Escreve o jornalista
do Jornal I, Bruno Faria Lopes que “o economista João Ferreira do Amaral
surpreendeu ao sugerir numa entrevista que Portugal deveria usar o dinheiro da
troika como uma almofada para sair da zona euro. Para muitos, a ideia pode soar
a provocação - e é possível que tenha sido pensada para o ser -, mas esta é uma
provocação que vale a pena valorizar. Em Portugal temos de responder a uma
pergunta simples: vale a pena continuarmos no euro? A resposta não é assim tão
simples. Este debate é importante no curto prazo - como instrumento de pressão
sobre a Europa -, mas é decisivo no médio e no longo prazo se quisermos
recuperar um projecto para o país.
Debater
internamente a saída do euro serve para já como uma arma de pressão sobre a
Europa. Na Grécia - país em que políticos e população estão a ser levados a
pensar que já não têm nada a perder - sair do euro é um dos cenários
equacionados. Isto deve causar arrepios em todas as capitais europeias. Um
abandono do euro levaria à fuga em massa de capitais de outros países
periféricos - como Portugal, Espanha, Irlanda ou mesmo Itália - forçando a sua
saída da moeda única. As perdas para o sistema financeiro europeu seriam
esmagadoras, a depressão económica inevitável.
É por isso que à
medida que a Grécia - e eventualmente Portugal - é espremida por sucessivos
planos de austeridade sem resultados, esta opção tem de estar sobre a mesa
nestes países. É uma arma negocial. Mas mesmo que a crise europeia se resolva e
mesmo que Portugal consiga cumprir o essencial do seu programa e reestruture
entretanto a dívida - o cenário mais provável - o debate sobre o euro continua
a ser urgente.
O novo ministro
da Economia, Álvaro Santos Pereira, escreve com candura no livro que lançou:
"Em retrospectiva, a decisão de entrar no euro pode não ter sido a mais
acertada." A experiência da última década, feita de estagnação económica,
parece confirmá-lo. Portugal, país com atrasos profundos - nas instituições, na
educação, na indústria... - não estava em condições de entrar no euro. O euro,
regido por uma política monetária em função das maiores economias e uma
ortodoxia cega na inflação, não estava em condições de receber Portugal.
Mas o que mudou
entretanto? Por que razão devemos pensar que os próximos dez anos serão
diferentes? Será Portugal capaz de resolver em poucos anos os bloqueios que
resultam de um atraso de décadas? Irá a política económica europeia mudar? O
que acontece à sociedade portuguesa com mais uma década de esmagamento de
oportunidades? É tudo culpa da entrada no euro?
Em Portugal
fugimos a estas perguntas. A Europa foi o único grande projecto unificador do
país em democracia e a entrada no "pelotão da frente" do euro foi o
coroar desse projecto. É por isso que a discussão sobre a moeda única é tão
difícil para a classe política portuguesa. Nos partidos da governação (PSD, CDS
e PS) poucos conseguem imaginar um país sem euro - seria uma orfandade, pensam.
Não percebem que Portugal já está órfão de projecto.
Fazer este debate
sobre o euro, pesando os prós e os contras, é um passo essencial para recuperar
um projecto. Evitar a discussão, por outro lado, poderá ditar uma saída mais à
frente - mesmo que essa seja uma péssima opção”.