quinta-feira, junho 23, 2022

Greve teria um “impacto crítico para o nosso futuro”, diz CEO da TAP


Christine Ourmières-Widener considera que uma paralização não seria compreensível para o país e pediu "respeito" aos sindicatos. Mais de 80% dos trabalhadores vão continuar com cortes. Os sindicatos subiram o tom das críticas à administração da TAP depois das últimas alterações unilaterais à remuneração, que incluem uma redução de 10% no corte aplicado aos pilotos, com estes a admitirem avançar para uma paralisação. A presidente executiva considera que uma greve poderia comprometer o futuro da companhia aérea. “Todos os trabalhadores da TAP compreendem a situação e compreendem que qualquer interrupção da operação terá um impacto crítico para o nosso futuro”, afirmou Christine Ourmières-Widener, numa conferência de imprensa esta tarde na sede na empresa, quando questionada sobre a possibilidade de uma greve. A ameaça foi deixada na segunda-feira pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC). Reagindo às medidas comunicadas pela comissão executiva da transportadora aérea, que decidiu unilateralmente uma redução de 45% para 35% do corte salarial aplicado a estes profissionais, inferior ao por eles pretendido, o SPAC afirmou que “cada vez mais paira no ar a sensação de que a Administração da TAP está a tentar empurrar os pilotos para uma greve, na esperança de que assim obtenha a justificação miraculosa que iluda os contribuintes, sobre os fracos resultados que os consecutivos erros de gestão estão a causar”.

“Veremos, mas não considero que esse seja um cenário compreensível”, disse também a CEO da TAP. “Se estamos nisto juntos, se compreendemos como o país decidiu salvar a empresa e injetar tanto dinheiro… isso é uma grande responsabilidade”, acrescentou.

Além da redução do corte e da reposição do subsídio de aterragem para os pilotos, a TAP decidiu também atualizar o salário mínimo garantido (valor que não pode ser sujeito a cortes) de todos os trabalhadores para 1.410 euros, com retroativos a janeiro. Apesar desta alteração, 82% do pessoal continuará com reduções. As novas condições serão aplicadas já com o próximo salário, precisou a responsável.

Além do SPAC, que acusou a comissão executiva da companhia de “terrorismo empresarial”, o maior sindicato que representa os tripulantes de cabine, o SNPVAC, veio hoje criticar a administração por querer “enfraquecer qualquer posição mais radical dos sindicatos”.

A presidente executiva da companhia justificou a decisão unilateral com a falta de acordo com os sindicatos, mas não só. “Achámos que era o correto a fazer, era justo. É algo que a TAP pode pagar porque estamos a seguir o plano de restruturação. Não podemos ir mais longe por causa da situação da companhia. Estamos a voar mais, mas a situação é ainda muito desafiante”.

A CEO da TAP pediu, no entanto, outra atitude por parte dos sindicatos. “No futuro, esperava respeito de ambos os lados. Nós respeitamos todos os sindicatos e a minha expectativa é ter em troca o respeito de todos os parceiros. Podemos concordar em discordar, sobretudo num mundo em crise, mas o respeito não deve ser esquecido. Falo em respeito porque vi algumas declarações e para mim é essencial como base”.

Mais de 500 contratações este ano

Quem também foi muito crítico da decisão foi o presidente do PSD. “Isto é um revoltante desrespeito pelos portugueses que trabalham com salários miseráveis e, deles, ainda têm de tirar milhões de euros de impostos para despejar na TAP”, escreveu Rui Rio no Twitter.

“Não sou uma política, esse não é o meu papel. Olho para o plano e para o que estamos a cumprir. O nosso aumento de oferta para este verão está acima do que estava planeado”, responde Christine Ourmières-Widener quando confrontada com as críticas do líder social-democrata.

“Quando o acordo foi assinado com os pilotos no ano passado, foi em troca da proteção de um número de postos de trabalho e da estrutura do seu trabalho. O número de postos de trabalho que têm de ser protegidos são muito diferentes do que tínhamos estimado, por isso para nós é o correto a fazer. Imagino que para outros seja difícil perceber este racional, mas para nós ele existe, justificou a CEO da transportadora aérea.

Além das alterações nas condições laborais, a companhia está também a contratar. A presidente executiva referiu que já entraram perto de 300 novos tripulantes de cabine e mais de 200 colaboradores para o pessoal de terra.

A responsável deixou a promessa de continuar com as negociações sobre os novos acordos de empresa (em substituição dos acordos de emergência em vigor até ao final de 2024), mantendo a esperança em conseguir um desfecho ainda este ano.

Nas próximas semanas a empresa vai avançar com sessões de esclarecimento para os trabalhadores. O objetivo é informar o que está a ser feito, “mostrar que não são apenas os trabalhadores a contribuir para o plano de reestruturação, dar-lhes mais informação sobre todas as iniciativas de cortes de custos, sobre a estrutura da frota, para que percebam porque estamos a escolher este tipo de aeronaves e não outro”, apontou.

Aos sindicatos foi também prestada mais informação sobre a mudança para um novo edifício. Christine Ourmières-Widener referiu que foi mesmo organizada uma visita ao campus da TAP junto ao aeroporto de Lisboa, “porque alguns não conheciam as condições de algumas estruturas que não são o que eu esperava para os nossos trabalhadores”. “É uma discussão que está a decorrer. A nossa intenção não é ter um impacto negativo nos trabalhadores por causa da mudança, pelo contrário”, garantiu.

As condições no aeroporto de Lisboa também foram tema, com a CEO da TAP a revelar que a companhia está em conversações com o SEF para agilizar uma passagem mais rápida para os passageiros com voos de ligação. Sobre o aumento da capacidade aeroportuária na capital, a responsável afirma que a empresa “quer continuar a crescer e que um novo aeroporto será muito bem-vindo”, mas trabalhará com qualquer que seja a solução adotada.

Questionada sobre a sua manutenção à frente da TAP depois das críticas dos sindicatos, Christine Ourmières-Widener responde que “é uma questão para o Governo. O meu compromisso é completo, ainda tenho uma paixão por esta companhia. Espero ter uma longa relação com os sindicatos, para mostrar que o que estamos a fazer está certo”. Em resposta à TSF, o Ministério das Infraestruturas garantiu que mantém a confiança total na presidente executiva da companhia aérea (ECO digital, texto do jornalista André Veríssimo)

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