A vitória com maioria absoluta, há um ano, foi, como se percebe agora, um intervalo num ciclo de más notícias. Se, em abril passado, Costa ainda beneficiava do estado de graça, com um saldo positivo de 24 pontos, a partir daí a degradação do ambiente político, económico e social começou a fazer estragos. E em poucos meses o primeiro-ministro passou do céu ao inferno.
De mal a pior
Em julho, com os portugueses já acossados pelo custo de vida e dois ministros diminuídos pela polémica do novo aeroporto de Lisboa (com a humilhação pública de Pedro Nuno Santos) e o caos nas urgências (que culminaria na demissão de Marta Temido), o saldo passou para dois pontos negativos. E em setembro, com a polémica sobre o "corte" nas pensões ao rubro e a inflação galopante, chegou aos oito pontos negativos.
Parecia mau, mas ficou pior. O final do ano passado e o arranque deste ficaram marcados por sérios abalos na credibilidade. Saiu Miguel Alves, arguido na Operação Teia. Saiu Rita Marques, em confronto com o ministro da Economia, e depois convidada para gerir uma empresa que beneficiou enquanto governante. Saiu Alexandra Reis, depois do escândalo da indemnização de meio milhão de euros na TAP, arrastando consigo o ministro Pedro Nuno Santos. E, finalmente, saiu uma secretária de Estado da Agricultura que tinha as contas arrestadas, no âmbito de uma investigação ao marido, por suspeitas de corrupção. A fatura para António Costa é pesada. Por cada português que lhe dá nota positiva, há pelo menos dois que lhe aplicam um chumbo.
Essa avaliação negativa é comum a todos os segmentos da amostra, sejam eles de âmbito geográfico, de género, de classe social ou grupo etário. Com destaque para os inquiridos com 65 anos ou mais, que se revelaram um sólido bastião ao longo dos anos. Já tinham ameaçado o primeiro-ministro com um cartão amarelo em setembro, depois do "corte" nas pensões futuras, e mostram-lhe agora um cartão vermelho (saldo negativo de 28 pontos). A única exceção à derrocada é, sem surpresa, os que permanecem fiéis ao voto no PS. Entre estes, Costa consegue um saldo positivo de 56 pontos.
Confiança socialista
São também os socialistas os mais confiantes que a legislatura seguirá até ao fim: 73%. Quando o que está em causa são as respostas da totalidade dos eleitores, já nem sequer há maioria, apenas pluralidade: 47% acreditam que o Governo dura até outubro de 2026, 41% adivinham um final antecipado. E em três segmentos até há mais gente a prever uma rutura antes do tempo do que capacidade para resistir até 2026: os residentes na Região Norte (49%), os que têm entre 50 e 64 anos (48%) e os de maiores rendimentos (46%). Se a análise às respostas a esta pergunta se centrar na distribuição por partidos, só socialistas (73%) e comunistas (52%) manifestam crença numa legislatura completa.
Pormenores
Governo mais abaixo
A avaliação ao Governo fica sempre uns furos abaixo relativamente ao primeiro-ministro e este barómetro não é exceção: o saldo é negativo (39 pontos), ou seja, nunca o Executivo tinha descido tão baixo na avaliação dos portugueses.
Castigo pesado a Norte
Costa está no vermelho em todas as geografias, mas é na região Norte que o castigo é maior: 39 pontos de saldo negativo. O Centro é o território menos hostil para o primeiro-ministro.
O rendimento conta
Quanto melhor o rendimento dos portugueses, pior é a avaliação ao líder do Governo. Entre os mais pobres, regista um saldo negativo de cinco pontos; entre os que estão no topo, chega aos 50 pontos negativos.
Chumbo à Direita
Quando se analisam os segmentos tendo em conta a distribuição do voto partidário, quem mais castiga o primeiro-ministro são os que votam à Direita: 79 pontos de saldo negativo no Chega, 69 na Iniciativa Liberal e 58 entre os sociais-democratas (Jornal de Notícias, texto do jornalista Rafael Barbosa)
Sem comentários:
Enviar um comentário