Quase não demos por isso, porque os nossos media estão
ocupados com as eleições dos EUA, mas houve umas eleições nos Açores. Na
verdade, a maioria dos portugueses mal sabe da existência da assembleia
legislativa açoriana.
É o mal dos açorianos não terem um deputado como o
José Manuel Coelho, que, com o seu trabalho parlamentar, nomeadamente ao nível
da colecção de bandeiras nazis, fez com que todos já tenhamos visto imagens da assembleia
madeirense.
Quem também quase não deu pelas eleições nos Açores
foi a maioria dos açorianos. Houve 59,1% de abstenção. Qual é a desculpa?! Não
me venham com o desinteresse na política. Estamos num domingo, nos Açores, será
que há alguma coisa para fazer para além de ir votar?! As eleições regionais
nos Açores não deviam ser recebidas pelos ilhéus como, por exemplo, um concerto
da Beyoncé?! Ou, vá lá, dos Dama.
Mais de metade das pessoas da Ilha do Pico não foi
votar porquê?! Porque nesse dia também havia Open do Pico, para o Master de
ténis, e coincidia com a reunião dos G7 e Pico, e acabou muito tarde? Que
desculpa é que um habitante do Pico tem para não ir votar, quando basta
levantar-se da cama e dar vinte passos em qualquer direcção e dá um encontrão
numa urna de voto?
Este desprezo dos açorianos pelos actos eleitorais vem
ao encontro da minha teoria de que já chega daquela coisa de, quando há
eleições nacionais, ter de ficar à espera dos Açores para saber as primeiras
projecções de voto. Entre as sete e as oito da noite, ficam dez milhões de
portugueses à espera de dois pastores do Corvo e de uma senhora de idade das
Flores, que lhe dói o joelho, e ainda não sabe se vai votar. Porque é que não
começam a votar uma hora mais cedo e fecham uma hora antes? Às dezoito horas,
de domingo, nos Açores, já não há ninguém na rua, a não ser que haja um tremor
de terra.
O resultado final das eleições regionais dos Açores,
em termos de deputados, foi: PS: 30; PSD: 19; CDS: 4 BE: 2 CDU: 1 PPM: 1. Sim,
leram bem, o Partido Popular Monárquico elegeu um deputado no Corvo. O que faz
o isolamento, não é? Não tenho nada contra monárquicos, pelo contrário, até sou
monárquico, mas na clandestinidade, porque não gosto de fazer figuras ridículas
em público.
Não vejo justificação para, no ano de 2016 da graça do
Senhor, haver uma ilha portuguesa que deseja a monarquia. Bem sei que são só
seis quilómetros e meio de comprimento por quatro de largura. É mais ou menos o
equivalente à superfície de um Ikea. Mas eu não punha o Dom Duarte a gerir uma
loja do grupo sueco.
Faz um bocado de confusão ver os corvinos elegerem um
deputado do PPM. Não é por morarem numa fajã lávica que vos posso desculpar
tudo. Vocês ainda são, para aí, uns trezentos a votar. Em oitenta e tal que
votaram PPM, de certeza que havia alguém sóbrio que podia ter tentado acalmar
os outros mais bebidos (texto de João Quadros, Jornal de Negócios com a devidavénia)
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