quarta-feira, outubro 12, 2011

Opinião: "Ditadura corrupta e sanguinária massacra a Guiné Equatorial"

"Em 2008, um aventureiro espanhol que se tornou escritor publicou pela editora El Andén, de Barcelona, o livro Guinea e, logo em seguida, pela Internet, uma carta para tentar sensibilizar as pessoas para o drama dos pouco mais de 616 mil habitantes da ex-colônia espanhola Guiné Equatorial, submetidos, desde a independência, em 1968, a uma das piores ditaduras africanas. Teodoro Obiang, presidente desde 1978, foi eleito pela revista “Forbes” o oitavo governante mais rico do mundo, enquanto 80% da população sobrevivem (até os 43,3 anos, que é sua expectativa média de vida) com menos de 20 euros por mês. Menor país do Golfo da Guinea, com apenas 28.051 km², tem uma das maiores produções de petróleo da África, um PIB de US$ 15,5 bilhões e renda per capita de US$ 12.895 (maior que a do Brasil, estimada em US$ 10 mil), mas 98% do rendimento nacional vai para Obiang e seus cúmplices no governo. Como a imensa maioria da população mundial, eu ignorava essa situação até receber ontem, pela Internet, a carta de Fernando Gamboa, o escritor. Ela foi lida à luz dos acontecimentos de agora no Egito que balançam uma ditadura tão corrupta e longeva quanto a de Obiang. Para ler a carta, tive que interromper, na página 138, a leitura de Pequena Abelha, um livro de 270 páginas escrito pelo psicólogo londrino Chris Cleave, colunista do jornal The Guardian. Foi lançado em Londres em 2008, com o título de The Other Hand, e publicado no Brasil no ano passado pela Editora Intrínseca. Não me perguntem por que mudaram o título. Mas isso não importa. O livro é um relato ousado e emocionante das desventuras de uma menina negra de 14 anos, provocadas pela exploração de petróleo na Nigéria, o maior país do Golfo da Guiné. A aldeia dela, cujo único pecado era estar sobre um rico campo petrolífero cobiçado por uma multinacional, foi queimada e seus moradores mortos. Ela escapou. O livro de Gamboa, que não foi publicado no Brasil (não o encontrei para venda na Internet nos sites da Amazon e da Submarino), é uma novela de aventura que se baseia, segundo o autor, em fatos reais. A protagonista é uma colaboradora espanhola da UNICEF que é presa pela polícia de Obiang, torturada e condenada a vinte anos de prisão. Uma entrevista de Gamboa pode ser lida aqui. A carta está disponível em vários endereços, na Internet. Alguns pontos que merecem atenção especial:
• O Presidente Teodoro Obiang Nguema estudou na Universidade de Navarra, da Opus Dei.
• Chamada antigamente de “a pérola da África”, hoje, sob o jugo ditatorial da família Obiang Nguema e com o beneplácito das grandes potências cujas empresas exploram os seus campos de petróleo e espoliam as suas reservas madeireiras, a Guiné Equatorial converteu-se num dos países mais subdesenvolvidos e corruptos do mundo, e, seu povo, um dos mais aterrorizados por seu próprio governo.
• São vítimas da maldição do petróleo. China, Estados Unidos e França farão o possível para manter o velho ditador no poder e assim garantir o ganho para suas empresas petrolíferas. A família Obiang fica com absolutamente tudo o que elas pagam pelos direitos de extração.
• Obiang tomou o poder depois de assassinar o tio Francisco Macías, outro ditador sanguinário. No poder, o atual ditador saqueou, roubou e assassinou sistematicamente, “até extremos inconcebíveis”.
• Teodoro Obiang e o seu clã governam a Guiné Equatorial como o faria um escravagista na sua fazenda. Para eles, os cidadãos guineenses são escravos à sua disposição e, o país, uma fazenda privada que saqueiam sem ter que dar contas a ninguém.
• Calcula-se que o atual governo guineense exterminou nada menos que 10% da população do país, e uma quantidade indeterminada de pessoas desapareceu ou se encontra presa ilegalmente e sem julgamento prévio. Segundo a Anistia Internacional, os detidos pela polícia e o exército são torturados sistematicamente com métodos brutais.
• Teodoro Obiang ganhou as últimas eleições com 99,5% dos votos. Os 13 partidos políticos autorizados eram formados por membros do governo
(texto de José de Souza Castro, aqui, com a devida vénia)

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