segunda-feira, abril 08, 2013

As principais reformas sugeridas a Passos pelo FMI


Lembra o Sol que “o primeiro-ministro anunciou hoje que o Governo vai "acelerar e intensificar alguns aspectos da reestruturação do Estado com impacto directo na despesa pública", em áreas como "segurança social, saúde, educação e empresas públicas". Pedro Passos Coelho fez este anúncio numa declaração ao país, através da televisão, dois dias depois de o Tribunal Constitucional ter "chumbado" quatro artigos do Orçamento do Estado para 2013, e em que afirmou que não iria aumentar os impostos. O chefe do executivo não entrou em pormenores sobre os cortes a fazer na despesa pública, mas o Governo tem, desde janeiro, um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre as funções sociais do Estado e o respetivo corte de 4.000 milhões de euros na despesa pública. Segundo o Governo, tratava-se de "uma versão preliminar" do documento. Em janeiro, o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, admitiu que o Governo "não elimina" qualquer medida constante no relatório. Já o ministro da Solidariedade e da Segurança Social, Pedro Mota Soares, assumiu discordar de algumas recomendações feitas no relatório do FMI, lembrou que o documento "tem sugestões, não tem decisões" e que algumas delas "partem de pressupostos que estão errados".
Eis as principais medidas que constam do relatório:
§  Redução na despesa
A meta de redução da despesa que o Governo terá de cumprir só pode ser atingida através de cortes na fatura do Estado com o pagamento de salários e pensões, de acordo com o FMI. Estes dois itens, segundo o Fundo, correspondem a 58% da despesa primária do Estado (sem o serviço da dívida pública), o equivalente a 24% do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal.
§  Funcionários públicos com corte de salários e horário alargado
O FMI defende a aplicação de um corte transversal no salário base dos trabalhadores da função pública entre os 3% e os 7% de forma permanente a partir de 2014. Para a instituição, devem ser tomadas medidas permanentes para evitar a natureza temporária das medidas passadas, tais como o corte médio de 5% aplicado aos salários dos funcionários públicos acima de 1.500 euros e a suspensão de subsídios. O Fundo estima com esta medida uma poupança anual entre 325 milhões de euros e 760 milhões de euros. O FMI defende ainda que os funcionários públicos deixem de trabalhar 35 horas semanais e passem a trabalhar 40 horas semanais, o que representaria uma poupança de 150 milhões de euros.
§  Redução até 20% no número de funcionários públicos
A instituição liderada por Christine Lagarde sugere uma redução até 20% no número de trabalhadores do Estado nas áreas da educação, segurança e ainda nos administrativos com baixas qualificações. O FMI defende que o Governo tem de reduzir o número de trabalhadores em funções no Estado e dá duas opções: cortar em setores específicos onde estão identificados excessos no número de trabalhadores ou estabelecer um número e aplicar um corte transversal. O Fundo estima que um corte entre 10% e 20% no número de trabalhadores nas áreas identificadas daria uma poupança estimada entre 795 milhões de euros e 2.700 milhões de euros, ou o equivalente a 0,5%-1,6% do PIB. Para ajudar neste corte, o Fundo sugere que os funcionários públicos não devem estar mais de dois anos em mobilidade especial, período após o qual teriam de ser recolocados ou despedidos, e defende que um maior e melhor recurso à mobilidade especial possibilitará ao Estado uma maior poupança nos custos com pessoal.
§  Pensões com cortes de 10% a 15% e aumento da idade da reforma para 66 anos
O FMI defende mudanças no sistema de pensões, como cortes transversais entre 10% e 15%, o aumento da idade da reforma para os 66 anos ou o pagamento dos subsídios apenas caso a economia cresça determinado valor. As opções colocadas pelo FMI surgem em três grupos de medidas, mas é sublinhado que é indispensável atuar nesta área, caso se queiram cumprir as metas de redução de despesa a que as autoridades se propuseram. Um primeiro cenário (o mais arriscado) envolveria um corte transversal temporário para todas as pensões de 10%, o que daria uma poupança na ordem dos 2,25 mil milhões de euros. O segundo cenário implica também um conjunto vasto de opções, estando entre elas o aumento da idade da reforma para 66 anos e igualar as fórmulas de cálculo das reformas para todos, adotando a fórmula de cálculo do setor privado, entre outras. O terceiro cenário inclui, entre vários pontos, a hipótese de cortar em 20% as pensões na Caixa Geral de Aposentações, poupando cerca de 600 milhões de euros.
§  Limitar a atribuição de benefícios sociais
O FMI defende que o Governo considere a definição de um limite na atribuição dos benefícios sociais familiares e/ou individuais dentro dos agregados familiares e revela mesmo que o Governo está a planear criar um sistema de monitorização do total de benefícios recebidos por cada agregado familiar. No entender do FMI, a criação deste sistema ajudaria a fiscalizar os benefícios dados pelo Estado aos agregados familiares, como o Rendimento Social de Inserção (RSI) e outros apoios dados às famílias, bem como os apoios dados pelas autarquias, como o apoio à habitação ou alimentação, entre outros. A medida ajudaria a garantir que os benefícios recebidos não constituiriam um desincentivo à procura de trabalho dos elementos dos agregados familiares em idade ativa.
§  Diminuir subsídios de desemprego
O FMI sugere também que, apesar de as alterações já levadas a cabo pelo Governo, ainda é possível melhorar as regras relativas ao subsídio de desemprego, de forma a incentivar o regresso ao mercado de trabalho. A nível ilustrativo, o Fundo lembra que caso se transferisse quem está desempregado há mais de 10 meses do subsídio de desemprego para o subsídio social de desemprego, a poupança seria de 300 a 600 milhões de euros.
§  Aumento das taxas moderadoras
O valor que os utentes pagam pelos medicamentos pode ser maior, segundo os autores do relatório do FMI, que referem que o valor pago pelos utentes na aquisição dos fármacos pode vir a aumentar e lembra que o Estado chega a comparticipar até 90% alguns medicamentos, consoante a sua classificação. Além de uma maior comparticipação na compra dos medicamentos por parte dos utentes, o FMI defende ainda um aumento do valor das taxas moderadoras no acesso aos cuidados de saúde.
§  Dispensa de professores e aumento de propinas
Na educação, o relatório do FMI prevê a dispensa de pessoal docente e não docente (entre 30 e 50 mil), o que permitiria uma poupança até 710 milhões, sugerindo também o aumento das propinas no ensino superior”.