
Saiam daqui, ou então...
Há muitos imigrantes que sobrevivem para contar a agressão. Um deles é Abouzeid Mubarak, 28 anos, pai de três filhas, um pescador egípcio do porto de Piraeus. Numa noite especialmente quente, Mubarak foi dormir para o terraço. Acordou às 3 da manhã e viu 20 homens de T-shirts pretas. "Vi algumas pessoas - jovens, como eu. Bateram-me, e eu desmaiei." Mubarak foi agredido com bastões de madeira e barras de ferro. Outros pescadores encontraram-no numa poça de sangue e levaram-no ao hospital, achando que a qualquer momento ele ia morrer. Não morreu, mas passou semanas a recuperar. Tem o maxilar, que ficou partido, seguro por metal - fala com dificuldade e tem de comer por uma palhinha. Mubarak faz parte de uma comunidade de pescadores egípcios há muito estabelecida em Piraeus, o principal porto de Atenas. Todos se sentem agora ameaçados pela onda de violência. Os principais suspeitos são membros do partido de extrema-direita Aurora Dourada, cujos elementos deixaram folhetos aos imigrantes na zona dando-lhes um prazo para sair, "ou então..." O Aurora Dourada chegou ao Parlamento nas últimas eleições, em Junho, com 6,9% dos votos e 18 deputados (em 300). Apesar de, durante a campanha, o seu porta-voz, Ilias Kasidiaris, ter agredido uma deputada durante uma emissão televisiva. Procurado pelas autoridades, Kasidiaris desapareceu durante uns tempos, mas já regressou. Ainda recentemente, estava numa acção em que elementos do partido ofereceram comida na Praça Syntagma, em frente ao Parlamento, em Atenas. "Damos comida produzida na Grécia apenas a cidadãos gregos", anunciou Kasidiaris. Para levar um saco com fruta, vegetais e massa, as pessoas mostravam os bilhetes de identidade para provar a nacionalidade. "Este partido tem um forte elemento hooligan e ainda ligações ao submundo criminal", acusa o presidente da Câmara de Salónica, Yiannis Boutaris, citado pela revista britânica The Economist. Boutaris tinha sido criticado pelos membros do Aurora Dourada por ter apoiado a primeira marcha do orgulho gay na cidade.Grupos de direitos humanos dizem que depois de terem obtido bons resultados nas eleições, os membros do partido se tornaram mais ousados, com ataques contra imigrantes a ocorrerem quase diariamente, alguns em plena luz do dia. A responsável da Human Rights Watch Judith Sunderland falou da sua surpresa com o panorama na Grécia. "Todos os dias ficava chocada com as histórias que ouvíamos e o sofrimento que encontrávamos", contou. "Não fazíamos ideia da escala. Parece ser realmente um fenómeno diário"
Sem comentários:
Enviar um comentário