"O Presidente vai condecorar Cristiano Ronaldo por ele ser "símbolo de Portugal". Bate certo, é jovem e emigrou. Nessa terça-feira, vou gostar de o ver a deslizar de joelhos no tapete da Sala Azul até à bandeirola de canto e apontar para o peito, para a fita tripartida (azul, branca e negra, disposta em pala) pendente ao pescoço, de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique. Mas, na verdade, pode ser pouco: ele só vai receber o terceiro grau da ordem (um pouco como o galardão de melhor marcador do campeonato), nas vésperas de o mundo lhe dar o primeiro, a Bola de Ouro. Como costume, as coisas em Portugal acontecem sempre com algum atraso: seria preciso Cristiano Ronaldo ganhar o Campeonato do Mundo, a 13 de julho no Maracanã, para Belém o homenagear com o Grande-Colar, o topo (o seu lugar natural) da Ordem do Infante. Em todo o caso, a placa de Grande-Oficial já diz quase tudo: "Talent de bien faire". Bien faire a receber a bola no peito, bien faire a rasgar a defesa, bien faire a meter a bola no cantinho - talent é com ele. Quase tudo, mas faltando ainda o essencial. Ele é símbolo porque representa, mas sobretudo porque é exemplo. Aos 14 anos, menino pobre e longe dos seus, deixava o quarto da pensão da Duque de Loulé, ao fim de um dia de treinos, para vir, solitário, bater e rebater bolas no passeio da Avenida da Liberdade. Talento, sim, mas mais querer, sobretudo querer. Símbolo de Portugal? Quem dera" (texto de Fereira Fernandes, DN de Lisboa, com a devida vénia)