sábado, agosto 20, 2016

Opinião: mediatismo, comunicação social, eleições, protagonismos, disputas cegas, guerras surdas.....

Bem ou mal, provavelmente depois da situação ter ficado sob controlo, os ânimos desesperados terem acalmado, admito que as eleições autárquicas no que ao Funchal diz respeito, estiveram presentes, permanentemente presentes, em tudo o que foi feito, dito ou decidido no pós-sinistros. Não alargo esta minha percepção ao período mais complexo de tudo o que se passou.
Como não gosto de meias conversas e acho que as pessoas há muito que perceberam o que se passa, vamos a factos:
1 - OS CANDIDATOS - o PS regional ainda não tomou uma decisão oficial sobre o processo eleitoral no Funchal, julgo que continua a não ter a decisão tomada - o que é normal e igual a todos os demais partidos - embora Carlos Pereira, que me parece não ter boas relações com o edil funchalense, tenha ficado com um reduzido espaço de manobra. De facto, se oficiosamente era conhecido o interesse de Cafofo em continuar no Funchal e, por outro, era sabido também que Pereira alimentava uma dúvida, reflexo ainda do facto de ter estado localizado em determinados elementos da CMF a oposição interna mais visível (e perceptível) quando Pereira se candidatou à liderança socialista regional, depois dos  incêndios e do mediatismo de Cafofo, dificilmente Pereira terá argumentos e outros candidatos para o Funchal. Acresce que o edil funchalense parece contar com uma importante almofada propiciada por alguns meios de comunicação social regionais, o que em nada favorece Pereira.

Do lado ao PSD, a situação começa a complicar-se pois com o mediatismo de Cafofo e a vantagem que isso lhe propiciou, dificilmente se poderá prolongar mais no tempo - e continuo a pensar que o "timing" ideal será Janeiro de 2017 - o vazio que parece existir. Julgo que não estarei errado que neste momento o  PSD regional não tem candidato para o Funchal. Pode existir uma série de nomes, quer para liderar a candidatura, quer para dela fazer parte. Mas decisões não existem e muita coisa vai ter que mudar, politicamente falando, para que o PSD regional encare com uma perspectiva mais optimista este combate. Perder o Funchal, a dois anos das regionais de 2019, poderia não ser um bom sinal.
Rubina Leal, antiga vereadora de Miguel Albuquerque na Câmara do Funchal, conhecedora do funcionamento da edilidade, com larga experiência nos sectores sociais, com uma imagem pública favorável e que ajudará o PSD, sabe que sozinha não garante um a vitória com a expressividade que pretende. O que significa que é preciso apresentar uma equipa com outros nomes de peso, conhecidos das pessoas, respeitados, e que cativem e mobilizem os eleitores.  E quando digo uma equipa que cative não estou a fazer a apologia da chamada teoria "renovadinha" porque bem vistas coisas, os resultados das eleições de 2015, regionais e nacionais, apesar de algum fundamentalismo não foram em nada os melhores. Contudo, e sem que nenhuma decisão tenha sido tomada, Rubina Leal parece estar na primeira linha da corrida, havendo apenas uma dúvida que admito tenha desvalorizado inicialmente mas que agora, sobretudo depois dos incêndios, assumiu uma outra amplitude e pertinência: em caso de derrota autárquica (que pessoalmente não acredito), dificilmente o próprio Miguel Albuquerque poderia ser colocado à margem dela com tudo o que se negativo daí resulta. Isto explica porque razão o processo autárquico - e não apenas no Funchal - tem que ser bem gerido politicamente, sem radicalismos tontos, sem fundamentalismos idiotas, e com muito pragmatismo. E sobretudo sem que MA permita que muita gente mexa a colher do panelão...
2 - A COLIGAÇÃO - É sabido que Paulo Cafofo ganhou as eleições autárquicas de 2013 beneficiando de duas situações em concreto, diferentes uma da outra, mas que paradoxalmente se conjugaram em seu benefício: o desgaste eleitoral do PSD regional, perfeitamente perceptível desde as regionais de 2011, e depois da saía de Miguel Albuquerque da liderança da CMF e a constituição de uma coligação ampla e inédita, apoiada por seis partidos, algo nunca antes visto - PS, Bloco, PTP, PAN, MPT e PND. Pese também o facto de terem votado menos pessoas, situação atribuída a fenómenos de emigração e de desilusão dos eleitores - 52,8% votantes em 2009 contra 50,5% em 2013, cerca de menos 2000 eleitores.
Em termos de resultados o que aconteceu? Em 2009 o PSD foi o mais votado com 29.227 votos e 52,2%, elegendo 7 dos 11 membro da edilidade funchalense. Dos partidos que fizeram parte da coligação em 2013, o PS obteve 7.584 votos, 13,5% e 1 representante, o PND totalizou 4.737 votos, 8,5% e 1 representante eleito, o MPT somou 1.166 votos, 2,1 % sem eleitos e o Bloco de Esquerda com 2.433 votos, 4,4% também sem representantes. O CDS com 5.617 votos e 10% e 1 representante e o PCP, com 1 eleito, 3.846 votos e 6,9% dos votos, não integraram a coligação "Mudança".
Em 2013 o PSD foi o grande derrotado com 17.450 votos, 32,4% e 4 vereadores, contra 21.102 votos, 39.2% e 5 membros do executivo da coligação PS-PTP-BLOCO-PND-PAN-MPT. O CDS com 7.828 votos, 14,6% e 1 eleito e PCP com 4.504 votos, 8,4% e 1 eleito foram os outros concorrentes. Apesar de ter sido a mais votada a coligação não conseguiu a maioria absoluta dos mandatos.
Quais as oscilações eleitorais entre 2009 e 2013?
PSD - menos 11.777 votos
CDS - mais 2.211 votos
PCP - mais 658 votos
PS-PND-PE-MPT - mais 5.182 (*)
Votantes - menos 2.184 eleitores
NOTA - o crescimento eleitoral da coligação (?), do  CDS e do PCP, 8.051 votos, fica aquém das perdas eleitorais do PSD às quis se juntam ao aumento dos não votantes - no total, 13.961. Admite-se por isso - recordo que os resultados do PTP não podem ser considerados, porque não concorreu às autárquicas de 2009 - que a Mudança apesar de tudo não teve grandes ganhos. O problema foi sobretudo a queda do PSD.

(*) - Sem considerar os votos do PTP em 2009 e desconhecendo o peso eleitoral deste partido nos resultados de 2013

3 - Ou seja, com o PTP fora da coligação - embora seja evidente que o peso eleitoral do partido de Coelho caiu abruptamente e que nas regionais de 2015 ao ficar reduzido a um deputado fez questionar muito a sua verdadeira dimensão actual - e com o PND extinto (partido que nas regionais de 2015 também perdeu muitos votos, passando de 4.825 votos em 2011 para 2.635 em 2015), e desconhecendo-se o valor eleitoral real de PAN e MPT, fora do parlamento regional (fizeram parte, tal como o PTP, da fracassada coligação com o PS nas regionais de 2015, da qual decorreram resultados absolutamente catastróficos, sem a eleição de qualquer deputado) - é evidente que dificilmente o PS parece ter grandes condições para sozinho vencer o Funchal - 6.894 votos da coligação eleitoral no Funchal nas regionais de 2015 mas o PS sozinho com 12.599 votos nas legislativas nacionais. Admito que factores exógenos, caso do mediatismo favorável a Cafofo por ocasião dos incêndios no Funchal e do claro aproveitamento eleitoral dos bons ventos que sopram a favor do governo de coligação nacional, podem alterar estes resultados e beneficiar uma candidatura socialista. Não creio que PAN e MPT, em caso de uma coligação, dela se coloquem à margem e admito como plausível que Bloco de Esquerda, agora com uma posição política substancialmente diferente daquela que tinha em 2013, aceite ser parceiro dos socialistas na capital madeirense onde de facto têm sido (o Bloco) o principal suporte de Cafofo, dada a sua minoria em termo de mandatos.
Não me espantaria nada que partidos pequenos, sem dimensão eleitoral, casos do  NÓS ou de um PPM que na realidade de monárquico pouco ou nada tem, possam funcionar como uma espécie de "barrigas de aluguer" para candidaturas de cidadãos que podem ter origem, segundo informação que me foi prestada, até no PSD regional, particularmente por parte de sectores que se consideram marginalizados pela actual liderança. NÓS e PPM que estariam já a pensar nas regionais de 2019. Veremos
Neste momento qual o ponto da situação?
Miguel Albuquerque poderá ter percebido que se Rubina Leal é a sua aposta para a CMF, então há que dar-lhe o protagonismo e o mediatismo televisivo que precisa para que tenha visibilidade e vá construindo uma imagem pessoal mais alargada. Rubina terá uma tarefa não facilitada, tal como Cafofo, porque é sabido - e deixe-mo-nos de hipocrisias - que tanto o líder do PSD como o líder do PS regionais, vivem muito em função dessa componente, do aproveitamento para efeitos políticos e eleitorais do espaço mediático que os meios de comunicação lhes propiciam. Não há mal nenhum nisso, diga-se, desde que essa dependência não se torne doentia, diria mesmo uma fobia.
No PS,  Carlos Pereira já percebeu que não consegue travar Cafofo na sua tentativa de recondução no cargo e que este - apesar de ser agora militante filiado no PS, o que não acontecia em 2013 - até passou a ter uma outra liberdade de escolha e de decisão, quanto à composição da sua equipa, que não tinha antes do mediatismo entretanto conquistado.
Vou recordar-vos uma cena que vi - portanto ninguém me desmente, até porque está gravada pelas televisões - que revela bem a preocupação presente em tudo isto. Quando o primeiro-ministro visitou um hotel na Rua do Castanheiro, que evacuou os seus hóspedes, e prestava declarações aos jornalistas tendo  Miguel Albuquerque ao seu lado (lado direito do écran), percebeu-se o incómodo dessa situação em Cafofo que tinha ainda que travar Carlos Pereira que fazia tudo para aparecer nas fotografias e nas imagens ao lado de Costa. No caso do hotel, logo atrás de Costa, aparentemente a 2 metros, estavam Cafofo e dois dos vereadores do PS na CMF. Um deles, a dada altura - tudo isso testemunhado pelas câmaras de televisão - segredou algo ao ouvido do edil que rapidamente deu dois ou três passos adiante colocando-se ao lado de Costa (à esquerda no écran) para que partilhasse com Albuquerque o mediatismo televisivo com o qual  a ala camarária funchalense reconhecidamente sonha e em função do qual vive. Uma cena sem significado mas que revela bem que, no meio da catástrofe, questões de natureza política e eleitoral estiveram claramente presentes moldando a postura dos protagonistas (LFM)

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