domingo, abril 19, 2009

Opinião

Julgo que o meu texto de opinião, a publicar amanhã no Jornal da Madeira, clarifica dúvidas que possam existir:
"EUROPEIAS
Independentemente do que pensam as pessoas, do PSD das Madeira, sobre o processo de elaboração da lista, da postura que o PSD nacional teve para com a única estrutura que tem responsabilidades governativas e que se tem mantido, coerentemente, na primeira linha do combate político a José Sócrates e às suas arbitrariedades contra a Região, independentemente ainda do pouco espaço que Alberto João Jardim teve para negociar com uma liderança nacional que não apoiou e que se limita a transferir para a lista os jogos de bastidores de negociação de lugares, com vista a um equilíbrio de tendências e forças de pressão impossível, independentemente da lei da paridade impor – num universo político predominantemente masculino – novas regras que visam defender qualquer forma de exclusão ou de predomínio excessivo em listas de candidatos, independentemente do que pensam as pessoas, no uso da sua liberdade e consciência, sobre todo o processo que envolveu a candidatura de Sérgio Marques, ou melhor dizendo a candidatura do PSD da Madeira ao Parlamento Europeu, onde sempre teve um representante, para os social-democratas madeirenses é indiscutível a necessidade de vencer estas eleições europeias, ainda por cima porque são aquelas que em Portugal registam menor (e vergonhosa) participação de eleitores.
Não se trata de contestar as negociações que Alberto João Jardim teve com Ferreira Leite – aliás sei que quando foi a Lisboa já ia desconfiado de qualquer coisa, conforme desabafou em privado – porque qualquer líder tem toda a legitimidade de tomar decisões, de negociar com a direcção nacional, sem estar pressionado pelos seus pares. É para isso que os partidos têm líderes. Não foi a escolha de Paulo Rangel, como ela próprio o reconheceu publicamente, uma escolha pessoal no uso de prerrogativas estatutárias que atribuem ao líder do partido essa decisão? E, conforme foi noticiado, não foi essa a escolha que prevaleceu apesar da maioria dos membros da Comissão Permanente do PSD estarem a favor de Marques Mendes? Obviamente que, caso o PSD nacional se venha a confrontar com um resultado deprimente, num cenário caracterizado, por exemplo, pelo aumento da abstenção, alguém terá que ser responsabilizado e, se não o fizer, obrigado a ter a única atitude decente, porque um partido de oposição que quer ser poder, não pode, a quatro ou cinco meses antes de eleições legislativas, e ressalvando a diferença entre actos eleitorais, ser enxovalhado numas europeias. Mas não estiquemos a corda: em 1999 e 2004, o PSD nacional, em coligação com o CDS/PP – daí a dificuldade em fazer projecções, mas também a recusa em aceitar os cenários idílicos traçados pelos líderes nacionais, que não passam em embustes – perdeu para o PS as eleições europeias, embora sem que os socialistas tenham ultrapassado os 45% (a coligação PSD/CDS ficou-se pelos 39% em 1999, que em 2004 baixaram para 33%, destacando-se o facto da abstenção ter aumentado entre aqueles dois actos eleitorais de 59,7% para 61,2%) Quais as garantias que o PSD pode dar – acho mesmo que não se pode brincar com coisas sérias – de que elegerá 8 ou 9 deputados, quando sabe que em 2004 elegeu 9 numa lista de coligação, 2 dos quais do CDS/PP? Que efeitos terão no PSD, a pressão e o efeito (na aplicação do método de Hondt) resultante do facto do CDS concorrer sozinho este ano? Esta semana dedicar-me-ei a partilhar convosco todas estas questões prévias relacionadas com as europeias.
Num projecto de investigação universitário, pretendi encontrar resposta para o facto, aliás bastante sintomático, da Madeira ter sido nas duas eleições europeias, a região do País que, apesar de tudo, menos abstenção registou, com a particularidade ainda de, entre 1999 e 2004, a ter inclusivamente diminuído. A procura de explicações plausíveis para este fenómeno, que podem ter a ver com a capacidade de mobilização da máquina eleitoral do PSD da Madeira, com a necessidade de justificar a posição de destaque do seu candidato na lista nacional ou com a importância - daí uma espécie de reconhecimento - da importância dos apoios europeus para o desenvolvimento da Região, podem ser alguns dos potenciais justificações para este facto.
Mas há que perceber esse fenómeno, investigando-o devidamente, ou seja, há que ter tempo para a realização de um trabalho desta natureza, que exige respostas concretas, ou pelo menos caminhos apontando para elas, e não meras análises conjunturais que valem o que valem, mas que desde logo não apresentam a sustentabilidade que necessitam. O que é facto – até porque os números falam por si – é que a Madeira em 1999 e 2004 foi a região em Portugal que menores níveis de abstenção registou, contrastando com os Açores que foram a região que se situou no topo da abstenção e com uma tendência diferente da Madeira, já que entre 1999 e 2004 aumentou-a. Pois esta situação, mais uma, deveria ser tida em consideração em jogos idiotas de bastidores onde se tentou inclusivamente impor à Madeira e aos Açores a indicação de candidatos do sexo feminino na lista nacional, apenas para que isso facilitasse a inclusão de “tachistas” que habitualmente giram à volta da liderança nacional em vésperas de actos eleitorais. Como é possível admitir sequer que numa lista liderada por Paulo Rangel, que não me parece seja ainda um político capaz de mobilizar o eleitorado à escala nacional, apesar de ser uma mais-valia indiscutível para o PSD, se pretenda impor como nº 2 uma desconhecida assessora de Cavaco Silva para os assuntos sociais, que não diz nada ao eleitorado, porque ninguém sabe de quem se trata e que não creio tenha qualquer actividade política ligada ao PSD, desvalorizando assim a mais-valia que representam os dois ou três primeiros lugares de uma lista de âmbito nacional, que regra geral se transformam nos mobilizadores do eleitorado?
Neste momento, mais do que perder tempo com deambulações ou discussões de nomes – embora me parece que, face às exigências deste ciclo eleitoral que se aproxima, as pessoas precisam de falar mais umas com as outras, para que seja possível compreender porque são tomadas decisões, incluindo as de carácter pessoal, que têm que ser respeitadas, mesmo quando não se concordem com elas – ao PSD da Madeira impõe-se a necessidade de rapidamente passar para um outro patamar, o do pragmatismo, que se resume à necessidade de ganhar eleições e de mobilizar o eleitorado, para que ao menos possam continuar a repetir, em 2009, o nosso estatuto de região portuguesa com menor taxa de abstenção. No meu caso, também é essa perspectiva que vai prevalecer. O que nada tem a ver com a minha amizade e a solidariedade pessoal com Sérgio Marques, nem como a minha compreensão pelo incómodo da atitude que foi obrigado a tomar. Mas estarei sempre com o líder do partido, provavelmente porque percebo que há momentos em que se torna importante ceder em nome de interesses regionais superiores, que terão depois que ser acautelados e que necessitam da solidariedade partidária nacional. Porque, quanto a “guerras” relacionadas com o escalonamento de lugares em listas candidatas, eu também recordo-me muito bem o que se passa nas eleições regionais e como reagem as pessoas…".

Sem comentários: