terça-feira, junho 21, 2011

Açores: há mais gado que pessoas!

Segundo o Diário dos Açores, "se acham que o único novo grande nicho de negócio para a agricultura açoriana consiste na produção dos legumes, que alegadamente representam um mercado no valor de mais de 25 milhões de euros segundo é apontado por diversos observadores, isso é apenas porque nunca olhou para os números com atenção. Os legumes para alimentação humana podem ser um bom negócio, mas o maior déficit comercial não é humano: é dos animais. Segundo o Recenseamento Agrícola de 2009, entre 1999 e 2009, o número de bovinos nos Açores ultrapassou o número de residentes. Os Açores têm neste momento 249 mil bovinos, dos quais 92.130 são vacas leiteiras. Junte-se aos bovinos os suínos, que são mais cerca de 42 mil, e temos uma população de mamíferos grandes muito superior à de açorianos. E peso por peso, é óbvio que os humanos também ficam a perder por larga margem. A questão é que eles comem muito mais do que aquilo que os produtores açorianos conseguem produzir e por isso boa parte da sua alimentação é importada. Para se ter uma ideia, no ano de 2009 a importação de “Produtos da agricultura, da produção animal, da caça e da silvicultura; peixe e outros produtos da pesca” (classificação do INE, cuja composição é sobretudo de alimentos para animais ou produtos destinados a produzi-los) atingiu as 287 mil toneladas. O que é um valor superior às 284 mil toneladas de “Produtos alimentares, bebidas e tabaco” destinados ao consumo humano – e onde se inserem, entre outros, os tão badalados legumes. Aliás, os legumes são uma ínfima parte destas importações alimentares para humanos. Como a nomenclatura estatística alterou-se em 2007, esse dado já não aparece desagregado nos dados de 2009. Mas em 2007, do total de importações, 1,5% dizia respeito a “Batatas, outros legumes frescos ou congelados e frutos frescos”. Se se aplicar a mesma percentagem ao total de importações de 2009, o resultado é que os Açores importaram praticamente 30 mil toneladas de legumes e fruta. Eventualmente esta é uma forma de se chegar ao valor que os açorianos pagam pelas “novidades”: a uma média de 80 cêntimos por quilo, atingimos os tais 25 milhões de euros. Que se os açorianos os produzissem, entrariam por inteiro na economia regional, em vez de serem enviados na sua maioria para outras paragens. E a alimentação para os animais? Essas 287 mil toneladas que são importadas são constituídas principalmente por cereais, que serão transformados em rações, assim como oleaginosas, e rações já processadas, forragens e adubos. É imenso. Mas também incluem outros produtos, como os adubos, que em 2007 foram responsáveis por 57 mil toneladas de importações (o que representou um crescimento de 7,4% em relação ao ano anterior). A partir de 2008 esse produto também deixou de estar discriminado nas estatísticas. Obviamente que o assunto pode ser encarado do ponto de vista do desequilíbrio do sector da produção animal, que tendo produzido cerca de 350 milhões de euros (na totalidade, incluindo outras variedades animais, com destaque para as cerca de 483 mil aves, e os subsídios), é obrigada a importar 287 mil toneladas de alimentos, cujo custo de importação poderá atingir os 40 milhões de euros (média de 14 cêntimos por quilo) se for em matéria-prima. Isto embora o valor real que o produtor terá de pagar é superior, uma vez que esse alimento processado nas famosas “rações” atinge preços de mercado ainda maiores, podendo facilmente atingir o dobro desse valor. E com tendência para aumentar... Há um claro desequilíbrio no sector - que, diga-se de passagem, prosperou nos Açores exactamente por existir o potencial de não ser necessário importar alimentos para os animais. E, por isso mesmo, há um potencial de mercado enorme… Se os legumes custam aos açorianos cerca de 25 milhões de euros, os produtos agrícolas deverão custar perto de 80 milhões. E isso diz muito…”.

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