domingo, novembro 24, 2024

Opinião: Entender como?

 

Há cada vez mais a percepção de que a conciliação entre o desejo de derrube do governo regional do PSD-M, seis meses depois de eleições regionais que derrotaram sobretudo a esquerda mais à esquerda, PCP e Bloco, ambos afastados do parlamento regional – mas tenho a convicção de que regressarão à ALRAM à custa de alguém, que vai perder deputados, desde que trabalhem para isso, alterando procedimentos, modernizando o discurso e a forma e método de comunicação com os cidadãos e os eleitores em particular – e um indisfarçável temor por novas eleições, mostra que a política regional continua mergulhada, desde os acontecimentos de Janeiro deste ano, num caminho sinuoso de negações, omissões, hesitações, contradições, hipocrisias, manipulações, disputas entre partidos e políticos, declarações periféricas dispensáveis porque idiotas, gestões desastradas de crises políticas que exigiam respostas políticas céleres e corajosas, que não apareceram, não se percebe porque motivo.

Depois de uma decisão polémica e surpreendente – o adiamento da discussão da moção de censura para dar prioridade ao OR-25 – tenho a percepção, em função das posições assumidas pelos partidos, que o Orçamento Regional para 2025, da autoria do governo de Albuquerque, dificilmente encontrará as almofadas eleitorais no parlamento regional que permitam a sua aprovação.

Caso o OR-2025 não seja aprovado, e com a moção de censura logo no horizonte, o GRM e Albuquerque terão de encarar mudanças, deixar de acreditar no imaginário de que nada aconteceu e tomar decisões, por muito incómodas e até dolorosas que possam ser. Quando se trata de política séria e a sério, há que estabelecer a diferença entre interesses (e ligações) pessoais demasiado insignificantes e o que realmente interessa e importa aos cidadãos. O PSD-M insiste em eleições, admitindo que essa aposta vai correr bem. Uma coisa é ser o mais votado nas urnas, outra é ter condições parlamentares para governar. Temo que tudo fique na mesma, mesmo com algumas nuances à esquerda que nem favorecerão o PSD-M e os seus potenciais aliados. Acredito que não se debruçaram seriamente sobre a evolução eleitoral dos últimos anos. Se o fizessem, então o PSD-M teria de assumir uma postura diferente daquela que tem vindo a ter, num tempo de forte pressão e desgaste, e perante uma sucessão de acontecimentos inéditos que, de uma forma penosa e lamentável, penalizaram e enxovalharam perigosamente o partido que reclama ter liderado o processo de consolidação constitucional da autonomia regional - com todos os seus defeitos e virtudes.

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Andou anos a recusar à Ucrânia a autorização para utilizar armamento com maior raio de acção e poder destrutivo por temer que Kiev - em quem não podemos confiar até pelo seu historial de corrupção a todos os níveis - utilizasse essas armas para provocar a Rússia e Putin, com todas as consequências para o Ocidente em termos do escalar do conflito. Biden, tardiamente afastado da corrida presidencial nos EUA, devido ao seu deprimente estado de saúde, a roçar a pré-demência e a uma imagem de fragilidade física perceptivel por todos, menos por ele e pela sua família, acabou por estar na origem da banhada eleitoral dos democratas nas presidenciais, sendo acusado de corresponsabilidade pela derrota de Kamala. Biden abandona o cargo daqui a menos de dois meses e fará cair no esquecimento o seu mandato presidencial, sobretudo nos últimos dois anos. Mas resolveu aprovar a medida absurda, paradoxal e grave, que pode ter consequências graves para o mundo, e que durante mais de 3 anos recusou “dar” à Ucrânia, a autorização para utilizar os tais mísseis de longo alcance contra alvos russos, o que, a acontecer, fará Moscovo entender tratar-se de uma escalada do conflito a outros protagonistas, nomeadamente EUA e NATO, numa guerra que começa a saturar as opiniões públicas europeias (LFM, texto publicado no Tribuna da Madeira, 22.11.2024)

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