domingo, março 26, 2023

Sondagem: Abusos na Igreja - A Maioria defende a suspensão de padres e indemnização das vítimas


A maioria dos portugueses defende a suspensão imediata dos padres suspeitos de abusos sexuais de crianças (82%) e a indemnização das vítimas por parte da Igreja Católica (72%), sendo que cerca de 89% consideram que a instituição demorou muito tempo a aceitar uma investigação. Para uns, foi "uma tentativa de ocultar os crimes". Para outros, essa demora resultou do receio de "danos na sua reputação". Só 5% entendem que a Igreja averiguou no tempo certo e 2% dizem que a instituição não tinha de fazer qualquer investigação.

Quase dois terços chumbam a forma como a instituição reagiu às conclusões do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa. Apenas 12% consideram que a resposta da Igreja foi positiva, segundo a sondagem da Aximage, feita para o DN, JN e TSF. Recorde-se que o relatório da comissão validou 512 queixas e estimou que, pelo menos, 4815 crianças terão sido abusadas em Portugal. No total, as dioceses receberam 98 nomes de alegados abusadores: cinco são de leigos e 93 de sacerdotes, 36 dos quais já faleceram.

A conta-gotas e após o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa ter afirmado que a "Igreja só afasta padres com base sólida", as dioceses começaram a anunciar a suspensão, preventiva e temporária, de alguns sacerdotes suspeitos. Até ao passado dia 22, tinham sido afastados de funções 13 padres e um leigo.

Nota "negativa" à reação

Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, foi o último dos bispos a anunciar medidas: em Lisboa, foram suspensos quatro padres suspeitos. Antes, o Porto afastara três membros do clero; Angra, dois; Braga, Guarda, Vila Real e Évora, um em cada diocese; e Leiria afastou um leigo.

Segundo a sondagem da Aximage, dois terços dos portugueses (66%) dão nota "negativa" ou "muito negativa" à forma como a instituição reagiu às conclusões do relatório da comissão. Apenas 12% dão voto favorável, considerando a reação "positiva ou muito positiva". Cerca de 89% dizem, ainda, que a instituição demorou a aceitar uma investigação sobre os abusos sexuais: 52% acreditam que a demora se deveu a uma "tentativa de ocultar os crimes" e 37% acham que a instituição "temia danos na sua reputação". Já 5% partilham da opinião que a Igreja aceitou e averiguou no tempo certo e 2% alegam que não tinha de promover qualquer investigação.

A esmagadora maioria dos portugueses defende a suspensão imediata dos padres suspeitos de abusos sexuais de crianças, correspondendo a 82% dos inquiridos pela Aximage, contra 14% que defendem a suspensão apenas depois de concluído o processo. No que toca à indemnização das vítimas, 72% sustentam que a Igreja Católica tem de pagar as devidas compensações. Cerca de 17% possuem opinião contrária e 11% preferem nada dizer sobre o tema. Quanto ao impacto da investigação na relação dos portugueses católicos com a Igreja, as opiniões estão muito mais repartidas. Cerca de 46% dos inquiridos acreditam num impacto temporário, enquanto 34% estão convencidos de que esta investigação terá "bastante impacto" e de que "alguns católicos deixarão de ter ligação à Igreja" Católica. Para 15%, os fiéis vão manter essa ligação.

FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM

A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com os abusos sexuais da Igreja.

O trabalho de campo decorreu entre os dias 13 e 17 de março de 2023 e foram recolhidas 801 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal.

Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 801 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,46%).

Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio (DN-Lisboa, texto da jornalista Marisa Silva)

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