segunda-feira, novembro 23, 2009

PSD: acabar com a rebaldaria

Começo a temer, sinceramente, que a situação do PSD nacional seja bem mais grave do que parece, resultado não de ma confrontação interna entre “gangs” organizados em função dos seus interesses políticos, mas porque o partido não tem a capacidade de se mobilizar e dar cabo de “soluções” que não passam de conversas d alerta ou de “mudanças” que na realidade se limitam a ser apenas pontas-de-lança de interesses com ramificações não totalmente desvendadas.
Chega-se ao caricato absurdo - mas que revela um pouco o carácter que predomina no partido e a ética que por ali anda implantada - de vermos pessoas que fizeram parte da equipa de Ferreira Leite, que partilharam com ela a liderança do partido, que definiram com ela estratégias, que fizeram com ela escolhas, mas que por pura
cagança pirosa, não largam o protagonismo que sempre ambicionaram e que alimenta um ego refém de uma vaidade pessoal incontrolável, inclusivé assumindo lugares aos quais, caso fosse pessoas bem formadas, que pelos vistos não são, nunca se deveriam candidatar, pelas co-responsabilidades que tiveram na derrota eleitoral do partido, mas que não têm a coragem de assumir.
O PSD precisa cada vez mais de resolver urgentemente este estado de adormecimento em que se encontra, perdendo oportunidades, condicionado pelos avanços ou recuos de nomes, ou desmobilizando-se em vez de ser fomentada uma revolta das bases que seja capaz de exterminar com “cancros” que condicionam e manipulam o partido, impedindo-o de dar a volta que precisa. O PSD precisa urgentemente de uma revolta basista, que de uma vez por todas acabe com os elitismos que se julgam “donos” do partido, pelo simples facto de aparecerem nas páginas dos jornais ou nos telejornais das televisões ou simplesmente porque exibem os galões de funções de direcção para as quais são eleitos com meia dúzia de votos.
Defender a estratégia do grupo parlamentar., ou melhor dizendo, da sua direcção, é um embuste. Primeiro porque é liderado por um dos ainda vice-presidentes de Manuela Ferreira Leite que pelos vistos, em vez de assumir com ela a responsabilidade pela derrota, rapidamente se prepara a para a sacudir para o lado, tentando a sobrevivência e o tacho, custe o que custar. Depois, porque querer subscrever uma estratégia que transforma o PSD, no caso da avaliação dos professores, num partido-bailarino, que se estatela não sei quantas vezes, e que, mesmo assim, tem a lata de apregoar que venceu o concurso de dança, em nada dignifica a coerência na política. O PSD assumiu sempre posições concretas no passado sobre esta temática, o PSD tem um manifesto eleitoral do qual consta a sua posição, pelo que é criminoso, repito, criminoso e desonesto, esquecer tudo isso, só porque a fobia do bloco central parece estar a ganhar espaço e a querer impor-se. Os que votaram no PSD por causa desta polémica não o fizeram para que, depois, o PSD ou a liderança do seu grupo parlamentar protagonizasse esta palhaçada.
É evidente, portanto, que os movimentos surgidos no fim-de-semana, para acelerar o processo interno de realização de eleições internas e convocação do congresso, devam ser encarados como uma inevitabilidade. Não podemos tolerar mais tempo estas situações, assumindo uma atitude de cumplicidade perante a degradação de uma realidade interna que precisa de ser clarificada urgentemente. O PSD não tem condições, nem está em posição, de tolerar o protelar de decisões urgentes, nem tem que esperar por um qualquer pseudo D.Sebastião de pacotilha, que emerge da névoa sem trazer grande motivação, adoptando uma atitude própria daqueles que, ora avançam ora recusam, escondendo no fundo o que desejam, concorrerem sem mais ninguém a lhes incomodar, exactamente o que João Jardim reclamou nas directas anteriores e que eles tanto criticaram. Ou seja, para o líder madeirense, esse conceito de unidade não tinha validade, porque redutor e pouco democrático. Por isso a crítica de que foi alvo. Agora, porque o protagonista e apologista de tal procedimento passou a ser outro, assiste-se a este vou (ser candidato), não vou, pensando melhor não sei ainda se vou, só vou com unidade e sem adversários, etc.
A dada altura, até parece que há no PSD a tentativa de imposição abjecta de uma perspectiva redutora e manipulada, a de resolver rapidamente o problema da liderança, porque o mais importante não será devolver ao partido a motivação e a mobilização que já teve no passado recente, mas pôr Manuela Ferreira Leite na rua rapidamente. Eu também acho que, a partir do momento em que ela perdeu as legislativas – e penso que tinha todas as condições para vencer, mas na realidade nunca foi uma alternativa capaz de cativar as pessoas – e que anunciou que não se recandidata a novo mandato, deveriam ter sido tomadas as decisões que o momento exige, sem protelar no tempo, hesitando, como se fosse obrigatório esperar para que aparecesse algum “salvador”.
Quando no domingo, para surpresa (?) de alguns sectores social-democratas, Marcelo Rebelo Sousa – embora seja de bom-tom ressalvar que a estratégia política tem destas coisas, que muitas vezes ou não passam de tentativa de pressão dos potenciais adversários, ou de uma auscultação às reacções das bases porque no fundo são elas que votam – garantiu na RTP que "não há candidatura" à liderança do partido, negando notícias surgidas dias antes na imprensa (lá está, a tal táctica da estratégia política…) de que avançaria mesmo que não estivessem reunidas as condições que colocou - a existência de uma candidatura de unidade – das duas uma: ou o partido coloca-se a um canto, pesaroso e choramingão, fazendo figuras tristes próprias dos idiotas, é mais do que evidente que MRS perde toda a credibilidade para criticar seja o que for e, mais do que isso, deixa no ar a ideia de que tem medo de enfrentar as “directas”, seja contra quem for, para perder, como se alegados estatutos pessoais de alguns políticos, significassem também o direito de “não perderem eleições”internas. Nada disso.
Ontem um jornal falava de um “PSD impaciente e nervoso à procura de um presidente”. Marcelo Rebelo de Sousa liderou o partido de 1996 a 1999, mas nunca foi candidato em legislativas nacionais. Recusa ser candidato de facção, fazendo a apologia de uma candidatura de unidade que todos perceber não passar de uma conversa da treta porque Pedro Passos Coelho, que já concorreu contra Ferreira Leite e Santana Lopes (o maior erro do PSD nos últimos temos, como se voltou a ver agora em Lisboa). Qualquer que seja o cenário interno do partido, em termos de disputa pela liderança, terá naturalmente a participação de Pedro Passos Coelho, encarado não como um “ponta-de-lança” de grupos internos, onde pontificam nomes como Ângelo Correia entre outros, mas como um ensaiador de uma mudança geracional que é olhada com desconfiança por muita gente. Tal como a facilidade, que alguns poderão explicar, de ter fácil acesso a meios de comunicação tradicionalmente pouco dados a propiciar destaque ao PSD...
Finalmente, continuo a afirmar que, caso não apareçam candidatos disponíveis, há uma questão de consciência que se coloca a alguns militantes social-democratas mais históricos e que são referência do partido, neles incluindo Alberto João Jardim, os quais, perante uma situação extrema de ausência de alternativas à candidatura de Passos Coelho, teriam que abdicar de certos preconceitos ou hesitações, e avançar, sem temerem uma eventual derrota nas directas – e mesmo assim ainda veríamos se isso aconteceria…- porque ao menos manteriam a consciência tranquila, porque quando foi preciso, estiveram lá, responderam e não fugiram ao desafio. Para além de que teriam a toda a legitimidade para se assumirem como o rosto da oposição interna, caso estivessem disponíveis para esse papel, podendo em qualquer momento, confrontar as bases com uma decisão errada, quando foram chamados a escolher. Não quero com isto dizer rigorosamente mais nada do que isto! Prefiro refugiar-me neste pretenso abstracismo, mesmo correndo o risco de me confrontar com “raspanetes” ou críticas. Porque terei sempre a meu favor, bem ou mal, o facto de ter mantido a coerência de pensar hoje o mesmo que pensava há dois anos, não mudando rigorosamente este meu entendimento. Se é um desafio? Não sei. O que não me parece lógico que, depois, alguns possam argumentar, é que quem não der a cara, dificilmente poderá perder-se em queixumes sem receptividade, desde logo nos militantes social-democratas que, quer queiram quer não queiram, são quem têm a última palavra neste discutível processo de eleição de um líder. E digo isto antes que seja tarde demais, antes que o partido faça, de novo, más escolhas e se arrependa do embuste em que caiu, graças a manipulações internas e a pressões externas que tinham como epicentro referencial, interesses que extravasavam o próprio PSD.
(texto opinativo pessoal, a publicar no Jornal da Madeira de amanhã, 24 de Novembro)

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