terça-feira, junho 21, 2022

Crise alimentar desencadeia batalha por novas despensas globais. Fertilizantes são “uma bomba-relógio prestes a explodir”

 

Com o conflito na Ucrânia, as raízes mais profundas da globalização estão ser expostas, mostrando que esta pode ser usada como uma arma de guerra muito persuasiva na batalha por novas despensas globais, escreve hoje o jornal ‘ABC’. A somar-se a essa panóplia de interesses, está uma grave crise energética, uma pandemia ainda não ultrapassada, a falta de grãos e fertilizantes, a interrupção dos circuitos logísticos e um grave problema climático com cheias e secas crescentes. Todos eles, como um efeito dominó, põem em risco a segurança alimentar e destroem o conhecido status quo, uma vez que “definitivamente, a globalização da guerra será feita através dos sistemas agrícolas e alimentares”, sublinha José Matos, analista do Deciphering the War, citado pelo jornal. E o poder alimentar, que é a capacidade dos países ganharem influência através da alimentação, será determinante e mudará nos próximos anos. Por isso, “cada país, tanto exportador como importador líquido de alimentos, procura literalmente a vida”, acrescenta.

“Haverá aqueles que implementarão políticas para se tornarem autossuficientes a longo prazo. E outros estabelecerão alianças comerciais pouco ortodoxas com parceiros improváveis”, sublinha. O verdadeiro problema, adianta o ‘ABC’, não é a escassez de grãos, mas de fertilizantes para os produzir, porque a Rússia controla grande parte do fornecimento de fertilizantes minerais. “É um problema geopolítico”, afirma José María García, investigador da Universidade Politécnica de Valência (UVP). A sua importância é evidenciada nas palavras do investigador canadiano Vaclav Smil: “Dois quintos da humanidade estão vivos graças aos fertilizantes químicos, que fizeram triplicar a produção mundial de grãos, traduzindo-se no maior crescimento populacional humano que o planeta já viu.” Agora, o mercado está a sofrer com as sanções ocidentais e as restrições de exportação russas.

Em 2021, Moscovo tornou-se o principal exportador mundial de fertilizantes de nitrogénio e o segundo maior fornecedor de fertilizantes de potássio e fósforo, segundo a FAO. E até agora este ano, os preços dos fertilizantes aumentaram 40%, refere o jornal espanhol. O problema é que esse aumento soma-se a um outro de 100% em 2021 e ao encerramento do mercado bielorrusso, que exporta 40% do potássio. Os EUA e os bancos mundiais reagiram para evitar os distúrbios alimentares de 2008. Enquanto isso, o esforço dos agricultores para encontrar soluções provocou uma corrida pelo estrume. Há também uma indústria que está a produzir novos produtos de fertilização, economia mais natural ou circular que não deixa resíduos, e a Europa Ocidental e os Estados Unidos estão a avançar nesse campo. A questão contém, por isso, “uma bomba-relógio prestes a explodir” (Multinews, texto da jornalista Simone Silva)

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