“Confusão!,
queixavam-se os jornais online. Referiam-se ao discurso inicial de Passos
Coelho, ontem no Parlamento, sobre a reposição dos salários da função pública -
que seria integral em 2016, disse ele -, e que, pouco depois, o próprio
primeiro-ministro modificou para uma reposição gradual de 20% a partir de 2016.
Confusão coisa nenhuma! O que houve foi a preguiça habitual dos jornalistas que
não souberam ouvir Passos Coelho. Felizmente estava lá eu. Aqui vos deixo as
palavras límpidas do orador: "Senhores deputados, como ainda há pouco vos
disse que repunha, desdigo agora porque não ponho. E dizendo-o, mais que digo,
reitero, porque se ponho o que não punha nada mais faço do que dispor sobre o
que antes não pusera. Ponho, pois. Isto é, não ponho. E sendo isto tão claro,
não contraponham reticências onde exclamação pede ser posta: não só reponho
como logo oponho! Reponho tudo, como eu disse às dez. E só ponho 20% (que é não
pôr 80), como garanti ao meio-dia. Não é isto tão simples? Pôr e repor é um
supor. Meu senhores, se há verbo que gosto é do pôr - no indicativo
("enquanto vós púnheis o voto na urna"), no conjuntivo ("quando
eu puser as promessas mais falsas") e no imperativo ("põe tu as
ilusões de molho") -, e, sobretudo, nesse maravilhoso pôr conjugado no
porém. Ah, dizer pôr e, com porém, passar ao não pôr... Eis, senhores
deputados, a essência do que para mim é ser porítico, perdão, político."
(texto do jornalista do DN de Lisboa, FERREIRA FERNANDES, com a devida vénia)