"Qualquer político faria o que Jardim fez, se o sistema lho permitisse. O sistema permitiu. Não só permitiu, como tornou possível a gestão das finanças da autonomia em roda livre.
Jardim usou todos os recursos que tinha e os que não tinha para a sua aposta de desenvolver a Madeira, muito embora o tenha feito inacreditavelmente à custa de nós todos. Também os socialistas governaram à nossa custa - e de que maneira... - sem resultados positivos comparáveis e com resultados negativos muitíssimo mais graves.
Foi muito pior o que aconteceu com eles, não obstante a amnésia súbita e radical que parece ter acometido um PS que, convenientemente, se lambe e relambe agora a passar uma esponja esburacada de eufemismos sobre si mesmo. Nos últimos 16 anos, o PS governou o País de finais de 1995 a meados de 2002 e de princípios de 2005 a meados de 2011. Qualquer coisa como treze anos da pior governação possível...
Com toda a probabilidade, Jardim vai ganhar outra vez as eleições. Parece evidente que o eleitorado da Madeira se estará solenemente nas tintas, tanto para o défice e a coesão nacional, como para as vociferações de quem, entregando-se a elas de cabeça perdida, se compromete ipso facto a restringir violentamente os benefícios, a cortar radicalmente em tudo e mais alguma coisa, a obrigar sem contemplações a uma austeridade insuportável, a travar o crescimento sem mais nem para quê.
Não me parece que os madeirenses sejam sensíveis a outras lógicas, em especial à lógica de beco sem saída a que o Governo está obrigado por força da crise que herdou e do memorando que teve de engolir. Para os madeirenses, votar em Jardim será uma questão de "legítima" defesa e de um bom senso que tem tanto de elementar como de imediatista.
No estado a que as coisas chegaram, isto não tem nada a ver com reacções pretensamente indignadas à franqueza brutal com que Jardim enfrenta sem rodeios adversários e problemas. Nem com a sua crónica falta de requintes florentinos na luta política. Para além da uma experiência política de décadas, a truculência de Jardim disfarça um potencial de manhas e de subtilezas que os adversários ainda não conseguiram nem perceber nem enfrentar com êxito. E por isso ele garante que não quer saber de memorandos, nem de troikas ou meias troikas e segue, impávido, ante os ódios velhos e as invejas acumuladas de quem não cansa mas não conseguiu apeá-lo ao longo mais de trinta anos.
Agora, é mais um caso instintivo de "estado de necessidade": os madeirenses vão votar Alberto João Jardim porque decerto alimentam uma expectativa que a experiência histórica tornou, se não racional, pelo menos plausível: se estamos em tempos de "salve-se quem puder!", eles esperam que Jardim não pague, sim, que não pague, as dívidas da Madeira e tenha a arte e o engenho de poupar a região autónoma a apertos de cinto incómodos e a encolhimentos ruinosos das receitas.
Ninguém lhes pode atirar a primeira pedra. Não obstante a catástrofe geral, vemos todos os dias corporativismos e sindicalismos dos mais desvairados sinais a gesticular de cabeça perdida, a bradar tonitruantes, a ameaçar com as reacções mais calamitosas a propósito de quaisquer medidas que lhes diminuam as regalias, lhes afectem as prerrogativas, lhes toquem naquilo que têm como adquirido para todo o sempre. Ninguém vai nisso de lhe cercearem a vidinha. Vendo bem as coisas, exigem do Governo que faça como fez Jardim, gaste sem conta, peso ou medida, e tenha para com eles exactamente a mesma atitude "perdulária".
A tão proclamada "impunidade" com que Alberto João tem agido resulta da permissividade do sistema, da estrutura constitucional, das frouxidão das malhas legais, do papel centrifugamente deletério do Comité das Regiões na União Europeia e das teorias autonómicas, da falta de autoridade dos Governos centrais, dos manobrismos políticos. Para o continente, o círculo é vicioso, porque quem paga somos nós. Mas para os madeirenses é virtuoso, porque acham que, para já, quem fica a lucrar são eles. Na dialéctica Funchal versus Lisboa, Jardim soube encarnar o pólo da identidade regional. Por isso deve ganhar outra vez. A Madeira é o Jardim" (artigo de Vasco Graça Moura, hoje no DN de Lisboa, com a devida vénia)
Jardim usou todos os recursos que tinha e os que não tinha para a sua aposta de desenvolver a Madeira, muito embora o tenha feito inacreditavelmente à custa de nós todos. Também os socialistas governaram à nossa custa - e de que maneira... - sem resultados positivos comparáveis e com resultados negativos muitíssimo mais graves.
Foi muito pior o que aconteceu com eles, não obstante a amnésia súbita e radical que parece ter acometido um PS que, convenientemente, se lambe e relambe agora a passar uma esponja esburacada de eufemismos sobre si mesmo. Nos últimos 16 anos, o PS governou o País de finais de 1995 a meados de 2002 e de princípios de 2005 a meados de 2011. Qualquer coisa como treze anos da pior governação possível...
Com toda a probabilidade, Jardim vai ganhar outra vez as eleições. Parece evidente que o eleitorado da Madeira se estará solenemente nas tintas, tanto para o défice e a coesão nacional, como para as vociferações de quem, entregando-se a elas de cabeça perdida, se compromete ipso facto a restringir violentamente os benefícios, a cortar radicalmente em tudo e mais alguma coisa, a obrigar sem contemplações a uma austeridade insuportável, a travar o crescimento sem mais nem para quê.
Não me parece que os madeirenses sejam sensíveis a outras lógicas, em especial à lógica de beco sem saída a que o Governo está obrigado por força da crise que herdou e do memorando que teve de engolir. Para os madeirenses, votar em Jardim será uma questão de "legítima" defesa e de um bom senso que tem tanto de elementar como de imediatista.
No estado a que as coisas chegaram, isto não tem nada a ver com reacções pretensamente indignadas à franqueza brutal com que Jardim enfrenta sem rodeios adversários e problemas. Nem com a sua crónica falta de requintes florentinos na luta política. Para além da uma experiência política de décadas, a truculência de Jardim disfarça um potencial de manhas e de subtilezas que os adversários ainda não conseguiram nem perceber nem enfrentar com êxito. E por isso ele garante que não quer saber de memorandos, nem de troikas ou meias troikas e segue, impávido, ante os ódios velhos e as invejas acumuladas de quem não cansa mas não conseguiu apeá-lo ao longo mais de trinta anos.
Agora, é mais um caso instintivo de "estado de necessidade": os madeirenses vão votar Alberto João Jardim porque decerto alimentam uma expectativa que a experiência histórica tornou, se não racional, pelo menos plausível: se estamos em tempos de "salve-se quem puder!", eles esperam que Jardim não pague, sim, que não pague, as dívidas da Madeira e tenha a arte e o engenho de poupar a região autónoma a apertos de cinto incómodos e a encolhimentos ruinosos das receitas.
Ninguém lhes pode atirar a primeira pedra. Não obstante a catástrofe geral, vemos todos os dias corporativismos e sindicalismos dos mais desvairados sinais a gesticular de cabeça perdida, a bradar tonitruantes, a ameaçar com as reacções mais calamitosas a propósito de quaisquer medidas que lhes diminuam as regalias, lhes afectem as prerrogativas, lhes toquem naquilo que têm como adquirido para todo o sempre. Ninguém vai nisso de lhe cercearem a vidinha. Vendo bem as coisas, exigem do Governo que faça como fez Jardim, gaste sem conta, peso ou medida, e tenha para com eles exactamente a mesma atitude "perdulária".
A tão proclamada "impunidade" com que Alberto João tem agido resulta da permissividade do sistema, da estrutura constitucional, das frouxidão das malhas legais, do papel centrifugamente deletério do Comité das Regiões na União Europeia e das teorias autonómicas, da falta de autoridade dos Governos centrais, dos manobrismos políticos. Para o continente, o círculo é vicioso, porque quem paga somos nós. Mas para os madeirenses é virtuoso, porque acham que, para já, quem fica a lucrar são eles. Na dialéctica Funchal versus Lisboa, Jardim soube encarnar o pólo da identidade regional. Por isso deve ganhar outra vez. A Madeira é o Jardim" (artigo de Vasco Graça Moura, hoje no DN de Lisboa, com a devida vénia)
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