quarta-feira, outubro 08, 2014

Juízes são os primeiros a ter aumentos no pós-troika

Li no DN de Lisboa que "os magistrados colocados no dia 1 de setembro nos 77 novos tribunais especializados subiram de escalão e foram aumentados cerca de mil euros. Juízes do Supremo são os mais bem pagos da função pública. Os juízes que ficaram colocados nos novos tribunais especializados, criados com a reforma judiciária, foram automaticamente “premiados” com um aumento salarial. A garantia é dada ao DN por fonte oficial do Conselho Superior da Magistratura ( CSM) que se escusa, porém, a contabilizar quantos profissionais foram efetivamente abrangidos por esta promoção. Esta torna- se, assim, a primeira subida salarial na carreira da função pública, na fase pós- troika. No total foram criados mais 77 tribunais especializados e 157 secções especializadas. Ao que o DN apurou, o número dos magistrados promovidos andará à volta dos cem, o que inclui os procuradores do Ministério Público. A mesma fonte oficial do CSM garante que “consultando o movimento judicial, verifica- se que uma parte muito significativa dos juízes colocados nas instâncias centrais não tiveram qualquer melhoria na condição remuneratória”. E explica ainda que não se trata de uma efetiva progressão na carreira, “pois esta só sucede por via de promoção e esta só se efetiva quando o juiz sobe a desembargador dos tribunais da Relação”. Feitas as contas, um magistrado abrangido por este aumento pode passar de um ordenado de 4462 euros para um de 5609 ( valor relativo ao índice 220). Para ocuparem este cargo – e serem consequentemente aumentados –, estes magistrados terão, porém, de ter um mínimo de cinco anos de serviço e uma classificação de mérito, atribuída pelo Conselho Superior da Magistratura. “Mas isso não significa uma progressão de carreira mas, sim, apenas uma mudança de índice salarial”, explica o juiz António Mouraz Lopes, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses ( ASJP).
Aumento salarial futuro?
Paralelamente à entrada em vigor do novo mapa judiciário, a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, reconheceu no X Congresso da Associação Sindical dos Juízes Portugueses ( ASJP), que decorreu no passado fim de semana em Troia, que é necessário “ajustar o estatuto remuneratório dos juízes à dignidade da sua função”. Mas não foi precisa quanto ao timing desse aumento. Em aberto está, agora, se essa alteração decorrerá ainda nesta legislatura. Em causa, a alteração estatutária da magistratura judicial, onde se incluiu esta questão remuneratória. Ao DN, Mouraz Lopes admite: “A questão remuneratória tem de ficar resolvida nesta legislatura.” Os juízes têm alertado – ao longo dos últimos anos – para os riscos que os baixos salários e a sua sujeição a cortes derivados de crises económicas podem ter na independência dos magistrados judiciais. Por isso, pediram à titular da pasta da Justiça que atualize e blinde os salários a eventuais crises financeiras e ao regime da função pública. Até aqui, os juízes não deixaram de ter as carreiras congeladas. Segundo o site Pordata, os cargos de topo da magistratura, comparando com médicos, militares, docentes universitários e diplomatas, são os mais bem remunerados, numa média de 6130 euros mensais. Mais 500 euros do que os médicos e mais 700 do que os militares. A magistratura judicial é ainda a carreira cuja tabela salarial mais aumentou desde 1989, em que mais que duplicaram os valores ( de 2567 passaram para 6130 euros).
Mais especialização com mapa
O novo mapa judiciário alterou as 231 comarcas para 23 e criou mais 77 tribunais de competência especializada. As novas comarcas coincidem com os distritos, à exceção de Porto e Lisboa, que foram divididas em duas e três comarcas. Cada uma dessas comarcas foi, por sua vez, separada em instâncias centrais e instâncias locais. As primeiras incluem as secções cíveis ( para processos acima de 50 mil euros), as criminais e as especializadas ( comércio, execuções, família ou trabalho, por exemplo). A oferta de especialização foi, aliás, uma das grandes apostas da ministra da Justiça nesta reforma judiciária. Quanto às instâncias locais, incluem secções de competência genérica e que, no limite, serão só secções de proximidade, estruturas muito reduzidas, sem magistrado, mas onde será possível consultar os processos.
Estudo refere que ordenados são mais baixos do que em 1960
A Associação Sindical dos Juízes Portugueses ( ASJP) elaborou um estudo, em março deste ano, sobre os vencimentos dos magistrados, em que conclui que os salários são mais baixos agora do que em 1960. No estudo constava a proposta de alteração do estatuto remuneratório, que prevê a impossibilidade de redução dos vencimentos dos magistrados, um aumento anual automático e total independência financeira dos tribunais e do Conselho Superior da Magistratura, além de uma revisão global da grelha salarial. Esse documento surgiu no âmbito da revisão, em curso, das leis relativas aos estatutos dos magistrados, que têm de ser adaptados ao novo mapa judiciário. Ao contrário do que acontece noutros países, salienta- se, “em Portugal, os juízes estão sujeitos a negociações periódicas com os poderes executivo e legislativo a fim de terem uma actualização da sua retr i buição (…) o que comporta uma ideia de subordinação do poder judicial aos demais poderes do Estado”. O documento recorda ainda que os juízes estão obrigados a uma “exclusividade absoluta e vitalícia”: não podem acumular com alguma atividade remuneratória, ao contrário dos deputados e de outros profissionais do setor público. O documento inclui outras comparações: num conjunto de 46 países da Europa, o ordenado bruto de um juiz português em início de carreira, em primeira instância, surge em 22. º lugar, e o do conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça em 19. º . Além disso, o rendimento médio dos magistrados judiciais portugueses é de 1,7 vezes mais o rendimento médio nacional e a média nesses 46 países é de 2,1 vezes".