Li no
jornal francês Le Monde que os países europeus que estão na linha de frente no
acolhimento de exilados ucranianos, começam a dar sinais de alteração das suas
políticas devido as alguma saturação e falta de recursos financeiros.
Fim
do transporte gratuito, redução de subsídios, evacuação de refugiados de hotéis
para transferi-los para campos muito menos confortáveis, são algumas das decisões
tomadas. Se é um facto que estas medidas são tomadas muitas vezes em nome da
luta contra os abusos ou por razões financeiras óbvias em tempos de inflação,
também é evidente que esses países anunciam o esgotamento da solidariedade
observada no início do conflito, num contexto em que o fluxo de chegadas quase
secou e onde alguns ucranianos estão mesmo a regressar a casa.
O
primeiro alerta surgiu em Abril num texto do jornalista do Le Monde, Jakub
Iwaniuk, com o título "Na Polónia, “fadiga de ajuda” para refugiados
ucranianos começa a ser sentida" que revelava que "perante uma onda
migratória sem precedentes, muitos voluntários e ONGs denunciam a falta de
apoio do governo e a ausência de uma estratégia de longo prazo".
"Desde
o início da guerra, Anna Chuba, refugiada de Kiev residente em Varsóvia, não
teve problemas em encontrar acomodação para sua amiga Olga e seu filho de 10
anos. Graças a seus muitos contatos, ela falou com uma amiga polaca, Marta, que
de forma espontânea e a exemplo da generosidade para como milhares de seus
compatriotas, colocou um quarto à disposição dos refugiados. Duas semanas
depois de acolhê-los, a filha mais velha de Olga teve que se juntar a eles.
Para o anfitrião, esse colega de quarto não demorou muito para se tornar
difícil", escreve o jornalista.
“Depois
de um mês, Marta ligou para dizer que não aguentava mais”, conta Anna. Ela
disse que se sentia uma refugiada em sua própria casa, que os moradores viviam
no seu próprio ritmo, que ela não tinha mais privacidade. Ela teve que
pedir-lhes para encontrar outra solução. Varsóvia e as redes sociais ainda
estão cheias de ofertas de moradia, e Olga conseguiu realojamento.
O Le
Monde falava em Abril do que chamou de “burnout” do voluntariado: "Desde o
início da invasão russa em 24 de fevereiro, o país viu foi procurado por mais
de 3 milhões de ucranianos, dos quais cerca de 2 milhões permaneceram no país.
O alojamento em casas de família cresceu consideravelmente, embora não existam
números oficiais. Dois meses após o início do conflito, sentem-se
significativos sinais de cansaço por esta efusão de generosidade, tanto entre
os indivíduos como entre os representantes da sociedade civil".
E
acrescenta o Le Monde: "As pessoas estão exaustas", disse Anna
Dabrowska, presidente da organização de ajuda a minorias "Homo Faber"
e coordenadora do Comité de Assistência Social para a Ucrânia na cidade oriental
de Lublin, a 100 quilómetros da fronteira. Na linha de frente, durante dois
meses, ela liderava uma equipe de 300 pessoas, incluindo 230 voluntários. “Já
sinto sintomas de esgotamento voluntário. A empatia cansa. Os nossos
voluntários beneficiam de apoio psicológico. É ainda mais angustiante porque
sem eles todo o sistema desmorona".
Diz o
Le Monde que "activista experiente, Anna Dabrowska não está a perder a
paciência, mas segundo ela, o governo conservador da Polónia está a colher, à
escala europeia, "louros que não merece", porque todo o peso da ajuda
aos refugiados recai sobre os ombros de voluntários, da sociedade civil e de
autoridades locais, que não beneficiam o apoio das autoridades centrais. As
ONGs são abandonadas à própria sorte, financiadas por doações privadas ou
municípios. O problema é que o voluntariado deve fazer parte do sistema de
apoio. No entanto, na Polónia, é o sistema por si só. Esta situação é
insustentável".
Já
depois desse primeiro texto outro, de 10 de Junho, assinado pelos jornalistas
do Le Monde, Hélène Bienvenu e Jean-Baptiste Chastand, dava conta que "na
Europa Central, a generosidade para com os refugiados ucranianos está
diminuindo".
Segundo
o Le Monde, "perante o custo financeiro das medidas e alguns abusos, os
países da linha da frente no acolhimento dos exilados, como a Polónia, a
Áustria ou a República Checa, começam a rever e a reduzir as suas políticas de
apoio".
"Fim
do transporte gratuito, redução de subsídios, evacuação de refugiados de hotéis
e transferência para campos muito menos confortáveis. Depois de abrirem as
portas, os países da Europa Central, na linha de frente na recepção e apoio aos
refugiados da guerra, começaram a rever e a reduzir as suas políticas. Se estas
medidas são muitas vezes tomadas em nome da luta contra os abusos ou por razões
financeiras óbvias em tempos de inflação, elas também anunciam o esgotamento da
solidariedade observada desde o início do conflito, num contexto em que o fluxo
de chegadas quase secou e onde alguns ucranianos estão mesmo a decidir
regressar a casa", diz o jornal.
Segundo o Le Monde, no caso da Polónia, o primeiro país de acolhimento com um milhão e meio de refugiados ucranianos, os municípios das grandes cidades (Varsóvia, Cracóvia, Gdansk, Katowice, Lodz, etc.) suspenderam recentemente o transporte gratuito para os ucranianos e decisões semelhantes também foram anunciadas em muitos países vizinhos. A Áustria, que se tornou um ponto de passagem para refugiados que fogem pela Hungria ou Eslováquia, o estacionamento também passou a ser cobrado a veículos ucranianos desde Junho, depois de terem sido noticiadas várias situações abusivas. A extrema-direita austríaca usou um argumento perigoso quando ataca os autarcas do país por atribuírem facilidades de estacionamento aos ucranianos, nomeadamente em Viena, "enquanto que os vienenses tem que pagar para estacionar”(LFM)
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