- por Camilo Lourenço (*)
"As reacções ao discurso de Cavaco, protagonizadas por José Sócrates e António Vitorino, mostram que o "núcleo duro" do primeiro-ministro já esperava o endurecimento do discurso do Presidente.O sinal mais evidente dessa "antecipação" veio de António Vitorino. Na RTP, o comentarista disse que Cavaco mereceu a resposta porque o seu discurso era muito "próximo do discurso da líder do principal partido da oposição". A intenção era evidente: desvalorizar o essencial da mensagem de Cavaco (o Governo está, pela despesa pública, a hipotecar o futuro!); colocá-lo ao nível de um líder partidário e legitimar o "toma lá que já almoçaste!" de Sócrates.O problema é que Vitorino se esqueceu de duas coisas: ainda Ferreira Leite não era líder do PSD e já os analistas falavam, "ad nauseam", nos assuntos tocados por Cavaco. A segunda é que o Presidente não pode deixar de criticar um Governo só porque um líder partidário falou antes dele. Um Presidente não é eleito para ser original... mas para travar os erros dos governos (deste ou de outro qualquer).O melhor que Cavaco pode fazer é ignorar a rasteira de Vitorino. Daqui a uns anos a História não vai registar se Presidente e Oposição falavam a mesma linguagem; mas se o Presidente travou, ou não, as opções erradas do Governo. Alguém duvida que foi o "absentismo" de Jorge Sampaio que deixou António Guterres à vontade para fazer monumentais disparates na frente orçamental (que ainda hoje estamos a pagar)?".
(*) in Jornal de Negcócios
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