sábado, março 19, 2016

Hoje é Dia do Pai


Hoje é Dia do Pai. 
Podíamos cair naquele lugar comum de que temos que nos lembrar dos pais que sofrem, pela doença, pelo abandono, pelos maus tratos, pelas injustiças da sociedade e dos filhos. Podíamos lembrar-nos dos pais que sofrem no silêncio, tantas vezes sozinhos, que nunca tiveram sorte na vida, que vagueiam sem destino, muitos deles abandonados à fome e ao frio nas nossas cidades, mesmo debaixo dos nossos narizes, sem que alguém faça alguma coisa por eles.  Podíamos-nos evocar também a parte mais negra deste reverso da medalha, dos pais injustos, violentos, dos que abandonaram os seus, que não assumiram nunca as suas responsabilidades enquanto pais, que ignoraram filhos e cônjuges e que perderam toda a legitimidade para reclamarem seja o que for.  Nem o direito a que tenhamos compaixão deles.
Podia lembrar-me dos pais abandonados nos hospitais pela sua própria família, dos pais que vivem na miséria, dos que sofrem e que nem os cuidados paliativos já resolvem esse sofrimento, dos que vivem na pobreza extrema e na fome constante, nos pais sem presente e sem qualquer expectativa de futuro.
Mas não o faço. Porque hoje é dia do Pai, porque acho que temos que olhar para o outro lado da moeda, o lado menos mau. Porque é por causa disso que assinalar o Dia do Pai faz sentido. Hoje não é dia para carpir mágoas ou julgar comportamentos, atitudes, pessoas. Se de facto existe justiça divina - existe mesmo? - então teremos um dia tempo para esse julgamento.
Bertrand Russell afirmou um dia que "os nossos pais amam-nos porque somos seus filhos, é um facto inalterável. Nos momentos de sucesso, isso pode parecer irrelevante, mas nas ocasiões de fracasso, oferecem um consolo e uma segurança que não se encontram em qualquer outro lugar".
Hoje é o Dia do Pai, também o meu dia porque sou pai. Gostei tanto de ser pai, gosto tanto de continuar a ser pai!
Mais fui filho, infelizmente com pouco tempo para ter vivido devidamente esse tempo. Tenho pena, pena de não ter tido o direito - v+a lá saber-se porquê - de ficar mais tempo com  o meu Pai, para me poder hoje lembrar dele e do que foram esses escassos anos, não de uma forma ténue e quase vazia, mas antes de um modo consistente e factual. Ficam-me a fugaz recordação e as poucas memórias.
Por isso não tivesse que enfrentar os problemas a que se referiu Alphonse Daudet: "Se tu soubesses, quando deixamos de ter os nossos velhos, até que ponto lamentamos não lhes havermos dado mais do nosso tempo".
Anima-me contudo a certeza de que talvez um dia possa vir a ter todo o tempo do mundo para o reencontro com ele e para pormos a conversa em dia. Provavelmente terei muita coisa a contar e a ouvir. Enquanto esse dia não chegar, vou continuar a ser pai, porque gosto imenso de ser pai. Pelas filhas que tenho, pelo que elas representam e são para mim (LFM)

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