava era um cenário que
esteve sempre presente há muito tempo e que indiscutivelmente resulta de erros
próprios, de algumas deficiências no processo de escolha de candidatos. Conheço
Ricardo Nascimento, sei que foi apenas eleito em 2013 para um primeiro mandato,
é uma pessoa séria, pelo que não entendi o que é que levou ao seu afastamento,
num concelho que foi sempre fiel ao PSD, salvo o facto de ter apoiado nas
diretas de 2015 um outro candidato nessa corrida. Ninguém conseguiu desmentir
até hoje, de forma séria, esta suspeição que se instalou há muito junto das
pessoas, desde logo entre os eleitores da Ribera Brava que deram a Nascimento
uma vitória ainda mais folgada do que a obtida em 2013.
O PSD precisa de acabar com ajuste de contas,
precisa de chamar pessoas colocadas à margem porque lhes colocaram um carimbo
na testa de "jardinista" e tem que entender que a renovação não pode
ser conflituosa nem se pode o limitar a mudar pessoas, muitas delas sem perfil
e sem com preparação para assumirem responsabilidades políticas. Acho que não
se pode abusar de conceitos de renovação que basicamente se confundem com ajustes
de contas entre pessoas, muitas vezes vivendo em meios pequenos atitudes que,
por isso, acabam por ter repercussões sociais e políticas negativas.
Aliás se nos baseássemos nos resultados de 2015 e
agora nos de 2017, provavelmente as conclusões, politicamente falando, teriam
de ser bem mais complexas.
Os partidos e os políticos dizem sempre que em
democracia o povo é que tem razão. Contudo acham sempre que o povo vota bem ou
mal se os resultados vão ou não ao encontro das expectativas desses políticos e
desses partidos.
O povo madeirense votou uma vez mais bem,
independentemente de quais tenham sido as suas opções nas urnas. E há que respeitar
essa escolha. Para mim a decisão expressa nas urnas é sagrada. Não admito
sequer que ela seja posta em causa como repetidamente aconteceu no passado
quando partidos e políticos da oposição tentavam encontrar desculpas idiotas
para justificar derrotas ou explicar vitórias dos adversários.
Há gente que durante anos - de não falo no PSD -
tratou depreciativamente os eleitores madeirenses, sobretudo das zonas não
urbanas, catalogando-os de "vilões" (ou a "viloada"),
tentando passar um testado de menoridade às pessoas só porque votavam
repetidamente PSD. Lembro-me muito bem disso
A verdade é que ontem como hoje a legitimidade do
voto é inquestionável e o povo vota sempre bem. Com autoridade democrática e
moral.
Aliás, e curiosamente, tem vindo a aumentar a prova
de que o eleitorado madeirense está cada vez mais esclarecido sobre o que faz e
de quais são as suas prerrogativas e escolhas. Por exemplo nestas eleições
autárquicas nota-se que há diferenças acentuadas nos resultados para as Câmaras
ou as Juntas de Freguesia, na mesma secção de voto, tudo porque há uma
componente pessoal, de confiança pessoal entre o eleitor e o candidato que
determina essas oscilações eleitorais. Por exemplo, vemos numa freguesia um partido
A ser o mais votado, ganhando a Junta, mas o partido B ser o mais votado, pelas
mesmas pessoas, para a Câmara Municipal.
Julgo que o PSD - e demais partidos em geral -
precisa entender que há uma renovação no universo eleitoral regional. Ou seja,
há uma renovação geracional, muita gente que durante anos, décadas, constituiu
uma fiel e numerosa base de apoio e sucesso eleitoral do PSD, que deixou de o
ser, ou porque as pessoas foram falecendo naturalmente, ou porque estão
desmotivadas devido ao impacto negativo da crise de 2011 e da austeridade nojenta
que se seguiu, ou porque simplesmente não deixaram de votar, desinteressando-se
dos processos eleitorais.
- FUNCHAL
O que aconteceu no Funchal é sobretudo uma vitória
que tem um cunho pessoal de Cafofo e o mérito de uma máquina eleitoral que
nunca poderia ser enfrentada e derrotada com base num discurso demasiado
generalista, assente em promessas ou banalidades. Quem está na oposição não
pode cair nesse erro. Ou marca a agenda, ou assume o comando do debate político,
ou vai ser trucidado. No Funchal houve vários trucidados. O que faltou foi
sobretudo a componente política. E falhou - mas confesso que também não sei o
que dizer quanto a isso - a mensagem a dirigir aos eleitores tentando
estabelecer a diferença entre duas candidaturas. Por que razão votar em A era
diferente do que votar em B? O que ficaria a ganhar a cidade se as pessoas
votassem em A e o que perderia a cidade se as pessoas votassem em B? A opção
foi pelo ataque à gestão camarária, por vezes pormenorizada (sem interesse para
os cidadãos em concreto) que tendo tido - e teve - pontos negativos teve também
alguns positivos.
O PCP foi o primeiro derrotado, a primeira vítima
dessa indefinição, devido a uma postura, depois das eleições de 2013, que não
está de acordo com a atitude do PCP junto das pessoas e o trabalho de campo que
realiza.
O PCP é um partido que trabalha muito diretamente
com as pessoas, que dá atenção às zonas altas do Funchal, mas tem que perceber
que há eleitoralmente uma tremenda volatilidade em tudo isso. Basta que consultem
os resultados das seções de voto para perceberem que provavelmente esse
trabalho de campo depois não tem retorno eleitoral. Acresce que o eleito do PCP
entre 2013 e 2017 "desapareceu", diluiu-se no executivo camarário,
surgiu demasiado colado a este, passando a ser olhado como apenas mais um.
Nunca o PCP conseguiu criar junto das pessoas a ideia de que votar neste mesmo
candidato comunista era diferente de votar Cafofo. Ora a praxis desmentiu o que
não deixa de ser estranho depois do espetacular resultado de Edgar Silva nas
presidenciais de 2016.
O PCP, apesar de não ter grande expressão regional,
tem que repensar um pouco a sua postura neste domínio, já que o calculismo
evidenciado - e que por pouco não ia penalizando também o CDS pelos mesmos
pecados dos comunistas... - acabou por colocar na mesma floresta árvores
diferentes.
Rubina Leal fez o que podia fazer. Acho que não
tinha uma máquina politicamente agressiva - no bom sentido ara enfrentar o
grupo de Cafofo. A ideia de que há que mudar o discurso só por mudar,
tornando-o mais vulgar e generalista, é uma tontice. Vejam a campanha de
António Costa a nível nacional a forma frontal e contundente como politicamente
geriu o confronto com os opositores do PS e os resultados que conseguiu
alcançar com isso.
Fazer uma campanha assente na apresentação de uma
sucessão de promessas - aparentemente houve ou não um manifesto eleitoral que
funcionasse como o compromisso entre uma candidatura e o eleitorado? - deixou a
ideia de que não houve também a preocupação quanto a um levantamento prévio dos
problemas da cidade, ouvindo as pessoas mesmo antes de formalizar candidaturas.
As pessoas gostam de ser ouvidas, gostam de ser consideradas e envolvidas. Por
isso as promessas iam surgindo com a própria evolução da campanha, enquanto
Cafofo se limitava a prometer mais do mesmo e a melhorar o que fizera até
então.
Não foi fácil a Rubina Leal enfrentar uma máquina
de propaganda eleitoral - de Cafofo - que nada teve a ver com o PS mas que
agora, de forma oportunista, tenta colar-se e captar vantagens que não são dos
socialistas mas antes partilhadas por todos os partidos que integraram a
coligação.
Penso também que o PSD começou a tratar de forma
séria esta candidatura muito tarde, deveria ter tratado do assunto mais cedo,
sem dar nas vistas, porque sabia que estava em desvantagem.
Vou dizer uma coisa que pode não agradar mas é
real: o processo eleitoral no Funchal, na ótica do PSD, começou demasiado tarde
e também suspeito que o PSD acreditou demasiado no eventual sucesso de uma
candidatura que logo nos primeiros sinais (sondagens) deveria ter alterado a
estratégia eleitoral que confesso não saber se foi dirigida apenas pela própria
candidata se pelo partido. A candidatura, sem ofensa para ninguém, salvo um ou
outro nome, também não integrava pessoas que mobilizassem com a sua presença os
eleitores. Havia muita gente conhecida nalguns meios sociais mas que para a
generalidade das pessoas não era. E hoje as siglas como no passado deixaram de
ser garantia de sucesso eleitoral. Passou a haver uma conjugação de fatores que
antes, e durante anos, se sentiam de forma mais ténue.
Eu percebo que a ideia era renovar, mas a renovação
não pode ser feita nestes termos, tanto mais que o PSD tinha na Madeira dois
grandes exemplos - nas eleições de 2015 - de que as renovações feitas a
martelo, apressadamente e com algum radicalismo à mistura acabam por virar-se
contra os próprios.
E
agora?
Desde logo estes resultados dão legitimidade a
Albuquerque para tomar decisões. Ele tem que pensar por si e decidir por si,
sem pressões, sem dar muita atenção a sugestões mesmo de pessoas que trabalhem
com ele. Ele tem que olhar para a realidade política e eleitoral entretanto
criada - e sei que o pode fazer porque o conheço há muitos anos e é uma pessoa
inteligente e séria - e perceber que o PSD precisa de recuperar uma parcela
muito importante do seu eleitorado, que apoiou candidaturas de cidadãos, que
eventualmente votou em candidaturas de outros partidos ou se manteve na
abstenção por descrença. As eleições regionais de 2019 serão diferentes, como é
evidente, julgo que serão as mais difíceis de todas a provavelmente as mais
decisivas para os social-democratas.
O PSD porventura terá que ter uma outra forma de
estar no terreno, de se organizar e de funcionar, o encerramento de sedes,
inevitável por causa de questões financeiras, distanciou ainda mais a estrutura
dirigente das bases e das estruturas intermédias de direção local ou municipal,
pelo que há que encontrar outras alternativas que mantenham esse contacto e
essa auscultação. Há que ouvir os militantes e essas estruturas dirigentes. Não
podemos estar a impor soluções a partir do Funchal ou julgar que sentados em
confortáveis sofás na capital temos o puzzle da realidade regional. Não temos.
COMICIOS
ENGANADORES
E por favor, deixem-se de “falsificar” comícios, de
encher os locais com militantes e simpatizantes levados de um lado para outro,
para dar uma ideia de pujança através dos média, mas que distorce a realidade e
acaba por alimentar a ideia de que as cosias estão "bem," quando na
realidade o que se passa é a construção de uma imagem leia-se, de uma realidade
eleitoral, sem correspondência com a realidade social na freguesia ou no
concelho. Aliás esta questão nem é de hoje, não é apenas um problema do PSD.
-
CONGRESSO?
Não acredito que seja preciso um congresso porque
isso fragilizaria ainda mais o PSD regional. Não há movimentos organizados de
contestação da liderança - há vozes isoladas que criticam ou contestam, mas que
aos olhos dos militantes e da opinião pública poderiam significar um retorno a
um passado recente que também uma das causas do que hoje se passa com o PSD
regional.
Miguel Albuquerque tem que chamar a si a condução
do assunto, politicamente falando, tem que agarrar o boi pelos cornos como se
costume dizer e tomar decisões que recoloquem o PSD nos caminhos da política
pura e dura. Se entender convocar um congresso para se legitimar e proceder a
essas alterações é uma decisão dele. Não creio que para já seja essa a opção.
Não vi - mas o erro pode ser meu - membros do
governo envolvidos nesta campanha eleitoral, dando ajuda a candidaturas mais
fragilizadas que porventura não recusariam uma solidariedade a esse nível. Vi o
Presidente do Governo e do partido empenhado, marcando presença em comícios,
mas não vi nenhum dos demais membros do governo - admito que muitos deles não
tenham perfil político e não se sintam muito à-vontade neste domínio, com o
devido respeito, das campanhas eleitorais propriamente ditas. Não sei se foi
uma opção do PSD ou do Governo Regional, desconheço em absoluto, não sei se foi
uma opção das candidaturas prescindirem da presença dos membros do Governo.
Mesmo tratando-se de um pormenor insignificante para alguns, é uma matéria que
deixa no ar muitas interrogações e que pode suscitar alguma polémica.
Que fique claro, enquanto militante do PSD. Amigo
de longa data do líder, desde a meninice, estou com Miguel Albuquerque 100%.
Digam dele o que disserem. Estou-me nas tintas, rigorosamente. Só lhe peço que
não se esqueça daquela frase “Rei fraco
faz fraca a sua gente” - LFM
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