Só na Finlândia se confia mais nas notícias do que em Portugal. No entanto, apesar da manutenção dos elevados níveis de confiança na informação que colocam o país 19 pontos percentuais acima da média global, o interesse dos portugueses nas notícias sofre uma quebra significativa. Estas são duas das principais conclusões do Reuters Digital News Report 2022, onde Portugal volta a surgir no top 3 dos países que mais confiam na informação noticiosa e nas marcas de media, ocupando a segunda posição, entre 46 países, com 61% dos inquiridos a afirmarem confiar em notícias em geral contra os 42% da média global do estudo. RTP, SIC e Jornal de Notícias surgem em destaque, com mais de três quartos dos portugueses que utilizam a internet a manifestarem a sua confiança nestas marcas (77,8%, 77,6% e 76%, respetivamente), sendo os níveis de confiança nos títulos elevados de modo geral no panorama nacional. Entre 15 marcas de media, salienta o relatório da OberCom — Reuters Institute for the Study of Journalism, Portugal nove marcas nas quais mais de 70% da amostra diz confiar: RTP, SIC, Jornal de Notícias, RFM, Rádio Comercial, Expresso, Público, TSF e Antena 1.
Apesar dos elevados níveis de confiança, o relatório dá conta de uma quebra significativa no interesse dos portugueses no consumo de informação noticiosa, registando um recuo de 17,5 pontos percentuais de 2021 para 2022. A percentagem de inquiridos que afirma ter interesse em conteúdos noticiosos em geral situa-se agora pouco acima da metade, nos 51,1%, que comparam com 68,6% no último ano. Além disso, a proporção de inquiridos que apontam mesmo não ter interesse em notícias mais do que duplicou, aumentando em 5,5 pontos percentuais relativamente a 2021.
Neste ponto, conclui-se que o evitar ativo de notícias, ou seja, o não consumo voluntário de conteúdos noticiosos, tem vindo a aumentar significativamente desde 2017, altura em que praticamente metade dos portugueses utilizadores de internet garantiam nunca evitar notícias de forma ativa e voluntária (47%). Em 2022, essa proporção cai para menos de metade, na ordem dos 25,3 pontos percentuais, sendo uma prática que pouco mais de um quinto dos portugueses (21,7%) assegura nunca adotar de forma ativa e voluntária.
“A excessiva tematização da agenda noticiosa em torno dos temas pandemia e eleições legislativas 2022 pode estar relacionada com a saturação e quebra geral no interesse por notícias, secundadas pelo aumento no número de pessoas que evitam notícias voluntariamente”, indica o relatório. Entre as principais razões apontadas para o evitamento voluntário de notícias surge o excesso de notícias sobre a covid-19 (36,1%), o cansaço com o excesso de notícias em geral (25,8%) e o facto de as notícias poderem ter um impacto negativo no humor (20,2%).
Também a disponibilidade para pagar por informação digital, refere o estudo, “continua a tardar em ganhar dimensão no mercado nacional”. Apenas 12% dos portugueses afirma ter pago por notícias em formato digital no ano anterior, cinco pontos percentuais abaixo da média global (17%) e uma quebra de 4,8 pontos percentuais face aos 16,9% que diziam pagar por informação digital no ano anterior.
De acordo com o relatório, os conteúdos pelos quais os portugueses mais pagam são o streaming de filmes/séries, com 57% dos portugueses que utilizam a internet a subscreverem um serviço de streaming audiovisual de forma contínua. Além deste tipo de serviço, 43,6% subscrevem um serviço de streaming de música, 29,8% algum pacote de canais desportivos e 21,4% um serviço de audiobooks ou podcasts, concluindo-se que “a economia digital é, em Portugal, fortemente dominada pelo entretenimento em detrimento dos conteúdos e da esfera informativa” (Meios e Publicidade, texto do jornalista Pedro Durães)
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