Segundo
o jornalista do Jornal I, António Ribeiro Ferreira, “foi um dia alucinante.
Teixeira dos Santos diz publicamente que o país precisa de ajuda e Sócrates,
isolado, anuncia a má nova aos portugueses. Cavaco Silva tinha dado o mote no
discurso de posse para o seu segundo mandato presidencial. O governo já ia no
PEC III de austeridade e preparava-se para um quarto, hoje muito célebre,
Programa de Estabilidade e Crescimento. Depois de uma impressionante
manifestação nas ruas de Lisboa a 12 de Março, Sócrates corre contra o tempo e
os mercados. Os juros da dívida sobem, os banqueiros fazem ultimatos na
televisão e o PSD de Passos Coelho, até aí ao lado do governo, chumba o PEC IV
negociado por Lisboa com a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Banco
Central Europeu. Uma emissão de dívida a dez anos marca o fim da resistência
quando os juros pagos por Portugal ultrapassam a linha vermelha dos 7% e Teixeira
dos Santos rompe com Sócrates e diz ao “Jornal de Negócios” que a ajuda
internacional era inevitável. Algumas horas depois, Sócrates aparece nos ecrãs
televisivos em mangas de camisa a perguntar ao seu assessor de imprensa: “Ó
Luís, vê lá como é que fico.” Minutos depois, oficialmente, anuncia ao país o
pedido de ajuda financeira às instâncias europeias e ao Fundo Monetário
Internacional. Sai de S. Bento logo a seguir rumo a Belém para apresentar a
demissão a Cavaco Silva. Portugal estava à beira da bancarrota, sem governo e
com um processo eleitoral pela frente que só iria terminar dois meses depois
com a realização das legislativas antecipadas.
O
governo demissionário negociou então com a troika - Comissão Europeia, Banco
Central Europeu e Fundo Monetário Internacional - um Memorando de entendimento
em troca de um empréstimo de 78 mil milhões de euros. O documento é assinado
pelo executivo socialista, pelo PSD de Passos Coelho e pelo CDS de Paulo
Portas. Portugal era o terceiro país da zona euro a pedir ajuda externa, depois
da Irlanda, o primeiro, e da Grécia, o segundo. Um Memorando que José Sócrates
anunciou ao país como uma vitória portuguesa. E já lá vão dois de muitos anos
de austeridade e recessão económica”.