"I.Há uma coisa que não entendo: a estranha e evidente dependência, pessoal (em termos políticos) e governativa, de Passos Coelho relativamente ao Ministro das Finanças - que não passou de uma terceira escolha no processo de formação deste governo - resulta de uma convicção pessoal do ainda líder do PSD, explicada porventura pela sua limitação pessoal em termos de formação académica a que se junta uma indesmentível inexperiência política (foi deputado, nada mais tendo feito de útil na política) ou, pelo contrário, resulta de pressões impostas por terceiros para que os relatórios de avaliação da troica fossem avaliados positivamente? Esta é uma resposta que me interessava ter, não pela propaganda, não pelos próprios - que voltariam a mentir como sistematicamente têm feito - mas por alguém que pudesse falar com clareza e com verdade.
Afinal, Passos é ou não ainda líder de um partido político que, graças ao braço tentacular opressivo e manipular da máquina de Relvas e demais membros do gangue, está passivo, rendido, impotente, sem identidade própria, sem programa, sem valores, sem princípios, sem rigor, incapaz de reagir, um partido que tem medo, que não reage, não tem vontade própria e que come e cala tudo - apesar de muitas das suas bases, partidárias ou eleitorais, se manifestarem claramente nas ruas, e disso não tenho dúvida?
É ou não factual que um partido existe para ganhar eleições? Será que o PSD, por puro masoquismo do mais surrealista, gosta de caminhar para o abismo, para o descalabro só porque está controlado por um "gangue" que tomou de assalto o partido entregando-o a incompetentes? Será que o PSD consegue resistir com esta irritante passividade a um descalabro eleitoral em perspetiva, daqui a seis meses? Será que as bases do PSD não se revoltarão e que não chegará então a hora de pedir contas e punir os responsáveis por esse descalabro? Coelho esquece que em eleições autárquicas, independentemente da incompetência e da teimosia, há muito de pessoal, associado aos candidatos, que está em jogo e em causa, há a dignidade que os candidatos social-democratas precisam de preservar, pois nada os obriga ao enxovalho da derrota por culpa de terceiros., nem a arcar com responsabilidades que não lhes podem ser imputadas?
II. O líder do PS, António José Seguro - porque às vezes fala como se nada tivesse a ver com o drama que o nosso país e o seu povo, como se antes deste governo de coligação não tivesse estado no poder um governo incompetente, despesista, bandalho, politicamente corrupto e coveiro do país, da responsabilidade do PS e liderado pelo seu comparsa José Sócrates – continua a comportar-se, com imenso oportunismo à mistura, como se fosse uma ave de rapina que paira sorrateira sobre os despojos à espera do melhor momento para atacar.
Mesmo que eu perceba o incómodo de Seguro – obrigado a assumir o terrível legado de Sócrates que durante alguns anos vai acompanhar o PS eleitoralmente – não creio que na política não existam limites claros que separam o oportunismo e a demagogia do rigor, da ética e dos princípios.
Reconheço-lhe contudo alguma acuidade nas críticas e dou-lhe de barato a coerência de achar., com alguma razoabilidade, diga-se em abono da verdade, que o memorando de ajustamento hoje em aplicação, pouco ou nada tem a ver, nos seus itens mais essenciais, com o documento original, negociado e assinado pelos socialistas e por Sócrates. Tudo porque este governo quis andar depressa demais, colocando a carroça à frente dos bois, indiferente ao facto de ter deixado um rasto de destruição, pobreza, fome, exclusão, falências, desemprego, emigração, frustração de milhares de jovens, endividamento das famílias e das empresas, estagnação da economia, etc, de que não há memória. Mas a verdade é que temos um governo que, perante estas evidências, continua a achar que estamos no bom caminho. Tudo por causa dos mercados e da utopia do financiamento nos mercados sem ser à boleia (e por muitos anos assim terá que ser) do BCE e de outras instituições europeias.
Seguro voltou a confrontar Passos Coelho, anteontem no debate na Assembleia da República, sobre se mantinha o corte de 4 mil milhões de euros na despesa pública. Está no seu direito, pois é essa a resposta que os portugueses precisam de saber, porque ingloriamente continuam à margem de um processo com contornos mafiosos que está a ser negociado à socapa com o FMI.
O que Seguro não diz – e as pessoas querem saber - é o que ele fará caso o PS chegue ao poder (o que acontecer resultará totalmente do demérito e culpa deste governo de coligação desprezível, desacreditado e moribundo), por via de eleições que não podem ser excluídas, quer porque este governo corre o risco de ser demitido por incompetência caso persista em ser um instrumento gerador de instabilidade social e política. É isso que o PS tem que dizer aios cidadãos. É isso que as pessoas precisam de saber dos socialistas, sem rodriguinhos, sem hipocrisias, sem demagogia, sem deambulações tontas. Revoga ou não as medidas que este governo venha a tomar no âmbito do tal corte dos 4 mil milhões de euros (embora pessoalmente ache que atingirão os 5,5 a 6 mil milhões de euros) na despesa pública? Diga o que fará.
Ou será que Seguro não diz nada sobre isto porque não tem a certeza de que seja ele o candidato do PS a primeiro-ministro, quer em 20215, se se mantiver a atual legislatura, quer em eleições antecipadas que não podem ser descartadas? A ser assim, estaremos perante um partido dotado hoje de uma solução de liderança que não passa hoje de uma solução provisória, uma espécie de solução muito primária destinada a “manter a equipa em jogo", apenas a defender-se, sem possibilidades de atacar. É isto que Seguro tem que esclarecer e clarificar.
Obviamente que Coelho, fazendo o que sempre tem feito, não respondeu à pergunta de Seguro. Optou por confrontar o líder do PS com os anunciados cortes de 4 mil milhões em França, esquecendo-se sorrateiramente (como é seu timbre) de sublinhar que Hollande, em queda livre nas sondagens – as piores de sempre de um líder de governo nos últimos 25 anos – enfrenta um desemprego a níveis nunca vistos nos últimos 30 anos!
III. Se a ideia não é baixar o salário mínimo nacional, então porque falar no assunto? Um mistério só explicável caso se trate de mais uma asneirada deste governo e do seu líder. Para cair nas boas graças de alguém? Mas de quem, sinceramente, de quem?! Será que existe esse propósito, agora negado, de reduzir o salário mínimo nacional, empobrecendo ainda mais cerca de 1 milhão de trabalhadores que dele auferem? Será que estamos a falar de uma teoria já pensada e que poderá ser posta em execução daqui por algum tempo, quando a sociedade portuguesa não estiver sob grande pressão social e política como está agora? Não me digam que vão aproveitar as férias de Verão para aprovar essa redução do SMN. Seria bandalhice a mais…" (LFM/JM)