sexta-feira, janeiro 30, 2015

Ministro das Finanças grego quer continuar a ser blogger

Segundo o Dinheiro Vivo, "os mercados não funcionam livremente em função da procura e da oferta? Sim? Então por que não aplicar o mesmo princípio dentro de cada empresa? As companhias ou grupos empresariais são o último bastião de resistência à lógica de mercado. Quem o diz é o novo ministro das Finanças da Grécia. Um blogger inveterado que no seu último post, escrito ontem (dia da tomada de posse), disse que não vai parar de escrever. Chama-se Yanis Varoufakis,
"Disseram-me que chegou a altura de fechar o meu blog. Tenciono contrariar esse conselho. Continuar a escrever no blog quando se chega a ministro das Finanças é normalmente considerado algo de irresponsável. Os meus posts serão menos frequentes, mas compensarei os leitores com perspetivas e comentários mais densos e informados", escreveu, ontem, Varoufakis. Classificá-lo como "radical moderado" talvez seja a síntese que melhor assenta na nova figura de proa de um governo chefiado por Alex Tsipras, o líder do Syriza (Coligação de Esquerda Radical). A classificação de "marxista libertário" também não assenta mal neste doutorado em Economia que nasceu em Atenas no ano de 1961. Sempre criticou a austeridade, cunhando inclusive a expressão "waterboarding fiscal", isto é, um afogamento por via dos impostos. O Guardian resumiu o seu perfil da seguinte forma: John Maynard Keynes com um laivo de Karl Marx. Keynes foi o fundador de uma escola de pensamento que se opôs ao mercado livre, defendendo antes uma intervenção forte do Estado para mitigar os efeitos dos ciclos económicos (recessões ou depressões). A Europa pode contar com um interlocutor grego na pasta das Finanças que domina o Inglês e a Economia. Estudou Matemática Financeira em Essex, na Inglaterra, e completou um doutoramento em Matemática e Estatística. Depois, ensinou em várias universidades: Cambridge, East Anglia, Sydney e Glasgow. Não se trata, portanto, de um radical mal informado que quer isolar a Grécia. O seu pensamento está expresso de maneira clara no livro "Proposta Modesta Para resolver a Crise da Zona Euro", onde o autor, juntamente com James K. Galbraith e Stuart Holland, defende uma espécie de "New Deal europeu" que, na opinião dos autores, poderia ter efeitos práticos em poucos meses sem pôr em causa a construção europeia.
O livro "Proposta Modesta Para resolver a Crise da Zona Euro" está incluído (com o texto integral) num trabalho mais alargado sobre a dívida europeia, dirigido pelo Engenheiro João Cravinho, e publicado em 2014 pela Lua de Papel com o título A Dívida Pública Portuguesa. Em suma, no plano externo, o titular das Finanças não é adepto de uma rutura, o que não significa conformismo relativamente à atual lógica e organização europeias. "Não podemos ter uma união monetária que faz de conta que consegue sobreviver à crise financeira emprestando cada vez mais dinheiro aos países mais fracos sob a condição de estes mingarem as suas economias". Na sua perspetiva, a Grécia tornou-se numa "colónia da dívida". O país tem uma dívida de 240 mil milhões, relativa a dois resgates, e tem de pagar 22 mil milhões este ano. Do ponto de vista interno, é previsível não só um alívio fiscal como também um recuo nas privatizações e ainda uma reintegração de funcionários públicos. Varoufakis promete também um ataque às classes mais abastadas. "Nós vamos destruir a elite rica do país, uma vez que esta é a base sobre a qual foi construído um sistema que suga a energia e poder económico de todos os outros", disse Varoufakis, numa entrevista recente ao Channel 4. A Grécia e toda a Europa não ficarão iguais após a passagem pelo poder deste economista e blogger"