Segundo a jornalista do Público, ANA RUTE SILVA, “centenas
de espectadores numa praça pública em Jidá viram, sexta-feira, Raef Badawi a
ser chicoteado 50 vezes. Durante 15 minutos, em silêncio e sem chorar, Raef
Badawi foi sujeito ao castigo decidido pelas autoridades da Arábia Saudita que
incluem, além de dez anos de prisão, mil chicotadas repartidas por 20 semanas
por ter insultado o Islão. Uma testemunha anónima contou à Associated Press que
o co-fundador do site Rede Liberal Saudita, e laureado em 2014 com o prémio
Repórteres sem Fronteiras, estava algemado mas com a cara descoberta. Foi
transportado da prisão para o local, pouco depois de terem terminado as orações
do meio-dia numa mesquita próxima. Cumpriu, assim, as primeiras 50 chicotadas
por ter criticado o poder dos líderes religiosos na Arábia Saudita, no blogue que
fundou com a activista dos direitos das mulheres Suad al-Shammari e onde
defendeu o fim da influência da religião na vida pública daquele país. Outra
testemunha disse à Amnistia Internacional que a multidão se juntou em círculo.
"Quem passava juntou-se e a multidão cresceu. Mas ninguém sabia porque é
que Raif estava a ser castigado. Era um assassino? Um criminoso? Não
reza?", perguntavam. Depois, "um polícia aproximou-se por trás e
começou a bater-lhe. Raif levantou a cabeça em direcção ao céu, fechou os
olhos. Estava em silêncio mas era visível pela expressão do rosto e movimento
do corpo que estava a sofrer". O polícia bateu nas pernas e nas costas,
contando até 50. Activistas dos direitos humanos acreditam que as autoridades
sauditas estão a utilizar Raef Badawi, pai de três filhos, como exemplo do que
pode acontecer a quem ousa criticar o poder instalado. “Castigos físicos não
são novidade na Arábia Saudita mas punir publicamente um activista pacífico que
apenas manifestou as suas ideias é uma mensagem de intolerância horrível»,
criticou Sarah Leah Whitson, directora para o Médio Oriente e Norte de África
da Human Rights Watch. A organização sedeada em Nova Iorque apelou ainda ao Rei
Abdullah para anular a sentença e perdoar “imediatamente” o blogger. O pedido
também foi reforçado pela Repórteres sem Fronteiras (RSF) que classificou a
punição de “odiosa”. “Apesar de as autoridades sauditas terem, até aqui,
ignorado os pedidos repetidos pelas organizações internacionais, a RSF afirma
que vai continuar o seu combate para que este cidadão, que apenas abriu o
debate público sobre a evolução da sociedade através do seu blogue, possa ser
libertado rapidamente”, disse Lucie Morillon, uma das directoras da organização
francesa. Aliados próximos da Arábia Saudita, os Estados Unidos criticaram a
“punição inumana” e pediram a anulação da sentença “brutal”. Apelaram ainda à
“reavaliação do dossier de Badawi e da sua condenação”. A União Europeia (UE)
veio, igualmente, lamentar a flagelação, dizendo que as “punições físicas são
inaceitáveis e contra a dignidade humana”. Um porta-voz da diplomacia da UE,
citado pela AFP, reiterou a “forte oposição” de Bruxelas à sentença e apelou às
autoridades sauditas de “suspender todas as punições a Badawi e a colocar um
fim à utilização de flagelação”. Riade deve travar estas "sentenças
violentas no contexto da reforma judicial" em curso, e que “abre a
possibilidade de melhorar a protecção dos direitos individuais”, indica a mesma
fonte. Em 2013, Badwi foi condenado a sete anos de prisão e 600 chicotadas mas
depois de um recurso o juiz agravou o castigo. A mulher e os filhos vivem no
Canadá, para onde foram viver logo após a detenção. O co-fundador da Rede
Liberal Saudita foi acusado de criticar a política religiosa e já tinha sito acusado
de renúncia à fé, crime que pode levar à pena de morte. As autoridades
desistiram desta acusação mas detiveram Badwi, em 2012, na altura com 35 anos”