"De repente, o Governo anuncia grandes investimentos públicos. É a ligação ferroviária Lisboa-Madrid, que não será em TGV mas sim em alta velocidade para passageiros e mercadorias. É a construção de um grante terminal para contentores na Trafaria. É um plano para relançar o setor de construção e obras públicas.
Ora para um Governo que tanto diabolizou o investmento do Estado e a aposta nas grandes obras públicas, o que quer isto dizer?
Optemos pela hipótese mais benigna. O Governo chegou à conclusão que é preciso investimento para a economia voltar a crescer. O plano A apostava sobretudo no investimento estrangeiro. Como ele não aparece, pelo menos em quantidade suficiente, há que pôr em prática o plano B, estimulando a aposta no investimento português.
Só que aí temos o mesmo problema. O investimento privado português está muito renitente. Na última década, o investimento caiu em sete dos dez anos. E entre 2011 e 2013 vai reduzir-se mais de 30%. Last but not least, recentemente soube-se que as nossas elites tinham no estrangeiro 3,4 mil milhões de euros, que resolveram legalizar sob pressão da Operação Furacão.
Conclusão: o Governo descobriu que, sem investimento público, que arraste depois o investimento privado, os níveis de investimento em Portugal continuarão em quebra.
Vai daí, começa a abrir os cordões à bolsa para grandes obras públicas e para o setor de construção, com o lançamento de projetos de proximidade, apoio à internacionalização e a reconversão de desempregados do setor.Nada que o anterior Governo não estivesse a fazer. E o anterior ao anterior. E o anterior ao anterior ao anterior. E por aí fora. Depois de tanta reforma e de tantas palavras, voltamos ao modelo do costume: investimento público, construção e obras públicas e exportações. E la nave va" (texto de Nicolau Santos, Expresso, com a devida vénia)
