Há cada vez mais a percepção de que a
conciliação entre o desejo de derrube do governo regional do PSD-M, seis meses
depois de eleições regionais que derrotaram sobretudo a esquerda mais à esquerda,
PCP e Bloco, ambos afastados do parlamento regional – mas tenho a convicção de
que regressarão à ALRAM à custa de alguém, que vai perder deputados, desde que
trabalhem para isso, alterando procedimentos, modernizando o discurso e a forma
e método de comunicação com os cidadãos e os eleitores em particular – e um
indisfarçável temor por novas eleições, mostra que a política regional continua
mergulhada, desde os acontecimentos de Janeiro deste ano, num caminho sinuoso
de negações, omissões, hesitações, contradições, hipocrisias, manipulações,
disputas entre partidos e políticos, declarações periféricas dispensáveis
porque idiotas, gestões desastradas de crises políticas que exigiam respostas
políticas céleres e corajosas, que não apareceram, não se percebe porque
motivo.
Depois de uma decisão polémica e
surpreendente – o adiamento da discussão da moção de censura para dar
prioridade ao OR-25 – tenho a percepção, em função das posições assumidas pelos
partidos, que o Orçamento Regional para 2025, da autoria do governo de
Albuquerque, dificilmente encontrará as almofadas eleitorais no parlamento
regional que permitam a sua aprovação.
Caso o OR-2025 não seja aprovado, e com a
moção de censura logo no horizonte, o GRM e Albuquerque terão de encarar mudanças,
deixar de acreditar no imaginário de que nada aconteceu e tomar decisões, por
muito incómodas e até dolorosas que possam ser. Quando se trata de política
séria e a sério, há que estabelecer a diferença entre interesses (e ligações) pessoais
demasiado insignificantes e o que realmente interessa e importa aos cidadãos. O
PSD-M insiste em eleições, admitindo que essa aposta vai correr bem. Uma coisa
é ser o mais votado nas urnas, outra é ter condições parlamentares para
governar. Temo que tudo fique na mesma, mesmo com algumas nuances à esquerda
que nem favorecerão o PSD-M e os seus potenciais aliados. Acredito que não se
debruçaram seriamente sobre a evolução eleitoral dos últimos anos. Se o fizessem,
então o PSD-M teria de assumir uma postura diferente daquela que tem vindo a
ter, num tempo de forte pressão e desgaste, e perante uma sucessão de
acontecimentos inéditos que, de uma forma penosa e lamentável, penalizaram e
enxovalharam perigosamente o partido que reclama ter liderado o processo de
consolidação constitucional da autonomia regional - com todos os seus defeitos
e virtudes.
***
Andou anos a recusar à Ucrânia a autorização para utilizar armamento com maior raio de acção e poder destrutivo por temer que Kiev - em quem não podemos confiar até pelo seu historial de corrupção a todos os níveis - utilizasse essas armas para provocar a Rússia e Putin, com todas as consequências para o Ocidente em termos do escalar do conflito. Biden, tardiamente afastado da corrida presidencial nos EUA, devido ao seu deprimente estado de saúde, a roçar a pré-demência e a uma imagem de fragilidade física perceptivel por todos, menos por ele e pela sua família, acabou por estar na origem da banhada eleitoral dos democratas nas presidenciais, sendo acusado de corresponsabilidade pela derrota de Kamala. Biden abandona o cargo daqui a menos de dois meses e fará cair no esquecimento o seu mandato presidencial, sobretudo nos últimos dois anos. Mas resolveu aprovar a medida absurda, paradoxal e grave, que pode ter consequências graves para o mundo, e que durante mais de 3 anos recusou “dar” à Ucrânia, a autorização para utilizar os tais mísseis de longo alcance contra alvos russos, o que, a acontecer, fará Moscovo entender tratar-se de uma escalada do conflito a outros protagonistas, nomeadamente EUA e NATO, numa guerra que começa a saturar as opiniões públicas europeias (LFM, texto publicado no Tribuna da Madeira, 22.11.2024)
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