Mais duas horas e uma das principais estações mundiais teria
simplesmente acabado. O ataque levado a cabo em abril do ano passado começou
por ser reivindicado pelo Ciber Califado, mas acabou por ser atribuído a
hackers russos, sem motivação aparente. Foi durante o jantar comemorativo do
lançamento de mais um canal de TV que Yves Bigot, diretor da TV5Monde,
descobriu que a estação de televisão estava a ser alvo de um ciberataque de
grandes proporções. Segundo os alertas que lhe chegavam, os 12 canais geridos
pela estação francesa tinham sido retirados do “ar”. E a situação estava cada
vez trágica: à medida que o tempo ia passando, o ciberataque ia inutilizando
cada vez mais sistemas e nós que compõem a rede de TV francesa. É o próprio
Yves Bigot que confirma que a TV5Monde esteve em vias de sucumbir perante a
investida dos hackers: «Mais duas horas e teríamos ficado com toda a estação
televisiva destruída».
Pelos termos descritos na BBC, na TV5Monde o dia 8 de
abril de 2015 fica para a história como um contrarrelógio pela sobrevivência da
estação. Qualquer atraso na emissão poderia representar o fim dos contratos com
as distribuidoras de canais de TV. E apenas uma feliz coincidência haveria de
salvar a companhia. Nesse mesmo dia, alguns dos técnicos encontravam-se na
estação televisiva devido ao lançamento de mais um canal. A presença de alguém
com conhecimento detalhados das máquinas que suportam as emissões televisivas
diárias haveria de ser determinante para identificar e localizar uma das
máquinas que desencadearam os ataques. Com o corte do acesso à que essa máquina
usava, o ciberataque ficou mitigado. O diretor da TV5Monde não tem qualquer
prurido em considerar o homem que conseguiu barrar o acesso à Net da máquina
infetada como um herói.
Investigações posteriores viriam a apurar que o atacantes começaram por
se introduzir na rede dominada pela TV5Monde em janeiro. Nos quatro meses que
se seguiram, os ciberatacantes trataram de se expandir para as várias máquinas
ligadas à rede da estação televisiva francesa. E só depois de criarem sete
pontos de intrusão o ataque viria a ser lançado no já referido dia 8 de abril.
Segundo o relato do diretor da estação televisiva, o regresso à normalidade só
se deu por volta das 5h25 (de França), com o restabelecimento das emissões de
um dos 12 canais da TV5Monde. O bem sucedido regresso às transmissões não pôs
termo aos efeitos negativos do ataque: nos meses seguintes as redações da
TV5Monde voltaram a usar faxes (o e-mail e o acesso à Net estavam proibidos) e
o regresso à Net só foi reiniciado depois de ter sido contratualizado um
serviço de segurança eletrónica com um custo de cinco milhões de euros durante
o primeiro ano de funcionamento, que será seguido de anuidades de três milhões
de euros nos anos seguintes. Com o regresso à normalidade, o mistério do ataque ficou sanado – mas
houve outro que nunca se resolveu. O ciberataque começou por ser reivindicado
por um autodenominado Ciber Califado, mas as autoridades francesas viriam pouco
depois informar Yves Bigot que, apesar dessa reivindicação, o ataque teria sido
desencadeado por hackers russos. «Há duas coisas que a investigação (policial)
provavelmente nunca vai conseguir deslindar. A primeira é: porquê nós, porquê a
TV5Monde? E a segunda é: quem deu a ordem e o dinheiro para o grupo de hackers
russos ter levado a cabo aquele ataque?», conclui Yves Bigot (ExameInformática)
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