domingo, março 17, 2013

Comentadores crescem e multiplicam-se

Segundo o Expresso num texto da jornalista Cristina Figueiredo, “há um corrupio pouco habitual no universo televisivo dos comentadores políticos: Luís Marques Mendes estreia-se esta noite na SIC generalista (estreou-se ontem, sábado), após três anos na TVI24. Pedro Santana Lopes também trocou a TVI24 pelo novo canal no cabo CMTV — que inaugura as emissões amanhã e leva consigo Medeiros Ferreira e Ângelo Correia (que comentavam pontualmente na TVI e na SIC Notícias mas já eram cronistas no “Correio da Manhã”). A SIC Notícias, por sua vez, reforçou o painel de comentadores com Bagão Félix (às 4ªs, já há três semanas), Jorge Coelho (às 5ªs — estreia dia 21) e Francisco Louçã (às 6ªs, também já há três semanas). A transferência de Marques Mendes é uma objetiva promoção para o antigo líder do PSD, que assim passa a rivalizar com o decano dos comentadores políticos, Marcelo Rebelo de Sousa — o único que, até aqui, dispunha de um espaço próprio em canal aberto. Embora não seja essa a ideia, afirma Alcides Vieira, diretor de Informação da SIC: “Nem a SIC é a TVI, nem Marques Mendes é Marcelo Rebelo de Sousa”. A aposta em Mendes resulta da combinação — rara — de três fatores, explica o responsável pela Informação da SIC: “Conhecimento técnico, independência e, não menos importante, capacidade de comunicação”. Numa altura em que “o contexto noticioso do país obriga a uma oferta informativa mais rica”, a SIC reformatou os jornais de fim de semana por forma a resultarem num “semanário, com reforço da componente documentário e análise”, revela Alcides Vieira. Colocar Marques Mendes ao sábado foi deliberado: “É o dia em que as pessoas estão mais disponíveis à reflexão e ao aprofundamento das notícias, já leram o Expresso...” Foi o que interpretou Felisbela Lopes, professora da Universidade do Minho, doutorada em informação televisiva: “Ao colocar Marques Mendes nos serões de sábado, a SIC prolonga o agendamento noticioso que o Expresso faz pela manhã, antecipa-se ao comentário de domingo de Marcelo e encontra uma âncora forte para puxar pelas audiências do ‘Jornal da Noite’”.
Marcelo: um milhão e meio de ‘fiéis’
O comentário político em televisão é garantia de audiências? Marcelo é líder e inquestionável: os dados da GfK relativos a janeiro e fevereiro apontam para um share médio de 30% — o que corresponde a cerca de 1,5 milhões de pessoas que assistem, fielmente, aos seus seus comentários de domingo à noite. No cabo, os números são outros: em termos de share (percentagem do universo de pessoas que se encontram a ver televisão) o programa mais visto é a “Quadratura do Círculo”, com António Costa, António Lobo Xavier e Pacheco Pereira. A “tertúlia mais antiga da televisão”, como a classifica António José Teixeira, diretor da SIC Notícias, teve 2,6% de share nos dois primeiros meses do ano (uma média de 92 mil espectadores).
Mas o programa de Marques Mendes na TVI24, à mesma hora da “Quadratura”, ficou pouco atrás (2,3% de share). A aposta das televisões no comentário político por políticos não surpreende Felisbela Lopes: “A TV informativa que temos tem uma hiperdependência da política e dos políticos. A seguir aos jornalistas, os políticos são os mais convidados para os plateaux de informação, particularmente nos canais do cabo”, diz. “A uns e outros pede-se em permanência um comentário político sobre o que acontece e sobre aquilo que fazem ou testemunham. Tudo parece ser política, o que contribui para a imagem despolitizada que paradoxalmente a TV dá da política”, acrescenta.
António José Teixeira explica com outros argumentos a renovação (e alargamento) do painel de comentadores políticos: “Nestes tempos de maior incerteza, em que se procura uma maior orientação, ter a opinião e a análise de pessoas com independência, peso próprio e algo a acrescentar é importante para todas as antenas”. São os próprios “espectadores que sentem essa necessidade”, afirma sustentando- -se em estudos feitos pela estação de Carnaxide.
Felisbela Lopes, por sua vez, é bastante crítica do que se diz nesses comentários: “A novidade, a originalidade ou a pertinência do que se diz apresenta-se muitas vezes no grau zero, havendo apenas uma confrangedora estridência verbal. Mas a TV fluxo vive da palavra e os políticos, assim como os jornalistas, são os mais bem treinados na arte de colocar o poder em cena”. Daqui resulta, na sua perspetiva, “uma profissionalização do comentário político e, a esse nível, há os bons ‘profissionais’ e os charlatões”.