sexta-feira, outubro 10, 2014

Sondagem: Costa em alta na primeira sondagem depois das primárias

"O Outono começa bem para os socialistas, que florescem nas sondagens, e para o novo líder (ainda não formalmente empossado) do partido, que aparece como favorito claríssimo a ganhar as eleições legislativas do ano que vem. Na primeira sondagem depois das eleições primária de há dois fins de semana que confirmaram de forma clara e esmagadora António Costa como o candidato do PS a primeiro-ministro nas próximas Legislativas, o partido da rosa sobe quase dois pontos percentuais e ultrapassa a soma dos partidos da maioria PSD/CDS.
Ao mesmo tempo, o PSD cai quase dois pontos percentuais e fica a mais de oito pontos percentuais do score dos socialistas - embora na maioria de governo o CDS escape à tendência de descida. Será que a técnica de descolagem do partido de Portas está a resultar aos olhos dos portugueses? É que esta altura não é nem a primeira nem a segunda ocasião em que os dirigentes do PP aparecem publicamente (ou através de notícias de jornal) como os defensores da baixa de impostos no orçamento do próximo ano, contra as resistências e dúvidas levantadas por Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque.
Além da intenção de voto, a sondagem inclui três outras perguntas sobre António Costa. E nas três as respostas são-lhe claramente favoráveis. Senão veja-se: o PS está agora, depois de passada a disputa interna Seguro/Costa, em muito melhores condições para enfrentar o Executivo de direita; António Costa não só pode como deve acumular a liderança socialista com a presidência da maior autarquia do País; e, finalmente, Costa é claramente o favorito aos olhos dos inquiridos a vencer as legislativas do ano que vem. E tornar-se dessa forma o próximo primeiro-ministro de Portugal. 
OUTROS DADOS A RETER NESTA SONDAGEM:
Na intenção de voto dos partidos, além da subida do PS que o coloca na fasquia dos 35 pontos (sete acima do resultado obtido nas urnas em 2011) e a cerca de dez de uma maioria absoluta na Assembleia da República, e da descida em espelho do PSD de Passos, há outras notas a sublinhar, como a da subida dos indecisos este mês (mais cinco pontos percentuais) e a descida generalizada, ainda que ligeira, dos partidos mais pequenos como o PCP o BE o MPT e o Livre de Rui Tavares.
Na popularidade dos dirigentes políticos e instituições, medida pela diferença entre as opiniões positivas e negativas quanto à sua atuação, o mês de outubro é verdadeiramente outonal: toda a gente desce face a setembro. Ironia das ironias, Paulo Portas, agora que António José Seguro deixou o ranking ao abandonar a liderança do PS, torna-se o dirigente político mais popular em Portugal. É mesmo verdade. O vice-primeiro-ministro e líder do CDS/PP está ligeiramente à frente e Cavaco Silva, com Jerónimo Sousa a completar o pódio dos três dirigentes com opinião positiva. Tudo o resto aparece em terreno negativo.
MINISTROS EM PERDA 
Nas últimas semanas, não é só a ascensão de António Costa e a subida do PS nas sondagens a servirem de nuvem negra sobre Passos Coelho e a maioria. O caso Tecnoforma e o envolvimento do primeiro-ministro com a empresa e uma ONG sua subsidiária puseram pela primeira vez o nome de Passos em xeque nesta legislatura. Tudo por causa dos alegados pagamentos que teria recebido da empresa enquanto era deputado em exclusividade do PSD, na segunda metade dos anos 90. Passos esteve praticamente uma semana em silêncio, e explicou-se na Assembleia da República. Mas, se as justificações do primeiro-ministro não convenceram os partidos da oposição, também não deixaram satisfeitos os portugueses, como os resultados das perguntas desta sondagem bem revelam. Passos saiu fragilizado do caso. Ponto final.
Além do caso Tecnoforma, o apagão do programa informático da Justiça Citius e a lista de colocação de professores contratados pelo Ministério Educação puseram outros dois ministros na linha da frente da polémica. E, uma vez mais, a sondagem mostra que nem Paula Teixeira da Cruz nem Nuno Crato se saem bem da embrulhada em que se colocaram, por mais que Passos Coelho dê garantias de os segurar no seu Executivo. 
FICHA TÉCNICA
Estudo de opinião efetuado pela Eurosondagem S.A. para o Expresso e SIC, de 2 a 7 de outubro de 2014. Entrevistas telefónicas, realizadas por entrevistadores selecionados e supervisionados. O universo é a população com 18 anos ou mais, residente em Portugal Continental e habitando lares com telefone da rede fixa. A amostra foi estratificada por região: Norte (20,6%) — A.M. do Porto (13,6%); Centro (29,7%) — A.M. de Lisboa (26,3%) e Sul (9,8%), num total de 1021 entrevistas validadas. Foram efetuadas 1266 tentativas de entrevistas e, destas, 245 (19,4%) não aceitaram colaborar estudo de opinião. A escolha do lar foi aleatória nas listas telefónicas e o entrevistado, em cada agregado familiar, o elemento que fez anos há menos tempo, e desta forma resultou, em termos de sexo: feminino — 52,5%; masculino — 47,5% e no que concerne à faixa etária dos 18 aos 30 anos — 16,6%; dos 31 aos 59 — 51,6%; com 60 anos ou mais — 31,8%. O erro máximo da amostra é de 3,07%, para um grau de probabilidade de 95,0%. Um exemplar deste estudo de opinião está depositado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social" (texto de MARTIM SILVA do Expresso, com a devida vénia)
Comentário
Grande incógnita é acordo de regime, afirma Adelino Maltez
O estudo dos sinais de opinião mostram que o atual situacionismo é um terço dos cidadãos que manifestam opinião e que, muito dificilmente, recobrará qualquer maioria absoluta, nem com o apoio dos novos atores que possam emergir. Poderia haver uma esquerda unida (PS, PCP mais Bloco e dissidentes), mas o tempo de governabilidade de frentes populares não se coaduna com o regime, pelo que tudo aponta para uma dinâmica de um PS procurando tecer uma rede com o Livre e eventualmente o Bloco e o apoio dos novos atores, nomeadamente o PDR, que ainda não aparece como tal nas sondagens. A grande incógnita está na possibilidade de um prévio acordo de regime entre os dois primeiros classificados da corrida, um acordo até nos desacordos, com o que ficar em segundo a garantir pactos de apoio parlamentar em políticas possíveis de consenso, alargadas a forças sociais e morais.
Faltam duas incógnitas: (1) O espaço do PDR, que pode ser alargado se houver um acordo de Marinho e Pinto com antigas candidaturas autárquicas independentes e que ainda estão fora do sistema (pode chegar a 10%) e baralhar os equilíbrios, dado surgir como charneira e poder receber a sociologia que votou Seguro nas primárias como simpatizante. (2) A corrida para uma nova liderança no PSD, a que pode mobilizar para dentro do PSD as candidaturas autárquicas dissidentes do PSD, desviando-as do PDR.
De qualquer maneira, tudo depende da dinâmica da nova liderança de Costa e o sucesso que venha a ter com a reciclagem para o sistema de antigos ativistas da esquerda à esquerda do PS e com a simultânea recuperação de sinais do centro liberal e antineoliberal, com o apoio de forças vivas patronais, sindicais e morais, que pressionem para a reconstrução de um novo bloco central, ao estilo do conseguido por Rui Moreira no Porto"