domingo, março 05, 2023

A "liberdade" na terra do bandalho do Putin e corja de lambe-botas do Kremlin

O pai de uma menina de 12 anos, que fez um desenho antiguerra durante uma aula numa escola russa, enfrenta acusações criminais e uma potencial pena de três anos de prisão. A criança foi temporariamente colocada num orfanato — é o caso mais recente de repressão do Kremlin junto de crianças e pais por críticas à guerra na Ucrânia. O pai, Alexei Moskaliov, de 53 anos, foi detido esta quarta-feira, 1 de Março, em Iefremov, cidade russa na região de Tula, cerca de 240 quilómetros a sul de Moscovo. Foi acusado de crimes de ofensa e “descrédito ao Exército russo”, após buscas em casa e análise de publicações nas redes sociais. Isto depois de a filha, Masha Moskaliova, ter feito o desenho numa aula do sexto ano em Abril de 2022. A professora de Masha pediu aos alunos que desenhassem algo patriótico para celebrar a luta dos soldados na linha da frente. Contudo, Masha desenhou a imagem de uma mulher em frente à bandeira da Ucrânia, protegendo uma criança dos mísseis russos, e acompanhada pelo texto: “Não à guerra.” A professora informou imediatamente o director escolar, que reportou o incidente às autoridades. Masha foi questionada pelo FSB, o principal serviço de segurança russo, e Moskaliov foi interrogado.

Mais tarde, os investigadores encontraram caricaturas do Presidente russo, Vladimir Putin, e comentários de apoio à Ucrânia nas redes sociais. Na última Primavera, Alexei Moskaliov foi multado em cerca de 400 euros por um comentário em que qualificava os soldados russos como “os autores” da invasão. “Se a filha não fizesse o desenho, ninguém prestaria atenção ao pai”, alegou o advogado de Moskaliov, Vladimir Bilienko, em entrevista telefónica.

Contudo, os problemas judiciais de Moskalyov não terminaram. Em Dezembro de 2022, as autoridades abriram um novo processo criminal, acusando-o de “desacreditar o Exército”, um delito criado pelas rígidas leis de censura pós-invasão que acarreta uma potencial pena de prisão de três anos. Os agentes de segurança invadiram a casa de Moskaliov e confiscaram pertences e poupanças financeiras. Alexei Moskaliov também denunciou agressões durante o interrogatório. Uma vez que é pai solteiro, Masha foi levada para um orfanato.

No clima de guerra crescentemente arbitrário e hostil, os russos apoiantes da guerra podem criticar o Exército pelas derrotas, mas outros enfrentam duras punições por defender a paz – e Masha dificilmente é a única criança russa em problemas.

Em Outubro, uma menina de dez anos e a mãe foram detidas em Moscovo e interrogadas pela polícia, depois de o director escolar denunciar a fotografia de perfil da rapariga nas redes sociais. A menor usou um avatar de Santa Javelin, a imagem de uma mulher similar à Virgem Maria que segura um míssil antitanque Javelin, símbolo da resistência ucraniana. Nesse mesmo mês, um aluno do quinto ano em Iekaterinburg, nos Montes Urales, foi repreendido depois de escrever uma carta a um soldado, na qual lhe pedia que não matasse e voltasse a casa. Isto porque os estudantes deveriam escrever cartas de apoio às tropas russas na linha da frente da guerra.

Há um ano, em Março, um estudante do sexto ano, em Moscovo, foi interrogado pelas autoridades e pela polícia depois de desafiar o professor de História e questionar os motivos que levaram Putin a iniciar a guerra.

Outras crianças foram detidas durante protestos antiguerra. Segundo a OVD-Info, um grupo de vigilância, pelo menos 544 menores foram detidos durante o último ano por manifestações antiguerra, e sete enfrentam acusações criminais. Pelo menos 19 professores foram despedidos por se expressarem contra o conflito, informou a OVD-Info.

“É importante compreender que o caso Moskaliov integra uma tendência horrível e mais ampla”, alertou Daria Korolenko, advogada e analista da OVD-Info. “Como parte de uma repressão ampla durante a guerra, o regime persegue menores e as famílias por serem antiguerra, enquanto espremem a juventude russa numa cultura fortemente militarizada.” A repressão apenas parece tornar-se mais severa.

Na última quarta-feira, os elementos do Parlamento russo propuseram novas e mais rígidas leis de censura durante o tempo de guerra. Uma das principais medidas sugere a ilegalidade de criticar “formações de voluntários”, como o grupo Wagner, a fim de evitar o descrédito dos militares e informações falsas sobre a guerra.

Os membros do Parlamento também propuseram que a pena de prisão por violação da lei passe a ser de 15 anos. A leitura final e aprovação destas medidas está agendada para meio de Março. De acordo com o relatório da OVD-Info, 447 pessoas foram detidas no último ano por protestar ou por serem abertamente antiguerra. A maioria das acusações aconteceu durante a censura imposta em tempo de guerra. “É mais do que um arguido por dia”, refere o relatório. “Esta é a maior onda de repressão política na Rússia de Putin.”

Esta quinta-feira é esperado que as autoridades de Tula decidam se Alexei Moskaliov é transferido para a cadeia ou cumpre prisão domiciliária. Uma vez que é pai solteiro, esse dado vai determinar se a filha Masha permanece no orfanato estatal. À medida que o caso cresceu, Bilienko, o advogado de defesa, revelou ter recebido várias ofertas de pessoas dispostas a acolher a menina (Público)

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