Gostaria de reafirmar o que escrevi sexta-feira no meu artigo de opinião publicado no "Jornal da Madeira", a desconfiança de que existem uma estratégia muito bem montada, discreta é certo, não sei (ainda) se eficaz, mas que tem vindo a procurar controlar à distância os acontecimentos:
"O PSD enfrenta outra realidade, que eu reconheço incómoda, e que alguns não desejam abordar, não só pelas suas implicações mas, sobretudo, pela complexidade que a mesma comporta. Refiro-me ao facto de serem muitos os que hoje têm a convicção que o PSD dificilmente consegue dissociar este seu actual processo interno de disputa da liderança, dos projectos, naturais e legítimos – atendendo à tradição dos seus antecessores – de Cavaco Silva no que a uma reeleição pacífica em 2011 diz respeito. Neste contexto, e admitindo uma componente especulativa que apenas o próprio poderia negar ou confirmar, a tradição eleitoral portuguesa mostra que, desde que os candidatos presidenciais, civis e ligados a partidos políticos, passaram a concorrer a Belém, abandonando-se a ideia de que aquele palácio era reserva exclusiva de candidatos militares, nunca os portugueses atribuíram, à direita ou à esquerda, a tal maioria total – “uma maioria (parlamentar), um governo e um Presidente” – uma máxima lançada por Francisco Sá Carneiro em 1980, já em desespero, quando começou a verificar que o candidato apoiado pela então AD (por sinal um general, Soares Carneiro) não conseguia vencer o candidato, (outro general, Ramalho Eanes) apoiado pela esquerda, nomeadamente pelo PS. Sá Carneiro jogou nas presidenciais de 1980, tudo o que tinha e não tinha – aliás viria a morrer quando viajava de Lisboa para o Porto, em plena campanha eleitoral, para participar num comício nos Aliados – mas a Aliança Democrática não conseguiu concretizar os seus objectivos eleitorais. Deixando para o próximo texto a conclusão desta temática (inclusivamente recordando protagonista se indicadores estatísticos), limito-me a deixar uma questão para a reflexão: o que será mais importante para Cavaco Silva e para a sua estratégia de reeleição considerando a tradição eleitoral portuguesa? Um PSD dotado de uma liderança forte, quero lá saber se populista, e com possibilidades de ganhar as legislativas de 2009, ou um PSD liderado por uma pessoa séria, com fama de “dura”, admito que dotada de algum carisma mas sem possibilidade de destronar o PS e José Sócrates em 2009? Assim sendo, acham que uma corrida com as características da disputa pela liderança do PSD pode passar assim tão despercebida ou ser “ignorada” por Belém ou por sectores afectos ao Presidente e que naturalmente continuam no PSD ou a movimentar-se na periferia do PSD? Mais. Até que ponto uma derrota de Manuel Ferreira Leite poderá ser “colada” a Cavaco Silva ou até que ponto uma menos provável vitória de Santana Lopes poderá ser considerada uma “derrota” de Cavaco, tudo por causa da polémica entre ambos surgida antes de barroso ter ido para Bruxelas, mas quando já se discutiam potenciais candidatos presidenciais apoiados pelo PSD? Lembram-se da célebre eleição presidencial de Mário Soares, que se candidatou com menos de 6% do eleitorado, mas que foi por ”ali fora” até se sentar em Belém? Penso que essa eleição presidencial – verdadeiro “case study” - não foi até hoje devidamente analisada em todos os seus pormenores".
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