É sabido que Luis Montenegro, novo líder do PSD, tem o seu primeiro desafio eleitoral nas europeias de 2024, prevendo eu que, depois do que aconteceu ao CDS, após as legislativas de Janeiro deste ano, cada partido concorrerá sozinho, sem coligações que pelos vistos estão longe de garantirem mais-valias eleitorais. Por isso Montenegro precisa de apresentar uma lista forte, reunindo pessoas politicamente conhecidas e experientes, com alguma renovação, embora não sejam as europeias que convidam a essa renovação, muito menos agora em que uma crise global não se compadece com "patos" em Bruxelas. Pelo contrário. Lembremos o que aconteceu ao PSD nas europeias de 2009 (ganhou), 2014 (derrota) e 2019 (derrota):
2009
⦁PSD,
1.129.243 votos, 31,7%, 8 deputados
⦁PS,
946.475 votos, 26,6%, 7 deputados
⦁Bloco,
382.011 votos, 10,7%, 3 deputados
⦁PCP,
379.707 votos, 10,7%, 2 deputados
⦁CDS,
298.057 votos, 8,4%, 2 deputados
⦁Votantes,
3.561.502 eleitores, 36,8%
2014
⦁PS,
1.033.158 votos, 31,5%, 8 deputados
⦁PSD-CDS,
909.932 votos, 27,7%, 7 deputados
⦁PCP,
416.446 votos, 12,7%, 3 deputados
⦁MPT,
234.603 votos, 7,1%, 2 deputados
⦁Bloco,
149.628 votos, 4,6%, 1 deputado
⦁Votantes,
3.283.610 eleitores, 33,8%
2019
⦁PS,
1.106.345 votos, 33,4%, 9 deputados
⦁PSD,
727.207 votos, 21,9%, 6 deputados
⦁Bloco,
325.534 votos, 9,8%, 2 deputados
⦁PCP,
228.157 votos, 6,9%, 2 deputados
⦁CDS,
205.111 votos, 6,2%, 1 deputado
⦁PAN,
168.501 votos, 5,1%, 1 deputado
⦁Votantes,
3.314.423 eleitores, 30,7%
É perfeitamente possível que o Presidente do Governo Regional
possa ser a alternativa de Montenegro - que duvido queira ser candidato ao PE -
para liderar a lista social-democrata ou pelo menos ocupar um dos dois
primeiros lugares, até porque o político madeirense foi o mandatário nacional
da candidatura de Montenegro ao PSD. O Congresso social-democrata daqui a
alguns dias e o discurso que o Presidente do Governo Regional ali faça -
provavelmente deverá ser o mais importante de todos os discursos proferidos até
hoje em reuniões partidárias nacionais... - será muito importante na abertura
desse caminho.
Julgo
que existem condições políticas e pessoais para que esse cenário comece a
adquirir alguma consistência. De acordo com informações que discretamente fui
obtendo hoje em Lisboa, nada impede que Montenegro opte por Miguel Albuquerque
e Jorge Moreira da Silva como os dois primeiros nomes da lista europeia
social-democrata em 2024.
Quadro
difícil para o PSD-M
Mas
trata-se de um quadro que coloca problemas ao PSD-Madeira. Desde logo, se
Albuquerque for mesmo a solução de Montenegro para as europeias - este cenário
só depende da decisão de Albuquerque que sabe que a não ser em 2024
dificilmente terá outra oportunidade para um mandato europeu que admito se
encaixa no seu perfil político e pessoal - deixa de fazer sentido que o actual
líder do PSD-M seja candidato nas regionais de 2023 - que deverão realizar-se
em Outubro - para, sendo eleito, renunciar ao mandato pelo menos até Janeiro de
2024, ano de realização das europeias em Junho.
Sendo
assim, repito, estamos a falar de cenários puramente especulativos por que
embora o tema ainda não seja abordado publicamente - o PSD aguarda pelo
Congresso nacional que se vai realizar no final de Junho - quem estaria em
melhores condições para liderar a candidatura laranja nas regionais de 2023
seria indiscutivelmente Pedro Calado, nº 2 do partido, autarca do Funchal, líder
da estrutura social-democrata funchalense.
O
problema é que Calado garantiu no ano passado que cumpriria o mandato na
cidade, mas a verdade é que a ser confirmar este novo cenário - e tenho a
convicção absoluta que Albuquerque não rejeitaria um mandato europeu de cinco
anos ainda por cima numa altura em que se prevê grandes mudanças na Europa e em
que as exigências políticas dos eleitos serão reforçadas, dados os problemas e
persistências que se colocarão aos futuros deputados, incluindo na defesa da
ultraperiferia, algo que paulatinamente tem vindo a ser esquecida por Bruxelas
em nome de outras prioridades mais complexas e mais recentes, comparativamente
com o que acontecia no passado recente.
Qual
a solução?
Se
se confirmasse a candidatura de Miguel Albuquerque em 2024, estamos perante uma
realidade nova e o PSD-M teria que resolver, e resolveria, fazendo avançar
Pedro Calado para uma candidatura nas regionais de 2023. O problema, outro
problema, é que a CMF, perante a saída de Calado - que facilmente explicaria
aos eleitores do Funchal o que se passou e o que obrigaria à sua saída da CMF -
é que a edilidade funchalense ficaria entregue, tudo leva a crer a uma
"independente", Cristina Pedra, vice-presidente, com poucas ou
nenhumas ligações ao PSD-M o que certamente colocaria problemas novos.
Isto
é uma consequência da demagogia patética e populista dos partidos que andam
todos com a mania que esgotaram os seus recursos humanos e precisam de ir à
sociedade civil contratar pessoas sem vínculos partidários para se candidatarem
com a garantia de lugares elegíveis. Não sendo assim, essas "vedetas"
nunca assumem os lugares. O costume! E depois dá-se isto. E não precisa ser uma
situação destas, por que a qualquer momento pode aparecer a qualquer momento um
caso extremo que obrigue a substituição de pessoas eleitas, acabando os
partidos por ficar a braços com um problema difícil que não esperavam, mas que
a qualquer momento podia acontecer
Basicamente estamos a falar de um cenário potencial, mesmo que seja ainda especulativo - estamos a dois anos das europeias - e que as pessoas envolvidas recusam aceitar como plausível. Pessoalmente mantenho este quadro com alta probabilidade, sabendo que tudo depende da vontade dos protagonistas em aceitar as mudanças e sobretudo da decisão de Montenegro em avançar com a candidatura de Albuquerque, que obviamente nunca poderia aceitar, dadas as funções que hoje desempenha e o seu perfil político um dos dois primeiros lugares na lista europeia. Julgo mesmo, é a minha opinião pessoal, que com a hipótese Jorge Moreira da Silva o Presidente do Governo seria sempre o cabeça de lista nessa lista europeia de 2024.
Poder sem ganhar as eleições
Há que ter presente, e o PSD-M precisa ter isso presente, que depois do que aconteceu em 2015 na Assmebleia da República com a geringonça de esquerda, e nas últimas eleições regionais nos Açores, com a geringonça de direita, podem os partidos conquistar o poder mesmo sem ganhar eleições. Num regime parlamentar, como é o nosso, incuindo na Madeira e nos Açores, o essencial deixou de ser a vitória eleitoral mas antes a eleição de mandatos. E com a proliferação de novos partidos, os cenários político-parlamentares de coligações alargaram-se, embora a estabilidade política e governativa esteja nalguns casos longe de estar sempre garantida (LFM)
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